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Por O Globo, El País — PEQUIM


Wang Yi, chanceler chinês, durante entrevista coletiva em Honiara, nas Ilhas Salomão  — Foto: AFP
Wang Yi, chanceler chinês, durante entrevista coletiva em Honiara, nas Ilhas Salomão — Foto: AFP

A China disse nesta sexta-feira ter se sentido “caluniada” pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, que na véspera classificou Pequim como o maior risco para a ordem internacional vigente. O imbróglio vem em meio ao acirramento da disputa sino-americana por influência no Pacífico Sul, com os chineses negociando novos acordos estratégicos que buscam atrair as ilhas da região para sua órbita.

A fala de Blinken “difunde informações falsas, exagera a ameaça chinesa, interfere com os assuntos internos chineses e calunia as políticas internas e internacionais”, disse o porta-voz da Chancelaria chinesa, Wang Webin. Segundo ele, o objetivo de Washington é “frear e bloquear o desenvolvimento da China e manter a hegemonia e o poderio dos Estados Unidos”.

No discurso de quinta, que apresentou o plano da Casa Branca para fazer frente à ascensão de Pequim, o secretário de Estado acusou a China de ser o único país com intenção e “poderio econômico, militar, diplomático e tecnológico” para alterar a ordem global. Sob o comando do presidente Xi Jinping, acusou Blinken, o “Partido Comunista se tornou mais repressivo em casa e mais agressivo no exterior”.

Sem novidades, as declarações do democrata vieram na mesma semana da visita inaugural de Biden à Ásia, com passagens pelo Japão e pela Coreia do Sul. Coincidiram também com a viagem de dez dias do chanceler chinês, Wang Yi, por oito ilhas do Pacífico Sul. A tour, que teve sua largada na quinta em Honiara, nas Ilhas Salomão, sinaliza o papel estratégico destas pequenas nações para Washington e Pequim.

Em disputa por influência, China aposta no envio de autoridades para visitas nas ilhas do Pacífico — Foto: Arte O Globo
Em disputa por influência, China aposta no envio de autoridades para visitas nas ilhas do Pacífico — Foto: Arte O Globo

As ilhas tropicais ganharam destaque no noticiário após as Ilhas Salomão, um arquipélago com território equivalente ao do Alagoas, firmarem no mês passado um acordo de segurança e cooperação com a China. Negociado em segredo, o pacto causou alarme nos Estados Unidos e em seus principais aliados regionais, a Austrália e a Nova Zelândia.

Os termos finais do acordo não foram confirmados, mas versões prévias indicam que ele deve permitir à China atracar navios militares nas Ilhas e enviar soldados para treinar a policiais e manter a ordem, caso solicitados pelas autoridades locais. Os signatários negam que este seja o caso, mas os EUA e seus aliados temem que o pacto culmine na instalação de uma base militar chinesa na região, chave para as vitas rotas marítimas que cruzam o Pacífico Sul.

A viagem de Wang marca a continuação da estratégia chinesa, com uma crescente atividade diplomática e econômica na área que se intensificou após Austrália, Reino Unido e EUA firmaram, em setembro do ano passado, o pacto conhecido como Aukus. Ele prevê uma série de colaborações diplomáticas e tecnológicas, mas seu ponto central é a cessão de tecnologia para que a Austrália possa contar com uma frota de submarinos de propulsão nuclear.

Ao desembarcar em Honiara na quinta, Wang disse esperar que as relações com as Ilhas Salomão sirvam de exemplo para as nações vizinhas. Nesta sexta, ele chegou em Kiribati — com quem, segundo o Financial Times, prepara um acordo bilateral. A ilha fica a cerca de 3 mil quilômetros do estado americano do Havaí.

No dia 30, o chanceler se encontrará em Fiji com dez ministros do Exterior da região para apresentar um plano de cooperação, a Visão de Desenvolvimento Conjunto da China e das Nações Insulares do Pacífico. Segundo um rascunho ao qual a agência Reuters teve acesso, o documento conterá um plano de ação de cinco anos cobrindo áreas de segurança, comunicação e comércio, além de milhões de dólares em assistência.

O pacto diz que a China e as ilhas irão “fortalecer as trocas e cooperação nos campos de segurança tradicional e não tradicional” e que Pequim irá realizar “treinamento intermediário e de alto nível” para as polícias locais. Ele também promete cooperação com redes de dados e cibersegurança, por exemplo, e projeta a criação de uma futura área de livre-comércio.

Outro ponto destacado é a cooperação no combate às mudanças climáticas — várias destas ilhas correm o risco de desaparecer devido ao aquecimento global e encabeçam a cobrança por mais ação internacional. Em troca, o acordo daria a Pequim acesso a recursos naturais, mais influência regional e abriria um novo mercado para o 5G da gigante das telecomunicações Huawei.

Um pacto desta magnitude, se confirmado, representaria um foco da política chinesa para o Pacífico Sul, que até então priorizava iniciativas bilaterais. A China busca tirar vantagem das frustrações históricas de muitas destas nações com os EUA e seus aliados, que respondem tentando manter as nações insulares alinhadas.

As estratégias de Washington se intensificaram nas últimas semanas: nesta sexta, os americanos anunciaram que Fiji será a primeira ilha do Pacífico a se juntar ao Quadro Econômico Indo-Pacífico para a Prosperidade (Ipef, em inglês). Lançada no início da semana para impulsionar o envolvimento americano na região, a iniciativa econômica é a mais significativa desde que o então presidente Donald Trump retirou os EUA da Parceria Transpacífica, em 2017.

Questionado sobre a adesão de Fiji, Weibin, o porta-voz da Chancelaria chinesa, disse que a região não deve se tornar “um tabuleiro de xadrez geopolítico”.

Na terça, os países do Quad, o Diálogo de Segurança Quadrilateral — EUA, Austrália, Índia e Japão —, anunciaram após sua reunião de terça uma iniciativa para responder a desastres humanitários e combater a pesca ilegal no Indo-Pacífico. O governo do novo premier australiano, Anthony Albanese, empossado na segunda, por sua vez, reafirmou que seu país valoriza as parcerias regionais:

— Queremos mostrar à sua nação e a outras nações da região que somos um parceiro confiável — disse a nova chanceler, Penny Wong, em Fiji, após expressar publicamente a “preocupação” de Canberra com o acordo firmado entre Pequim e as Ilhas Salomão. — Queremos trabalhar com vocês em suas prioridades. Queremos trabalhar juntos como parte da família do Pacífico.

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