Ao menos seis pessoas morreram durante os recentes protestos no Irã, que já duram cinco dias, segundo autoridades do país. Em balanço feito por pela organização de direitos humanos Hengaw, o número de civis mortos chega a sete.
A onda de protestos eclodiu na última sexta-feira com o anúncio da morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, após ser presa três dias antes pela polícia de costumes por usar o seu hijab, o véu islâmico, inapropriadamente e deixar parte do seu cabelo a mostra.
A jovem estava sob custódia das autoridades quando foi encaminhada ao hospital. Amini morreu após três dias em coma.
As autoridades alegam que a causa da morte foi um infarto, mas ativistas acreditam que ela foi golpeada violentamente na cabeça e jogada contra um carro da polícia. Supostas imagens de um exame no crânio de Amini, divulgadas pelo canal Iran International, sediado em Londres, indicam sinais de fratura craniana, edema cerebral e hemorragia.
As manifestações começaram na última sexta-feira no Curdistão iraniano, província natal de Amini, mas rapidamente se espalharam para outras províncias do país, incluindo a capital Teerã. Meios de comunicação estatais exibiram protestos em 15 cidades – o maior movimento popular desde 2019, quando iranianos foram às ruas protestar contra o aumento nos preços dos combustíveis.
Na terça-feira, o governador do Curdistão iraniano, Ismail Zarei Koosha, informou que três pessoas morreram nos protestos, sem especificar exatamente quando. No entanto, Koosha atribuiu as mortes a um “complô do inimigo”.
Nesta quarta-feira, o comandante da polícia do Curdistão, Ali Azadi, anunciou a morte de mais uma pessoa, segundo a agência de notícias Tasnim.
Além disso, outros dois manifestantes foram mortos na província de Kermanshah, afirmou o procurador distrital, Shahram Karami, à agência de notícias Fars.
– Infelizmente, duas pessoas foram mortas nos protestos ontem – relatou Karami. – Temos certeza de que isto é trabalho de agentes contrarrevolucionários – acrescentou.
Não se sabe, contudo, se foi a morte relatada logo depois pelo comandante da polícia.
De acordo com o último relatório da Hengaw, organização de direitos humanos com sede na Noruega que atua em regiões de maioria curda, o número de mortos chega a sete. A entidade informou que, até o momento, 450 pessoas ficaram feridas e 500 foram presas durante as manifestações.
Apoio internacional
A morte de Mahsa Amini e os manifestantes reprimidos receberam solidariedade internacional, com manifestações de apoio em cidades como Nova York e Istambul.
O chefe do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, Nada al-Nashif, cobrou avanço nas investigações da morte e pediu que as autoridades iranianas acabassem com a perseguição a mulheres que não queiram seguir as rígidas regras de vestimenta do país.
– A morte trágica de Mahsa Amini, e os relatos de tortura e maus-tratos, devem ser devidamente investigados, de forma imparcial e efetiva, por uma autoridade competente independente que garanta, sobretudo, o acesso da família à justiça e à verdade – disse al-Nashif.
Em discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta quarta-feira, o presidente americano Joe Biden manifestou o seu apoio às “corajosas mulheres do Irã”.
– Hoje apoiamos os corajosos cidadãos e as corajosas mulheres do Irã que, neste momento, estão se manifestando para assegurar seus direitos básicos – declarou Biden.
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Antes da fala do presidente dos EUA, o presidente iraniano Ebrahim Raisi – que chegou a ligar para prestar solidariedade à família de Amini – disse, em seu discurso na Assembleia, que o Ocidente tem “dois pesos e duas medidas” em relação aos direitos das mulheres.
– Há dois pesos e duas medidas, com a atenção apenas em um lado, e não em todos – declarou Raisi, em referência às mortes de mulheres indígenas no Canadá e às ações israelenses nos territórios palestinos.
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