Mundo
PUBLICIDADE

Por Marina Gonçalves, e agências internacionais — Rio

O Ministério Público peruano abriu uma nova investigação contra o presidente Pedro Castillo, a sexta em pouco mais de um ano de mandato, e contra o atual ministro dos Transportes e Comunicações, Geiner Alvarado, ambos acusados de comandar uma suposta rede criminosa de corrupção e lavagem de dinheiro a partir de licitações públicas. O caso é o mesmo que envolve a cunhada do presidente, Yenifer Paredes, que se entregou na noite de quarta-feira após dois dias de buscas da polícia.

Alvarado é investigado por fatos ocorridos quando era ministro da Habitação, cargo que ocupou até a semana passada, por supostas irregularidades em obras em Anguía, na província de Cajamarca, onde Castillo nasceu. Na terça, foram detidos José Nenil Medina, prefeito de Anguía, e os irmãos empresários Hugo e Angie Espino, donos de uma pequena empresa que teria ganhado licitações milionárias graças ao relacionamento com o presidente. Os irmãos teriam realizado visitas ao palácio do governo em Lima, por intermédio de Yenifer e da mulher do presidente, Lilia Paredes, antes de vencerem as licitações para obras em Cajamarca.

As investigações foram abertas embora o presidente tenha imunidade judicial e, portanto, não possa ser processado enquanto estiver no cargo.

— Tudo isso cria uma situação de tensão política ainda maior, contra um presidente que tem sérias limitações e está cercado de processos investigativos — disse ao GLOBO Fernando Tuesta, professor da Pontifícia Universidade Católica do Peru. — Castillo, por sua vez, usa um discurso populista para se defender, utilizando o argumento de "ricos contra os pobres" e culpando os grupos políticos que estão no poder. É verdade que existem grupos que não o querem como presidente, mas esse não é o único motivo para que ele seja investigado. Há indicações de que houve uma conjunção de esforços para tirar proveitos econômicos. Estamos diante de um governo de amadores, que deixaram evidências por toda parte.

Na terça, em uma ação inédita no país, agentes fizeram buscas no palácio do governo, atrás da cunhada do presidente, irmã mais nova da primeira-dama. Um dia depois, entraram na casa da família de Castillo, na remota aldeia de Chugur. Yenifer se entregou horas depois. Nesta quinta, seu advogado afirmou que ela teve teste positivo para a Covid-19 após se entregar. O MP pede 10 dias de prisão preventiva, mas não se sabe se Yenifer ficará detida ou em prisão domiciliar.

Antes de ser incluído na investigação, na noite de terça, Castillo afirmou que a ação do MP fazia parte de um "plano da mídia para retirá-lo do poder em cumplicidade com a oposição de direita no Congresso".

Adriana Urrutia, diretora da Escola de Ciência Política da Universidade Antonio Ruiz de Montoya, destaca a crescente "judicialização da política" no país, fenômeno comum em toda a América Latina e que tem forte componente midiático.

— Como presidente, Castillo tem imunidade e não pode ser condenado. Mas. pela primeira vez na história, a Promotoria decidiu, ainda assim, investigar um presidente em exercício. Isso traz uma consequência importante: diferentes atores políticos ficam na expectativa do que a Justiça possa fazer — disse Urrutia. — Toda a operação foi bem midiática. E até agora não há evidências concretas que o condenem.

A cunhada de Castillo é a quarta pessoa do entorno presidencial investigada no caso. Os outros são um sobrinho do presidente, que atuava como seu assessor, e seu ex-ministro dos Transportes, ambos foragidos, além do ex-secretário da Presidência Bruno Pacheco, que se entregou na semana passada e negocia um acordo de colaboração com o MP.

Agentes fazem busca na casa da família do presidente peruano Pedro Castillo — Foto: AFP
Agentes fazem busca na casa da família do presidente peruano Pedro Castillo — Foto: AFP

Disputa com o Congresso

Desde que Castillo assumiu, em julho do ano passado, o Congresso, controlado pela oposição, já tentou afastá-lo duas vezes, sem sucesso. Agora, mesmo com o novo caso, Tuesta acredita ser improvável que o Legislativo tenha força política para tirá-lo do cargo.

— Por que Castillo não cai? Não porque o Congresso não tenha conseguido os votos para destituí-lo, mas porque seu desempenho é ainda pior do que o do presidente — afirmou o professor da Universidade Católica. — É um Congresso com 130 parlamentares, dos quais 38 mudaram de grupo político em um ano de governo. Não há coesão partidária, vários congressistas são inexperientes e muitos deles também estão envolvidos em casos de corrupção. A população rejeita mais o Congresso do que Castillo.

Para Adriana Urrutia, que também é presidente da ONG Transparência, uma espécie de "acordo tácito" entre o Executivo e o Legislativo pode impedir que a nova investigação tenha efeito no Congresso.

— O Congresso poderia novamente recorrer a esse mecanismo [de vacância, equivalente ao impechment], mas não está acontecendo. O que vemos pelas ultimas votações é que muitos congressistas fazem partes de redes informais ou ilegais, que também estão envolvidas em casos de corrupção — explicou.

Mais recente Próxima

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Valor não acumula e caso ninguém garante os 15 números, prêmio máximo será dividido entre outros acertadores

Lotofácil especial de Independência sorteia R$ 200 milhões nesta segunda; saiba como apostar

Associação de descendentes emitiu 'parecer desfavorável' à manutenção definitiva do símbolo olímpico no ponto turístico

Herdeiros de Eiffel cobram retirada dos anéis olímpicos da torre ícone de Paris

A Polícia de Queensland emitiu um mandado de prisão para um homem de 33 anos procurado por atos com a intenção de causar danos corporais graves,

Homem que jogou café quente em bebê vira alvo de caçada internacional; criança já passou por quatro cirurgias

Proposta é oferecer rótulos de pequenos produtores; comidinhas também são artesanais

Vinho brasileiro na torneira: Casa Tão Longe, Tão Perto abre em Botafogo

Pelo menos duas mil pessoas que fugiram dos seus países vivem na cidade

Debate sobre refugiados travado por candidatos a prefeito de Niterói  repercute entre imigrantes

Trata-se de mais um caso que pode beneficiar uma figura ligada ao jogo do bicho

'Gerente' ligado a Rogerio Andrade pede a Nunes Marques para sair da prisão

Wide receiver foi imobilizado de bruços perto de estádio e liberado a tempo de partida do Miami Dolphins contra o Jacksonville Jaguars

Policial que algemou astro da NFL a caminho de jogo é afastado, e atleta quebra silêncio: 'E se eu não fosse Tyreek Hill?'