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Por O Globo e agências internacionais

A agência espacial dos EUA, a Nasa, atingiu um asteroide localizado a 11 milhões de km da Terra com uma “sonda kamikaze”, como ponto alto de uma missão inédita para tentar descobrir se é possível mudar a trajetória de um corpo celeste. A iniciativa tem como objetivo central contribuir para planos futuros para defender o planeta de ameaças vindas do Cosmos.

Nas imagens transmitidas pela Nasa, Dimorfo, uma rocha de 160 metros de diâmetro, apareceu como um ponto luminoso se aproximando da sonda "Dart", que significa dardo em inglês e é a sigla para Double Asteroid Redirection Test (Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo). Pouco depois, às 20h14, pelo horário de Brasília, ela atingiu o asteroide, um momento celebrado na sala de controle.

— Estamos entrando em uma nova era da Humanidade, uma era na qual potencialmente teremos a capacidade para nos proteger de algo como um perigoso e ameaçador impacto de asteroide — afirmou Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da Nasa, citada pela CNN. — Que coisa sensacional. Jamais tivemos essa capacidade antes.

A sonda de 570 kg foi lançada em novembro de uma base aérea na Califórnia, e viajou a quase 20 mil km/h. Apesar de pesar 10 milhões de vezes menos do que Dimorfo, os cientistas apostam, depois do sucesso da colisão, que ela vai desacelerar o asteroide, o aproximando de Dídimo, uma rocha de 780 metros de diâmetro, encurtando sua órbita em alguns minutos. Não se trata, portanto, de uma missão similar às vistas na ficção, quando mísseis e naves foram lançadas contra asteroides colossais, provocando sua destruição total ou parcial.

— Algumas vezes nós descrevemos isso [a missão] como um carrinho de golpe sendo atirado contra uma pirâmide, ou algo do tipo — disse à CNN Nancy Chabot, que integra a equipe de coordenação da missão. — Mas no caso de Dimorfo, se trata realmente de deflexão de um asteroide, não sua disrupção. Não vai explodir o asteroide, não vai fazer com que se parta em muitos pedaços.

A possível mudança na órbita do asteroide poderá ser confirmada por telescópios na Terra e pelo supertelescópio espacial James Webb, mas esse resultado pode levar algum tempo até ser conhecido.

— Ficaria surpreso se tivermos alguma evidência em poucos dias, e me surpreenderia se levar mais de três semanas — disse à AFP Tom Statler, cientista-chefe da missão.

Um satélite auxiliar, o LICIACube, desenvolvido pela Agência Espacial Italiana, acompanhou a Dart a cerca de mil quilômetros de distância, e passará a cerca de 55 km da superfície de Dimorfo por alguns minutos, quando fará algumas imagens do local da colisão e da nuvem de poeira. Segundo os cientistas, essas imagens podem levar “de um a dois dias” até chegarem à Terra.

Outro ponto a ser analisado é a composição de Dimorfo, que não representa riscos imediatos à Terra, assim como Dídimo.

— Se o asteroide responder ao impacto da Dart de uma maneira completamente imprevista, na realidade poderiamos ter que reconsiderar até que ponto o impacto cinético é uma técnica de uso geral — disse Statler à AFP.

Recorrentes em filmes de catástrofe, os asteroides são estudados há séculos por astrônomos, que tentam mapeá-los no céu e entender se há algum deles que representa riscos a áreas do planeta, ou à sobrevivência de toda a Humanidade. Hoje, os cientistas já identificaram 95% dos corpos celestes com mais de 1 km de diâmetro, capazes de provocar uma extinção em massa na Terra, como com os dinossauros há 66 milhões de anos. Mas apenas 40% dos asteroides com 140 metros ou mais foram identificados, e embora não tenham o mesmo poder de destruição, o impacto de um deles sobre uma cidade seria similar ao de uma bomba atômica.

— A probabilidade de você sobreviver ao impacto de um asteroide desse tamanho ao longo de sua vida é aproximadamente a mesma que a de sua casa queimar — explica Statler à AFP, astrofísico do Escritório de Proteção Planetária da Nasa. — Se temos seguro residencial para evitar ficar sem-teto, por que não ficarmos mais bem preparados caso um asteroide venha?

O argumento é compartilhado por governos e agências espaciais: no caso da Dart, o gasto de US$ 324 milhões foi aprovado ainda em 2017. Em 2024, a missão Hera, da Agência Espacial Europeia, será lançada, e uma sonda chegará ao que restou de Dimorfo dois anos depois. Sua missão será analisar, ao longo de alguns meses, a massa, a composição interna e a estrutura dos asteroides, e mapear o local onde ocorreu o choque com a sonda da Nasa. Estima-se que mais de 30 mil asteroides de todos os tamanhos estejam na mesma área onde se encontram os dois corpos celestes.

— Precisamos de toneladas de dados para validar essa técnica de desviar asteroides por impacto, e Hera será a missão que nos permitirá desenvolver essa nova tecnologia — explica Ian Carnelli, chefe do projeto.

Ao mesmo tempo, as agências espaciais aumentaram seus investimentos em sistemas de monitoramento, como o Sentry, da Nasa. Afinal, todos concordam sobre a necessidade de identificar o quanto antes potenciais riscos. Segundo os astrônomos, não há qualquer ameaça prevista para os próximos 100 anos.

— Nosso trabalho mais importante é encontar [as ameaças] — disse Lindley Johnson, agente de defesa planetária da Nasa. — [A missão Dart] é um momento muito emocionante para a História espacial e, sobretudo, para a História da Humanidade.

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