A próspera região boliviana de Santa Cruz, no Leste do país e sob o controle da oposição de direita, iniciou uma greve de 48 horas na segunda-feira com bloqueios nas ruas para exigir que o governo de Luis Arce realize um censo populacional até 2023.
O governador Luis Fernando Camacho, que teve papel fundamental na renúncia de Evo Morales à Presidência, em 2019, apoia o movimento. À época, Camacho também liderou bloqueios realizados por civis na cidade, que pediam a saída de Morales. Além dele, o poderoso Comitê empresarial de Santa Cruz e a universidade estadual Gabriel René Moreno promovem a greve. Já o prefeito da cidade antecipou que não apoia a medida.
Os setores que defendem os bloqueios rejeitam a decisão do presidente, de esquerda, de adiar até 2024 um censo populacional, inicialmente previsto para novembro deste ano. Eles argumentam que as regiões são prejudicadas na redistribuição de recursos econômicos públicos, uma vez que os dados utilizados são de um levantamento de 2012. Segundo a Constituição, o censo deve ser realizado a cada 10 anos.
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O Poder Executivo, por sua vez, sustenta que não existem condições técnicas para um recenseamento este ano, devido à pandemia da Covid-19.
O segundo protesto pelo adiamento do censo acontece 15 dias após o primeiro, em 25 de julho, quando durou 24 horas. Na ocasião, as negociações com o governo não avançaram.
Ao longo de todo o dia, grupos de civis montaram barricadas com terra, paus, pedras e pneus para impedir o trânsito nas principais vias da cidade. Com isso, a cidade de Santa Cruz, com cerca de 2 milhões de habitantes e a mais populosa do país, ficou quase toda paralisada, com ruas vazias e o serviço de transporte público funcionando de maneira precária. A maior parte dos supermercados e restaurantes também permaneceram fechados, segundo reportagens do canal de TV privada Unitel.
O aeroporto estava operando normalmente, embora os passageiros tivessem que negociar para passar pelas barricadas nas ruas.
A polícia tentou em alguns pontos da cidade restabelecer o tráfego de veículos e confrontos foram registrados em algumas ruas. Apesar das barricadas, o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, disse que "em todo o departamento havia apenas 30 pontos de bloqueio" e que "a grande maioria dos cidadãos foi trabalhar" nesta segunda-feira.
Nos bairros mais pobres da periferia, no entanto, o fluxo de pessoas e veículos era quase normal, devido à força que o Movimento ao Socialismo (MAS), legenda do presidente, tem nesses locais.
Vicente Cuéllar, reitor da Universidade Estadual Gabriel René Moreno, destacou que o Censo Demográfico "é um direito que todos os bolivianos têm, mas o governo não tem vontade política" para realizá-lo.
—É muito perigoso realizar o Censo em 2024 porque será um ano eleitoral. Vamos acabar misturando o técnico com o político — disse Cuellar, que defende a proposta de aplicar "tecnicamente" o levantamento em junho de 2023.
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