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Por Bernardo de Miguel, El País — Madri

A renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi, posta em marcha por seus próprios aliados da coalizão, ocorre em um momento de enorme tensão geoestratégica entre a União Europeia e a Rússia. Em Bruxelas, a capital do bloco, receia-se que a Itália, terceira maior economia da zona do euro, se torne um ponto vulnerável na estratégia unificada contra Moscou, ou, no pior dos casos, um cavalo de Troia a serviço do presidente russo, Vladimir Putin .

A participação na derrubada de Draghi do Força Itália, um integrante do Partido Popular Europeu, a mesma legenda transeuropeia ao qual pertencem a presidente da Comissão Europeia e o presidente do Parlamento Europeu, causou estupor nas fileiras socialistas no Parlamento Europeu.

— É um desastre para a Itália, mas também para a Europa, e tudo isso com a cumplicidade do Partido Popular Europeu — acusou o eurodeputado Iratxe García, líder do grupo parlamentar socialista.

Bruxelas teve em Draghi um fiel guardião da ortodoxia política e econômica. E o ex-presidente do Banco Central Europeu tem contado com a confiança de Berlim e Paris, que sempre o viram como referência, principalmente em questões econômicas. Sua presença à frente do governo italiano também ofereceu uma certa garantia de execução do plano de recuperação e das profundas reformas necessárias em troca de € 191,4 bilhões (R$ 1,07 trilhão) em subsídios e empréstimos.

Roma já havia conseguido, sob o mandato de Draghi, a entrega de uma primeira parcela de € 21 bilhões. E no mês passado, ele solicitou a segunda, do mesmo montante. A queda do governo pode deixar no ar o cumprimento das condições incluídas no plano de recuperação. A tarefa pendente é enorme, porque a Itália só cumpriu até agora 10% dos marcos e objetivos acordados com Bruxelas, em comparação com 13% na Espanha (que já obteve a luz verde para o segundo pagamento) ou 22% na França (que está prestes a receber a primeira parcela).

Além da preocupação com a estabilidade econômica da Itália, há também a preocupação crescente em Bruxelas com os laços estreitos de grande parte da classe política italiana com o Kremlin. Os dois partidos com maior participação na queda de Draghi, a Liga e o Movimento 5 Estrelas (M5S), têm sido tradicionalmente simpáticos às políticas de Vladimir Putin.

Salvini chegou a preparar uma viagem a Moscou em plena guerra, que não pôde ser realizada. E aquele que era líder do M5S e até recentemente ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, deixou a formação em junho devido à oposição das bases ao envio de armas à Ucrânia para se defender da invasão russa.

Fontes diplomáticas europeias vêm apontando há semanas que a Itália também está se tornando a porta de entrada para a ideia de que as sanções europeias contra o Kremlin são um dano autoinfligido à economia europeia que não afeta o poder de fogo russo.

A Itália é vista em Bruxelas como o mais frágil calcanhar de Aquiles da unidade da UE na resistência contra Putin. Sem usinas nucleares nem carvão, o país transalpino tem uma dependência energética externa de mais de 70%, e os hidrocarbonetos russos cobrem mais de um quinto de seu consumo total de energia. A Itália importa quase 93% do gás natural consumido, um percentual superior ao da Alemanha, e esse combustível responde por 45% do consumo de energia do país.

Bruxelas teme que a opinião pública em países como Itália ou Hungria se volte contra sanções à Rússia se a guerra na Ucrânia se prolongar e Moscou cortar o fornecimento de gás em retaliação às sanções europeias. Uma pesquisa recente do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) já mostrou em junho que a Itália é o país da UE com menor apoio à Ucrânia. Apenas 56% dos italianos, segundo a pesquisa, consideram a Rússia culpada pela guerra, em comparação com 80% da média europeia.

Apesar de sua opinião pública, Draghi se colocou na vanguarda das iniciativas para enfrentar o Kremlin e foi o primeiro líder de um grande país, à frente da Alemanha, França ou Espanha, que apoiou inequivocamente o pedido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, para que seu país fosse reconhecido como candidato à admissão na União Europeia. A queda de Draghi deixa Bruxelas sem apoio e Kiev sem um aliado valioso.

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