Nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, o chanceler Carlos França se encontrou nesta quarta-feira com o chefe da diplomacia da Rússia, Sergei Lavrov, no mesmo dia em que Moscou anunciou uma mobilização parcial no país, relacionada à guerra na Ucrânia, e que contou com ameaças nucleares de Vladimir Putin ao Ocidente.
De acordo com nota do Ministério de Relações Exteriores russo, França e Lavrov discutiram "o estado e as perspectivas para o desenvolvimento das relações de parceria estratégica bilateral", além de acordos firmados durante a visita do presidente Jair Bolsonaro a Moscou, em fevereiro, dias antes do início da guerra.
O texto informa que ambos declararam "o firme compromisso de fortalecer a interação entre Rússia e Brasil na ONU" e defenderam o fortalecimento de plataformas multilaterais, como a ONU, o G20 e o Brics. Lavrov ainda felicitou o chanceler brasileiro pelos 200 anos de independência, celebrados no dia 7 de setembro. O Itamaraty não divulgou nota sobre o encontro, mas no Twitter publicou uma foto dos dois diplomatas e afirmou que eles "conversaram sobre temas da agenda bilateral, regional e multilateral". Os dois tinham se encontrado em julho, durante reunião de chanceleres do G20, em Bali.
Ao menos em público, a conversa não incluiu a Ucrânia, no mesmo dia em que Putin elevou o tom sobre o conflito, anunciando uma mobilização parcial de forças, com a convocação de até 300 mil reservistas, e sugeriu que poderia usar armas nucleares para defender seu território. As declarações foram condenadas por líderes internacionais, incluindo nos discursos na Assembleia Geral nesta quarta-feira — em uma fala por vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, defendeu punição internacional "justa" à Rússia.
O Brasil tem evitado condenar publicamente a guerra, reiterando pedidos por uma solução pacífica para o conflito iniciado em fevereiro. Contudo, o país votou a favor de duas resoluções condenando a agressão russa na Assembleia Geral e defendeu um texto semelhante no Conselho de Segurança, que acabou vetado pelos russos. Na semana passada, o Brasil se absteve em uma votação para permitir que Zelensky falasse por videoconferênca na sessão de debates gerais — o texto foi aprovado.
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