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Por O GLOBO, The New York Times — URUMQI, China

O presidente da China, Xi Jinping, fez na terça e na quarta-feiras sua primeira visita à província de Xinjiang em oito anos, desde que a campanha de detenção em massa de minorias muçulmanas, sobretudo da etnia uigur, teve seu início. A viagem para a região fronteiriça com a Ásia Central, no Noroeste do país, é uma proclamação de vitória contra as denúncias de perseguição sistemática e atrocidades que, há anos, estremecem as relações entre Pequim e o Ocidente.

A visita de Xi, que só foi noticiada na noite de quinta, teve como objetivo projetar que a região se tornou mais unida e estável sob sua liderança. Nos últimos anos, multiplicaram-se as acusações contra seu governo de prisões arbitrárias, pessoas enviadas a campos de reeducação, repressão a práticas religiosas e uma campanha para minar o legado cultural por meio da assimilação forçada.

Os americanos, parte dos europeus e algumas organizações defensoras dos direitos humanos dizem que os abusos constituem “genocídios” e “crimes lesa-Humanidade” sob o disfarce de um campanha antiterrorismo. Os chineses, por sua vez, dizem que as acusações são a “mentira do século” e acusam os americanos de não cuidarem de seus próprios problemas.

— A civilização chinesa é profunda e antiga, indo ao passado distante, e é formada pela convergência de tradições espetaculares de vários grupos étnicos — disse Xi após assistir a uma apresentação musical da minoria étnica quirguiz durante uma visita a um museu, pedindo a “melhor preservação” das heranças culturais.

O presidente, nesta sexta, fez uma “inspeção” da capital provincial, Urumqi, onde defendeu o “fortalecimento das organizações do Partido Comunista” e ofereceu serviços para “o benefício de todos os grupos étnicos”, segundo a agência de notícias Xinhua. A região é lar de 25 milhões de pessoas — cerca de 60% das quais fazem parte de minorias muçulmanas, principalmente uigures.

Para o professor James Millward, professor de História na Universidade Georgetown, em Washington, os comentários de Xi sobre a diversidade étnica simbolizam um “apagamento pela inclusão”. As falas, disse ele à Bloomberg, são “tentativas claras de responder às críticas internacionais e evidências volumosas sobre as políticas de assimilação do regime”.

— Enquanto isso, os tratores demoliram tempos e mesquitas, a fé religiosa é criminalizada e as crianças não podem falar suas línguas maternas, a menos que seja mandarim — afirmou o estudioso.

A ida a Xinjiang vem apenas duas semanas após Xi fazer uma rara viagem a Hong Kong, no marco do 25º aniversário da devolução da cidade pelo Reino Unido, do qual foi colônia por 156 anos. A visita ressaltou o acirramento do controle chinês sobre o território, onde uma draconiana Lei de Segurança Nacional em resposta aos protestos antigoverno de 2019 pôs fim a boa parte da autonomia política, econômica e administrativa que havia sido acordada em 1997 — modelo conhecido como "um país, dois sistemas".

'Nova fronteira'

Xinjiang, que em mandarim quer dizer “nova fronteira”, é estratégica para Pequim: faz divisa com oito países e é chave para o megaprojeto de infraestrutura chinês “Cinturão e Rota”, a plataforma para investimentos em ferrovias, portos e rodovias em todo o mundo conhecida como “a nova Rota da Seda”. O próprio Xi elogiou a região, afirmando que é um “polo” para a iniciativa.

A última vez que Xi esteve lá foi em 2014, o mesmo ano em que o governo endureceu sua campanha contra o extremismo na região, batizada de "bater duro". O aperto veio após uma série de atentados terroristas deixarem milhares de mortos, segundo o governo. Na época, as autoridades da província puseram os ataques na conta de grupos separatistas e afirmaram que o objetivo era "arrancar o terrorismo pela raiz".

Críticos do regime, contudo, afirmaram que a violência foi uma resposta à campanha do governo para que pessoas do grupo étnico Han, majoritário na China, se mudassem para a região. O objetivo oficial era expandir indústrias como a do algodão, de laticínios e a produção de painéis solares.

As relações entre ambos, contudo, são ruins desde que Pequim tomou o controle de Xinjiang em 1949, o mesmo ano da Revolução Chinesa. Em números do censo de 2020, os uigures, que têm grandes semelhanças culturais com os países da Ásia Central, são 45% da população local. Os han, por sua vez, já são 42% dos moradores da região.

Desde 2014, estima-se que ao menos 1 milhão de uigures e outras minorias tenham sido enviadas para os campos de reeducação por ofensas tão simples quanto baixar aplicativos restritos em seus telefones. Durante a visita, Xi também elogiou o trabalho do Corpo de Produção e Construção de Xinjiang, uma organização alvo de sanções americanas cujos produtos foram banidos pelos EUA por trabalho forçado e coerção.

Em maio, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet, fez uma visita de seis dias à região para avaliar as alegações. Ao fim da viagem, defendeu que as autoridades chinesas evitem o que chamou de "medidas arbitrárias".

— Ela [a visita de Xi] sugere que o Partido está obviamente muito confiante sobre o que conquistou em Xinjiang — disse ao New York Times Michael Clarke, pesquisador australiano especialista na região. — Eles garantiram segurança e “estabilidade” e estão no caminho para conquistar seu objetivo de longo prazo, que é a assimilação cultural. (Com Bloomberg)

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