Giorgia Meloni, líder do partido pós-fascista Irmãos da Itália, favorito para vencer as eleições parlamentares de 25 de setembro, disse nesta terça-feira estar pronta para governar o país, em um comício para uma multidão reunida na cidade de Ancona. Caso as pesquisas se confirmem, a política romana, de 45 anos, pode se tornar a primeira mulher a assumir a chefia do governo na Itália.
— Acredito que posso liderar um governo com pessoas que não têm patrão e que não podem ser chantageadas. Por onde vamos, eles sabem que não nos deixamos intimidar, chantagear ou comprar — declarou Meloni em seu primeiro ato de campanha. — Não tenho medo, nem sinto ódio, e vocês, estão prontos?
A deputada Meloni, com um passado de militante no neofascista Movimento Social Italiano, escolheu lançar sua campanha no porto de Ancona, com cerca de 100 mil habitantes, capital da região de Marcas, cujo presidente, Francesco Acquaroli, é membro do seu partido.
O Irmãos da Itália foi o único grande partido italiano que ficou de fora do governo de união nacional chefiado por Mario Draghi, que renunciou em julho depois de perder o apoio do Movimento 5 Estrelas e a maioria parlamentar. A renúncia de Draghi provocou a antecipação das eleições gerais, originalmente previstas para 2023.
Meloni conseguiu encarnar a insatisfação e as esperanças frustradas de muitos italianos e tem boas chances de deixar de ser uma eterna integrante da oposição para governar a terceira maior economia da zona do euro.
— Ela é uma pessoa simples e gentil que tem ideias claras sobre emprego, pensões, sobre tudo — disse Paolo Berardi à AFP, cercado por bandeiras azuis e brancas com a chama verde, branca e vermelha, símbolo dos neofascistas.
Dora, uma senhora de 60 anos de Monza, no Norte, que não quis informar seu sobrenome, concorda:
— Gosto dela porque é uma mulher, enfim uma mulher, e uma pessoa direta, que não fala a linguagem da política — afirmou com entusiasmo.
Embora as pesquisas ponham o Irmãos da Itália em um empate técnico com o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, com cerca de 24% dos votos cada, o sistema de votação favorece a aliança que Meloni selou com o Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e com a Liga, do líder de extrema direita Matteo Salvini. A coalizão de direita somaria assim cerca de 46% dos votos, muito à frente do PD e seus aliados, que somariam cerca de 30%.
— Estamos prontos. Mostramos isso aqui em Marcas. Porque a esquerda não dá respostas há décadas — clamou a líder de extrema direita, ovacionada pelos apoiadores.
Postagens apagadas
Mais cedo, Facebook, Instagram e Twitter apagaram postagens da deputada italiana que exibiam cenas de um estupro. Com imagens borradas, o vídeo mostrava o crime, cometido em plena rua por um solicitante de refúgio guineense, de 27 anos ,contra uma mulher ucraniana, de 55, na cidade de Piacenza, no Norte do país.
O estupro foi filmado com uma câmera de celular a partir de um prédio enquanto a polícia não chegava.
Políticos de centro e esquerda qualificaram a atitude de Meloni como "indecente", "indecorosa" e "desrespeitosa" por expor uma vítima de violência sexual sem seu consentimento. Já Meloni se justificou com o argumento de que o problema é o estupro, e não sua exibição nas redes sociais.
A deputada tem mais de 4,5 milhões de seguidores nas três redes sociais. Ela costuma usar as redes para associar um suposto aumento da criminalidade aos imigrantes e refugiados resgatados no Mar Mediterrâneo.