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Por Luke Broadwater, The New York Times — Washington

Se alguns republicanos continuam a defender com unhas e dentes o ex-presidente Donald Trump após a busca do FBI em sua casa no dia 8, há fissuras profundas entre os quadros partidários sobre a intensidade desse apoio. Os correligionários divergem sobre as críticas ao Judiciário e aos órgãos de combate ao crime em meio à investigação federal sobre os documentos sigilosos que Trump supostamente levou consigo ao deixar a Casa Branca.

Imediatamente após a varredura, republicanos no Congresso reagiram com fúria, atacando as principais agências de combate ao crime. Alguns pediram o corte do Orçamento do FBI e outros, a “destruição” do órgão. Houve quem fizesse comparações com a polícia secreta nazista, usando palavras como “Gestapo” e “tiranos”.

Agora, vozes moderadas surgem criticando os correligionários pelas bravatas mais duras, optando por uma defesa mais contida. Ao mesmo tempo, contudo, cobram maiores esclarecimentos do Departamento de Justiça.

Muitos republicanos pedem a divulgação dos documentos apresentados para embasar o mandado de busca, cujo sigilo foi quebrado na sexta. Com isso, teriam acesso às evidências que persuadiram um juiz de que havia causa provável para acreditar que uma varredura encontraria evidências de que um crime foi cometido. Tais documentos não costumam ser divulgados antes das acusações serem formalmente apresentadas.

— Foi uma ação sem precedentes que precisa ser embasada por justificativas sem precedentes — disse o deputado republicano Brian Fitzpatrick, da Pensilvânia, que é ex-agente do FBI, ao programa Face the Nation do canal CBS, antes de pedir cautela. — Fiz um apelo para que todos os meus colegas entendam o peso de suas palavras.

O pedido de calma coincide com o aumento das ameaças contra as agências de execução da lei. Na quinta, um escritório do FBI em Cincinnati, no estado de Ohio, foi atacado. No dia seguinte, o Departamento de Segurança Nacional distribuiu boletins de inteligência alertando para uma piora:

“O FBI e o Departamento de Segurança Nacional observaram um aumento das ameaças violentas postadas nas redes sociais contra funcionários e instalações federais, incluindo a ameaça de pôr uma chamada bomba suja na frente da sede do FBI e chamados gerais para uma ‘guerra civil’ ou ‘rebelião armada’”, diz o documento a que o New York Times teve acesso.

Agravando o alerta, um segundo atirador lançou seu carro contra uma barricada no lado de fora do Capitólio, o Congresso americano, na madrugada de domingo. Após sair do veículo, que em seguida pegou fogo, o homem atirou diversas vezes para o ar antes de tirar sua própria vida, disse a polícia do Capitólio.

Republicanos lutam para concordar com uma estratégia unificada para responder à busca do FBI em Mar-a-Lago, em meio às revelações diárias e às mudanças rápidas de explicações, desculpas, defesas e acusações falsas feitas pelo ex-presidente, que nesta segunda chegou a dizer, em sua rede Truth Social, que seus passaportes foram levados pelos agentes.

A lista de documentos apreendidos na casa do ex-presidente, cujo sigilo também foi quebrado na sexta, mostram 11 conjuntos de documentos confidenciais designados para serem manuseados apenas em instalações governamentais seguras, sob uma norma chamada de Programa de Acesso Especial (SAP, na sigla em inglês).

Um dos conjuntos está classificado como “ultrassecreto/sensível”, e outras quatro são de documentos “ultrassecretos”. Há outras três de documentos secretos, sendo as demais confidenciais. A lista não detalha quais assuntos são tratados nessas documentações.

Trump e seus aliados argumentam que o ex-presidente Barack Obama (2009-2017) também manuseou inadequadamente o material, algo rapidamente desmentido pelo Arquivo Nacional, ao qual cabe guardar os papéis presidenciais. Dizem também que o juiz que assinou o mandado era parcial e que o FBI deve ter plantado evidências. Afirmaram ainda que o presidente estava coberto pelo privilégio executivo e que havia desclassificado o material.

As múltiplas explicações inconvincentes dificultaram a vida dos correligionários de Trump, muitos deles ávidos para cair nas boas graças do ex-presidente.

Se a deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, pede o corte do financiamento para o FBI, a abordagem do colega Michael Turner, de Ohio, é outra. Ele é o principal republicano na Comissão de Inteligência no Senado, onde disse que o secretário de Justiça, Merrick Garland, precisa responder a perguntas sobre seu sinal verde para a busca na casa de um ex-presidente, algo inédito na História americana.

— Claramente, ninguém está acima da lei — disse o deputado ao canal CNN. — Donald Trump não está acima da lei. E o secretário de Justiça Garland também não está. O Congresso tem o poder de supervisão. Ele precisa cumprir.

Os líderes republicanos no Senado e na Câmara, o senador Mitch McConnell e o deputado Kevin McCarthy, também disseram que Garland precisa dar respostas. Após três dias de silêncio, o secretário deu uma declaração à imprensa na quinta em que disse ter autorizado a busca e defendeu o Departamento de Justiça, mas não forneceu mais detalhes.

A Casa Branca tenta evitar dar qualquer margem para acusações de interferência no Judiciário, e reluta para comentar a investigação. Outros democratas, por sua vez, imediatamente tiraram proveito dos ataques republicanos ao FBI e agências similares:

— Eu achava que no passado o Partido Republicano costumava ficar do lado da lei — disse a senadora Amy Klobuchar, de Minnesota, à emissora NBC. — E eu espero que alguns deles estejam hoje porque esse tipo de retórica é muito perigoso para o nosso país.

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