O Papa Francisco deu início, neste domingo, a uma “peregrinação penitencial” ao Canadá, na qual pedirá perdão aos indígenas pelos abusos cometidos em um sistema de internatos, alguns deles administrados pela Igreja Católica. Segundo estimativas, mais de seis mil crianças morreram nesses locais, vítimas de abusos e negligência dos responsáveis.
Na chegada ao aeroporto de Edmonton, na província de Alberta, o pontífice foi recebido pelo premier Justin Trudeau e pela governadora-geral Mary Simon, representante da Rainha Elizabeth II no país e a primeira indígena a ocupar o posto. Antes do embarque, ele mandou uma mensagem aos canadenses, sinalizando que esta será uma “jornada de reconciliação”.
“Caros irmãos e irmãs do Canadá, eu venho até vocês para me encontrar com os povos indígenas. Espero, com a graça de Deus, que minha peregrinação penitencial possa contribuir para a jornada de reconciliação que já está em andamento. Por favor, me acompanhem em orações”, escreveu Francisco no Twitter.
O debate sobre o impacto dessas escolas sobre os povos indígenas canadenses é tema recorrente no país nas últimas décadas: os internatos eram obrigatórios para os jovens dos povos originários e faziam parte de uma estratégia de assimilação forçada, na qual os alunos eram afastados de suas famílias, idiomas e culturas, e sofriam todo tipo de abuso, incluindo estupros.
Estima-se que até 150 mil crianças e jovens tenham frequentado esses internatos entre as décadas de 1880 e 1990, e a Comissão da Verdade e Reconciliação apontou que até seis mil alunos teriam morrido. Os locais recebiam verba do Estado para funcionar, e 70% deles eram administrados pela Igreja Católica — a última dessas escolas fechou em 1996.
Em abril, o Papa fez um pedido de desculpas a lideranças indígenas no Vaticano, dizendo sentir “dor e vergonha pelo papel que muitos católicos” tiveram nos abusos cometidos ao longo das décadas em que as escolas estiveram em funcionamento.
Missas e reuniões
Depois de repousar neste domingo, Francisco visitará na segunda-feira o local onde funcionava uma dessas escolas residenciais, nos arredores de Edmonton e deve fazer suas primeiras declarações públicas em solo canadenese. Ele também vai se reunir com lideranças indígenas, mas alguns veem o gesto como muito aquém do necessário para ajudar a curar as antigas feridas.
— Para mim, [o pedido de desculpas] chega tarde demais, porque muita gente sofreu — disse à AFP Linda McGilvery, que passou oito anos de sua infância em uma dessas escolas. — Perdi muito da minha cultura, da minha ascendência.
Depois da visita à antiga escola, Francisco celebrará uma missa na Igreja do Sagrado Coração dos Primeiros Povos, onde são esperadas 1,3 mil pessoas. Na terça, o papa realizará uma missa campal em um estádio de Edmonton, com expectativa de mais de 65 mil fiéis na plateia e participa de uma peregrinação anual no Lago Sainte-Anne, que terá a participação de antigos alunos dos internatos.
Na quarta-feira, ele atravessa o Canadá em direção à cidade de Québec, onde se reúne com Trudeau e Mary Simon, e é esperado um pronunciamento conjunto. No dia seguinte, ele celebra uma missa no Santuário de Sainte-Anne-de-Beaupré. A última parte da viagem, na sexta-feira, prevê uma visita a Iqaluit, capital do território de Nunavut, e o retorno a Roma em seguida.
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