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Por O Globo — Roma

O governo de unidade da Itália está prestes a ser desfeito nesta quarta-feira, depois que o primeiro-ministro do país, Mario Draghi, foi abandonado por partidos da coalizão durante um voto de confiança no Senado.

À frente nas pesquisas para as próximas eleições gerais, dois partidos de direita, a Força Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini, se recusaram a votar a moção, deixando a plenária. Já o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) declarou-se "presente e não votante" — isto é, se absteve —, permitindo assim que houvesse quórum para o voto prosseguir.

Dos 315 senadores italianos, apenas 133 estiveram presentes. Destes, 98 endossaram Draghi, mas o apoio minoritário não resolveu a crise, pois o premier já deixara claro que só ficaria no governo se tivesse um amplo mandato.

Draghi deixou o Senado antes mesmo do fim da sessão, e a imprensa italiana chegou a anunciar que ele iria diretamente para o Palácio do Quirinal, sede da Presidência da República, oficializar sua renúncia. Isso, contudo, não aconteceu.

Segundo a imprensa local, o premier espera para ver como será a votação na Câmara, onde deve fazer mais um discurso durante o debate de amanhã. Salvo uma reviravolta inesperada, seguirá então para apresentar sua renúncia ao presidente Sergio Mattarella.

Não há outra alternativa porque, sem Força Itália, Liga e M5S , Draghi perde a maioria. Formado há 17 meses, o governo italiano é composta por todas as principais siglas do país, com exceção da ultradireitista Irmãos de Itália.

Antes da votação desta quarta, os dois partidos de direita se disseram dispostos a ficar no governo, contanto que o MS5 saísse e fosse formada uma nova coalizão. "Os partidos de centro-direita querem um 'novo pacto' de governo e vão contribuir para a solução dos problemas do país, mas só com um novo Executivo, profundamente renovado, liderado igualmente por Draghi e sem o o Movimento 5 Estrelas", disseram em nota.

A exigência entrava em choque direto com uma demanda do próprio premier no Senado mais cedo. Em discurso, Draghi deu sinais de que pretendia permanecer no cargo, após cinco dias de crise e de apresentar na semana passada uma renúncia que não foi aceita por Mattarella.

Para isso, no entanto, impôs como condição que os partidos da coalizão governista se alinhassem às suas propostas. Draghi afirmou que a Itália precisa de um “governo forte e coeso”, sustentado por “um acordo de confiança sincero e concreto”.

— A única maneira de continuarmos juntos é reconstruir esse pacto do zero, com coragem, altruísmo, credibilidade. O povo italiano, em particular, está pedindo isso — disse ele.

Ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o tecnocrata Draghi disse que foi convidado a liderar um governo para enfrentar a pandemia, bem como emergências econômicas e sociais. O amplo apoio permitiu que seu governo agisse rapidamente e aprovasse reformas, acrescentou.

— Acho que um primeiro-ministro que nunca enfrentou eleitores precisa do apoio mais amplo possível no Parlamento — disse Draghi, em alusão à sua condição de nunca ter sido eleito parlamentar.

Confirmada a renúncia, Mattarella pode convidar os partidos a tentarem formar um novo governo até o final da atual Legislatura, no final do primeiro semestre do ano que vem, ou então convocar eleições gerais antecipadas. As datas prováveis para o pleito, caso seja esta a opção, são 25 de setembro ou 2 de outubro.

Os motivos para o afastamento do premier são diferentes: a Liga e a Força Itália têm esperança de que, caso haja eleições neste ano, possam chegar ao poder. Já o M5S perdeu influência na política, e busca reconstruir sua identidade, com clamores públicos por maiores gastos sociais.

A crise foi deflagrada na quinta-feira da semana passada, quando o M5S se absteve de votar a favor de um pacote de gastos proposto pelo governo, alegando não ser generoso o bastante. Draghi então apresentou sua renúncia a Mattarella, mas este a recusou, convidando-o a realizar uma consulta com os partidos da base — isto é, a votação do Senado nesta quarta-feira e na Câmara amanhã.

Nos últimos dias, houve uma série de clamores públicos pela permanência de Draghi, em um momento em que a Itália enfrenta forte inflação, a perspectiva de uma recessão na Europa, a necessidade de aprovar reformas para ter acesso ao fundo da União Europeia de € 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) para a retomada pós-pandemia e um cenário regional e internacional complexo com a guerra na Ucrânia.

Mais de mil prefeitos, incluindo os administradores dos 10 principais centros urbanos, assinaram uma petição pela permanência do premier, assim como o fizeram grupos de categorias profissionais. Houve também manifestações pela continuidade do governo nas principais cidades italianas, ações incomuns em um país onde a rotatividade na política tem sido alta.

O fim do governo insere uma alta dose de incerteza na política italiana, e sua repercussão foi imediata. A ministra dos Assuntos Regionais, Mariastella Gemini, anunciou sua saída imediata do Força Itália. Já o ministro do Exterior, Luigi Di Maio, que discordou da decisão de seus colegas do M5S, afirmou que o dia de hoje significa "uma página sombria para a Itália".

"A política falhou, diante de uma emergência a resposta foi a de não saber assumir a responsabilidade de governar. O futuro dos italianos foi usado como em um jogo. Os efeitos dessa escolha trágica permanecerão na História", escreveu no Twitter.

O último político italiano a conquistar um claro mandato nas urnas, sem exigir a formação de uma coalizão, foi Silvio Berlusconi, em 2008.

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