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Por AFP — Lima

Após dois dias de buscas, Yenifer Paredes, cunhada do presidente peruano, Pedro Castillo, e acusada de participação em uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro, se entregou à polícia na noite desta quarta-feira. O caso agrava ainda mais a crise política que Castillo enfrenta. Em apenas um ano de mandato e sem apoio no Congresso, ele é investigado em outros cinco casos por suposta corrupção.

Na terça-feira, depois de quase quatro horas de buscas no palácio de governo, em Lima, policiais deixaram a residência presidencial sem encontrar Yenifer. Nesta quarta, policiais fizeram buscas na casa da família de Castillo, na cidade de Chota, na província de Cajamarca, a 800 km da capital, também sem sucesso. Horas depois, a irmã mais nova da primeira-dama, Lilia Paredes, se entregou ao lado de seu advogado, na sede do Ministério Público, em Lima.

As duas operações, sem precedentes na História peruana — a Justiça nunca havia entrado na sede do Executivo para prender uma pessoa —, foram realizadas a pedido do Ministério Público, que obteve a resolução judicial para a prisão preventiva de Yenifer por 10 dias, além da apreensão de celulares e documentos.

Na terça, já haviam sido detidos José Nenil Medina, prefeito de uma localidade da região de Castillo, e os irmãos empresários Hugo e Angie Espino, donos de uma pequena empresa acusada de vencer licitações milionárias graças ao relacionamento com a cunhada do presidente. Eles teriam realizado várias visitas ao palácio do governo, por intermédio de Yenifer, antes de vencerem as licitações para obras milionárias na província de Cajamarca.

Nesta quarta, os agentes entraram na casa da família de Castillo, na remota aldeia de Chugur, em busca de Yenifer. O Superior Tribunal de Justiça autorizou a busca um dia antes, já que a cunhada de Castillo indicou até três endereços em seus documentos de identidade.

O próprio presidente confirmou a ação no meio da manhã, durante um ato público no palácio do governo, sede do Executivo em Lima.

— Acabaram de entrar na minha casa — disse o ex-professor rural e sindicalista, de 52 anos.

Yenifer é a quarta pessoa do entorno presidencial investigada por suposto envolvimento no caso. Os outros processados são um sobrinho do presidente, que atuava como seu assessor, e seu ex-ministro dos Transportes, ambos foragidos da Justiça, além do ex-secretário da Presidência Bruno Pacheco, que se entregou na semana passada e negocia um acordo de colaboração com o MP.

A cunhada de Castillo, de 26 anos, considera o presidente e sua mulher como seus "pais", e mora na residência presidencial.

Agentes fazem busca na casa da família do presidente peruano Pedro Castillo — Foto: AFP
Agentes fazem busca na casa da família do presidente peruano Pedro Castillo — Foto: AFP

Yenifer já havia sido intimada a depor ao Ministério Público e a comparecer a uma comissão de controle do Congresso peruano, dominado pela oposição de direita, em meados de julho. A primeira-dama Lilia Paredes também compareceu no mês passado a uma comissão parlamentar de inquérito, mas se recusou a responder às perguntas dos deputados por recomendação de seu advogado. Ela já havia ido ao MP no mesmo caso, quando respondeu a todas as perguntas.

Em uma mensagem exibida na TV por volta das 23h de terça, Castillo descreveu o ocorrido como uma "invasão ilegal" que faz parte de um "suposto plano da mídia para retirá-lo do poder em cumplicidade com a oposição de direita no Congresso".

— Hoje o palácio do governo e a casa presidencial mais uma vez foram violados com uma invasão ilegal autorizada por um juiz, coincidentemente quando estão solicitando minha inabilitação por cinco anos para tirar do povo peruano seu governo legítimo — disse Castillo. — Todos os peruanos são testemunhas da contínua implementação de um plano da mídia que pretende tomar o poder de maneira ilegal e inconstitucional.

Traição à pátria

Desde que Castillo assumiu a Presidência, em julho do ano passado, o Congresso já tentou afastá-lo duas vezes, sem sucesso. Ele foi eleito em segundo turno, numa disputa apertada contra Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que chegou a alegar fraude na disputa, sem apresentar provas.

Horas antes da operação no palácio de governo, na terça, a imprensa peruana divulgou um relatório do Congresso que recomendava inabilitar e processar Castillo, política e criminalmente, alegando que ele cometeu traição à pátria ao considerar um possível referendo popular para conceder à Bolívia uma saída para o mar, o que o presidente nega.

"Recomenda-se: acusar por procedimento prévio político o investigado José Pedro Castillo Terrones, na qualidade de Presidente da República, como suposto autor do crime de traição à pátria", apontou o documento especial da Subcomissão de Acusações Constitucionais do Congresso do Peru. O texto também propõe que seja imposta "a sanção de inabilitação por cinco anos para o exercício de cargos públicos".

A recomendação deve ser votada pela subcomissão e depois debatida pelo Congresso, onde, se aprovada, pode levar ao terceiro pedido de destituição do presidente. A recomendação do Parlamento foi criticada por juristas, que a consideram sem respaldo legal.

O relatório é assinado pelo congressista de centro-direita Wilson Soto Palacios, e se baseia em uma entrevista dada por Castillo, em janeiro, à CNN Internacional. Nela, o presidente não descartou facilitar o acesso ao mar boliviano, caso a população decida por meio de um referendo popular.

— Consultaremos o povo, para isso é necessário que o povo se manifeste — respondeu o presidente ao ser perguntado se achava que o Peru poderia dar à Bolívia uma saída para o mar, como havia afirmado antes de ser candidato e ao vencer as eleições em 2021. — Não estou dizendo que vou dar mar à Bolívia.

O relatório parlamentar de 89 páginas sustenta que a declaração de Castillo "violaria os mandatos constitucionais". Após a Guerra do Pacífico (1879-1884), na qual os dois países enfrentaram o Chile, o Peru perdeu suas duas regiões mais ao sul — Arica e Tarapacá — e a Bolívia seu acesso ao mar.

Além do cerco político judicial, Castillo tem hoje um índice de desaprovação de 74%, segundo as pesquisas mais recentes. Eleito pelo partido da esquerda radical Peru Livre, do qual se desligou em junho, o presidente buscou uma aliança com forças da centro-esquerda, mas a instabilidade do governo acabou afastando todos os ministros desse setor, incluindo seu primeiro titular da Economia, Pedro Francke.

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