"No Chile, resolvemos nossas divergências com mais democracia, nunca com menos. Estou profundamente orgulhoso por termos chegado até aqui", escreveu o presidente do Chile, Gabriel Boric, na noite de sábado em sua conta no Twitter, antes do início do plebiscito no qual os chilenos decidem neste domingo se aprovam ou rejeitam o projeto de Constituição elaborado durante um ano por uma Convenção Constituinte eleita em 2021.
Hoje pela manhã, Boric, que aos 36 anos é o mais jovem presidente da História do Chile, foi um dos primeiros a votar, ao lado do seu pai e seu irmão, em Punta Arenas, cidade no extremo Sul do país, de frente para o Estreito de Magalhães.
As pesquisas preveem um resultado apertado, com vantagem para a rejeição. Porém, quase todas as forças políticas concordam em que, caso o projeto seja rejeitado, será preciso reiniciar um processo de redação de uma nova Carta para substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Uma nova Constituição foi uma das demandas dos protestos que tomaram o Chile em 2019, e a convocação da Convenção Constitucional foi aprovada com quase 80% dos votos em outro plebiscito, em 2020.
Depois de votar, Boric se referiu ao dia seguinte:
— Posso garantir que nossa vontade e nossa ação, independentemente de qual for o resultado, será convocar uma ampla unidade nacional de todos os setores, das organizações, da sociedade civil e dos partidos — disse ele. — Queremos escutar todas as vozes para poder seguir adiante com este processo, seja para implementar o texto da nova Constituição, para o que já convocamos vários constitucionalistas e diferentes personalidades da sociedade civil, seja para dar continuidade ao processo constituinte caso ganhe a outra opção, a rejeição.
Ao votar em Santiago, o ex-presidente conservador Sebastián Piñera disse estar comprometido com um novo texto constitucional.
— Temos um compromisso com uma nova e boa Constituição, e vamos cumprir esse compromisso — disse, fazendo um apelo para que os chilenos votem: — Peço a todos os meus compatriotas que se levantem e votem com alegria, com esperança, porque o melhor do Chile ainda está pela frente, e é por isso que podemos festejar nosso país maravilhoso.
Há, porém, divergências entre direita e esquerda sobre como uma nova Constituição seria escrita se a rejeição vencer hoje: a direita quer que parlamentares e notáveis conduzam o processo, enquanto a esquerda quer um novo processo com constituintes eleitos.
Pela primeira vez em mais de uma década, o comparecimento às urnas neste domingo é obrigatório, sob pena de uma multa máxima de 180.000 pesos (cerca de US$ 200). Isso, junto com o comparecimento dos jovens, pode inclinar a balança entre os mais de 15 milhões de eleitores.
A ex-presidente Michelle Bachelet , que votou em Genebra, onde na semana passada terminou seu mandato como alta comissária de Direitos Humanos da ONU, pediu aos chilenos entusiasmo ao votar "porque está nas mãos de todos de nós nosso futuro, nosso destino”.
— O plebiscito de hoje é um processo democrático e participativo que significa que, como chilenos, somos capazes de continuar a aperfeiçoar a democracia — disse Bachelet aos jornalistas, ressaltando que qualquer que seja o resultado do plebiscito, os próximos passos devem ser dados "com calma".
A ex-presidente, que é a favor da aprovação do projeto, lembrou versos do compositor cubano Pablo Milanés ao falar sobre o texto em votação (“não é perfeito, mas está mais próximo do que eu simplesmente sonhei”).