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Por André Duchiade

Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, realizaram uma cúpula por videoconferência nesta quinta-feira motivada pelo aumento de tensões envolvendo a ilha de Taiwan, que Pequim considera parte integral de seu território. A mais recente crise foi provocada pela notícia de que a presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, pretende visitar Taiwan, na primeira viagem de alguém em seu cargo à ilha em 25 anos. Os planos enfureceram Pequim, e levaram Xi a fazer uma forte advertência a Biden na conversa de hoje, segundo informou o governo chinês.

Nesta semana, a Chancelaria chinesa já havia advertido para "graves consequências" se a visita ocorrer. Durante a reunião de 2h17 de duração, Xi subiu o tom e repetiu a ameaça diretamente a Biden. De acordo com o comunicado de Pequim, as conversas foram "sinceras e profundas", e o líder chinês disse ao homólogo americano se “opor firmemente ao separatismo, e à ‘independência de Taiwan’ [aspas no original] e à interferência de forças externas”.

— Nunca permitiremos qualquer forma de espaço para as forças da "independência de Taiwan". A posição do governo chinês e do povo chinês sobre a questão de Taiwan tem sido consistente — afirmou Xi a Biden, segundo a agência estatal chinesa Xinhua. — A opinião pública não pode ser violada. Se brincar com fogo, vai se queimar. Espero que o lado dos EUA possa ver isso claramente.

O tom do líder chinês se insere em um contexto de crescente rivalidade em torno de Taiwan. Por um lado, a China aumentou a sua presença militar no estreito que separa a ilha do continente, alimentando especulações de que possa estar reunindo forças para eventualmente lançar uma invasão e reintegrar o território pela via militar.

Biden, por sua vez, declarou em maio que os EUA apoiariam Taiwan “militarmente” no caso de um ataque chinês, o que significaria uma mudança da política americana para a ilha. O governo americano precisou voltar atrás da afirmação.

A situação na qual o presidente americano — que já disse a repórteres não achar a visita de Pelosi "uma boa ideia" — chegou à reunião, portanto, foi delicada: sem poder parecer fraco perante Xi, mas tampouco tendo a opção de dar a entender que Washington irá rever seu compromisso com o princípio de "uma só China", o que poderia instigar uma resposta agressiva de Pequim.

Muito mais sucinta do que o comunicado chinês, a declaração americana pós-encontro exprime esse difícil equilíbrio, reafirmando a manutenção da situação atual, sem dar sinais de fraqueza nem entrar em minúcias: "Sobre Taiwan, o presidente Biden ressaltou que a política dos Estados Unidos não mudou e que os Estados Unidos se opõem fortemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan", diz a nota da Casa Branca.

De forma mais clara, a nota chinesa diz que Xi ouviu de Biden "que a política de uma só China dos EUA não mudou e não mudará, e os EUA não apoiam a 'independência' de Taiwan".

Encontro presencial

A China tem como meta reunificar o território de Taiwan com o continente, um objetivo do Partido Comunista desde que os nacionalistas fugiram para ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Xi recordou estes fundamentos históricos a Biden, e disse ao líder americano, segundo o comunicado, que "o princípio de uma só China é a base política das relações sino-americanas".

Washington, por outro lado, embora tenha se comprometido com o princípio ao reatar relações com Pequim em 1979, mantém o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornece ajuda militar à ilha. Aos EUA não interessa uma reunificação que dê à China o controle do Estreito de Taiwan, importante via de navegação na Ásia.

Realizada, segundo Pequim, a convite da Casa Branca, a conversa virtual foi a quinta entre os dois líderes desde que Biden assumiu e a primeira desde março. O presidente americano, que adota uma linha agressiva contra Pequim em vários domínios, mesmo assim deseja manter abertos canais de diálogo com a liderança chinesa.

Dentro dessa lógica, uma autoridade americana informou à imprensa que Xi e Biden concordaram com a importância de se reunirem "cara a cara" em uma primeira cúpula presencial, e encarregaram suas equipes de encontrar um "momento apropriado". O presidente chinês não saiu da China desde o início da pandemia da Covid-19, no final de 2019.

Na quarta-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, disse que na ligação Biden reafirmaria o compromisso do país com a política que reconhece Pequim como o “único governo legal da China”. Kirby acrescentou que os EUA preferem que Taiwan e a China resolvam quaisquer disputas por conta própria.

— O principal é que o presidente quer garantir que as linhas de comunicação com o presidente Xi permaneçam abertas, porque isso é necessário — disse Kirby. — Há questões em que podemos cooperar com a China e há questões em que obviamente há atrito e tensão.

Nancy Pelosi, por sua vez, se recusa a discutir sua agenda de viagens, citando preocupações de segurança, e não houve anúncio oficial de que ela planeja de fato visitar Taiwan em agosto, como informou o Financial Times na semana passada.

Insatisfação com rivalidade

Além de abordar a situação de Taiwan, que foi o principal item da agenda, o líder chinês também tratou da rivalidade entre os dois países, mais uma vez manifestando insatisfação com a política de "competição estratégica" de Washington.

— Ver e definir as relações sino-americanas de uma perspectiva de competição estratégica, e considerar a China como o oponente mais importante e o mais severo desafio de longo prazo, é um erro de julgamento das relações sino-americanas e uma interpretação errônea das relações chinesas. Isto prejudicará o desenvolvimento dos povos dos dois países e a paz — afirmou Xi a Biden, segundo o comunicado chinês.

Esperava-se que Biden pudesse anunciar a suspensão de parte das tarifas impostas às exportações de Pequim por Donald Trump durante seu governo, como medida para conter a inflação, mas a expectativa não se confirmou.

Sobre economia, a nota chinesa diz apenas que Pequim entende que os dois países "devem manter-se em comunicação sobre questões importantes, como a coordenação de políticas macroeconômicas, a manutenção da estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais e a proteção da segurança energética e alimentar global".

Já a nota americana se limita a dizer fora do tema Taiwan que "os dois presidentes discutiram uma série de questões importantes para o relacionamento bilateral e outras questões regionais e globais, e encarregaram suas equipes de continuarem acompanhando a conversa de hoje, em particular para abordar as mudanças climáticas e a segurança da saúde".

Na Conferência do Clima da ONU de Glasgow, em novembro do ano passado, foi anunciada a criação de um grupo de trabalho bilateral sobre o clima entre as duas superpotências. Desde então, não houve grandes informações divulgadas sobre avanços da iniciativa .

Tema da última cúpula entre os dois presidentes, a guerra na Ucrânia é mencionada só muito brevemente no comunicado chinês, que se limita a dizer que "Xi reiterou a posição de princípios da China".

Porta-aviões faz patrulha

Em meio ao diálogo e às tensões, um porta-aviões e uma fragata dos EUA fizeram exercícios militares no Mar do Sul da China. O USS Ronald Reagan, um super porta-aviões movido a energia nuclear da classe Nimitz, adentrou em águas disputadas pela China e países vizinhos após uma escala de cinco dias em Cingapura, disse a 7ª Frota dos EUA.

A 7ª Frota, que fica baseada no Japão, se recusou a dizer para onde o porta-aviões estava indo, mas comunicou à Bloomberg que a embarcação realiza uma patrulha de rotina. Os exercícios durante a patrulha incluem operações de voo com aeronaves de asa fixa e rotativa, exercícios de ataque marítimo e treinamento tático coordenado entre unidades de superfície e aéreas.

"O Reagan continua as operações normais e programadas como parte de sua patrulha de rotina em apoio a um Indo-Pacífico livre e aberto", disse em nota o comandante Hayley Sims, oficial de relações públicas da 7ª Frota, usando a expressão americana para se referir a sua oposição às reivindicações territoriais chinesas na região.

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