Mundo
PUBLICIDADE

Por O GLOBO Com Agências Internacionais


Membros da minoria muçulmana uigur apresentam fotos de seus parentes detidos na China durante uma entrevista coletiva em Istambul, em 10 de maio de 2022. A comunidade uigure da Turquia instou a chefe de Direitos Humanos da ONU a investigar os chamados "campos de reeducação" durante visita à China este mês, incluindo Xinjiang — Foto: Ozan KOSE / AFP
Membros da minoria muçulmana uigur apresentam fotos de seus parentes detidos na China durante uma entrevista coletiva em Istambul, em 10 de maio de 2022. A comunidade uigure da Turquia instou a chefe de Direitos Humanos da ONU a investigar os chamados "campos de reeducação" durante visita à China este mês, incluindo Xinjiang — Foto: Ozan KOSE / AFP

Um grande vazamento de dados supostamente da polícia chinesa, que inclui milhares de fotos de mulheres, crianças e idosos detidos, lança luz sobre a difícil situação dos uigures na região de Xinjiang. Os documentos foram publicados nesta terça-feira por um grupo de 14 veículos de comunicação internacionais, coincidindo com a visita da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, a esta região do Noroeste da China.

Eles foram entregues por uma fonte anônima por meio de sofisticadas operações de hackeamento de sistemas ao investigador alemão Adrian Zenz, o primeiro que acusou, em 2018, o governo chinês de ter internado mais de um milhão de uigures em centros de reeducação política.

Os documentos foram verificados pelo grupo de jornalistas, incluindo a rede britânica BBC e o jornal espanhol El País, bem como a existência de três centros de reeducação dos quais os arquivos foram obtidos, graças a um processo de geolocalização baseado nas fotografias tiradas pelos agentes.

Sob o título de “Os arquivos da polícia de Xinjiang”, os documentos permitem a identificação dos reclusos nos centros de detenção construídos pela China; a classificação das acusações, além de mostrar, por meio de imagens, as práticas de maus-tratos no interior das instalações.

De acordo com Zenz, em entrevista ao El País, o confinamento de uigures em campos de reeducação é o “maior internamento de uma minoria étnica religiosa desde o Holocausto”.

Pequim rejeita e classifica as acusações de Zenz como “a mentira do século”.

Após a publicação dos documentos, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, respondeu ao vazamento afirmando que “não é nada mais do que a repetição de um velho truque”.

— Espalhar rumores e mentiras não vai enganar o mundo, nem pode encobrir o fato de que Xinjiang goza de estabilidade e prosperidade, e seus moradores desfrutam de uma vida feliz e gratificante — disse.

A China afirma que esses lugares são, na verdade, “centros de treinamento profissional” para “desradicalizar” pessoas tentadas pelo islamismo ou pelo separatismo após uma série de atentados que afetaram a região. Ainda segundo o governo chinês, os campos foram fechados no fim de 2019 e todos os internos "se formaram" com habilidades para conseguir empregos com a ajuda do Estado.

'Pensamentos extremistas'

Entre os mais de 5 mil registros divulgados, havia cerca de 2.800 fotos que identificam os detidos. Segundo o El País, a maior parte dos internados tem menos de 30 anos (69%), num total de 2.001 cidadãos. Os homens também predominam, 2.490 (86%), em relação às mulheres, 394 (14%).

Entre os registros, estão os de Zeytunigul Ablehet, uma adolescente de 17 anos detida por ter ouvido um discurso proibido, e de Bilal Qasim, 16 anos, supostamente condenado pela sua relação com outros prisioneiros. Anihan Hamit, de 73 anos no momento de sua detenção, é a mais velha da lista.

Nas fotografias, os internos são deslocados de um lugar para outro encapuzados e com algemas nos pulsos. Há oficiais armados com paus, fuzis de assalto e equipamentos anti-motim. Os interrogatórios, segundo o rolo de fotos tiradas de um dos centros de detenção, acontecem nas chamadas “cadeiras de tigre”, que fazem parte do repertório de instrumentos usados para tortura na China, segundo a ONG Human Rights Watch.

Ao contrário do que é exposto publicamente por Pequim, a atuação dos agentes dentro das instalações, suas armas e o tratamento aos internos estão longe do que se espera de um centro de formação profissional.

Documentos escritos comprovam, por sua vez, a tese de uma repressão ordenada pelas mais altas esferas do Estado chinês. Em um discurso de 2017, Chen Quanguo, então chefe da região, ordenou aos guardas matar a tiros aqueles que tentarem fugir e “vigiar de perto os fiéis”.

Outro discurso, atribuído ao ministro da Polícia Zhao Kezhi, em 2018 diz, por exemplo, que o presidente Xi Jinping ordenou a expansão dos centros de detenção. Segundo Zhao, ao menos dois milhões de habitantes do sul de Xinjiang estariam “seriamente influenciados pela infiltração do pensamento extremista”.

Os uigures representam cerca de metade da população de Xinjiang (26 milhões de habitantes).

‘Investigação transparente’

A chefe da diplomacia alemã pediu “esclarecimentos” a seu colega chinês nesta terça-feira após as revelações sobre a repressão à minoria muçulmana, disse o Ministério das Relações Exteriores.

“O ministro das Relações Exteriores fez referência aos relatórios escandalosos e novos documentos sobre graves violações de direitos humanos em Xinjiang e solicitou esclarecimentos sobre essas alegações”, afirma o comunicado, após uma entrevista por videoconferência entre Annalena Baerbock e seu colega chinês Wang Yi.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

BepiColombo, uma missão conjunta europeia e japonesa, concluiu seu último sobrevoo por Mercúrio, enviando uma prévia do planeta cheio de crateras que começará a orbitar em 2026

Novas imagens mostram a superfície de Mercúrio como nunca vista antes;  veja com detalhes nítidos

Supremo Tribunal Federal reservou três semanas para ouvir 85 testemunhas de defesa de cinco réus, sendo que algumas são as mesmas, como os delegados Giniton Lages e Daniel Rosa, que investigaram o caso

Caso Marielle: audiência da ação penal contra irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa será retomada hoje pelo STF

A decisão do candidato da oposição de deixar a Venezuela por temer pela sua vida e pela da sua família ocorreu depois de ter sido processado pelo Ministério Público por cinco crimes relacionados com a sua função eleitoral

Saiba como foi a fuga de Edmundo González, candidato de oposição da Venezuela ameaçado por Nicolás Maduro

Cidade contabiliza 21 casos desde 2022; prefeitura destaca cuidados necessários

Mpox em Niterói: secretária de Saúde diz que doença está sob controle

Esteve por lá Faisal Bin Khalid, da casa real da Arábia Saudita

Um príncipe árabe se esbaldou na loja da brasileira Granado em Paris

Escolhe o que beber pela qualidade de calorias ou pelo açúcar? Compare a cerveja e o refrigerante

Qual bebida tem mais açúcar: refrigerante ou cerveja?

Ex-jogadores Stephen Gostkowski e Malcolm Butler estiveram em São Paulo no fim de semana e, em entrevista exclusiva ao GLOBO, contaram como foi o contato com os torcedores do país

Lendas dos Patriots se surpreendem com carinho dos brasileiros pela NFL: 'Falamos a língua do futebol americano'

Karen Dunn tem treinado candidatos democratas à Presidência desde 2008, e seus métodos foram descritos por uma de suas 'alunas', Hillary Clinton, como 'amor bruto'

Uma advogada sem medo de dizer verdades duras aos políticos: conheça a preparadora de debates de Kamala Harris