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Por O Globo e agências internacionais — Pequim

A três dias do início do 20º Congresso do Partido Comunista da China, Pequim registrou um raro protesto contra o presidente Xi Jinping e sua política de "Covid zero", reforçada na capital às vésperas do encontro que acontece a cada cinco anos. O evento que começa no dia 16, o mais importante do calendário político do país, deve confirmar o terceiro mandato para Xi como secretário-geral da sigla, abrindo caminho para que ele também continue na Presidência do país por mais cinco anos.

Ao menos meia dúzia de vídeos e fotos que circulam na internet mostram, de ângulos diferentes, duas faixas na Ponte Sitong, no distrito de Haidian, no Noroeste da capital, e fumaça de origem não explicada. Uma delas pedia para que os moradores "façam greve na escola, no trabalho, removam o ditador e traidor nacional Xi Jinping".

"Sem testes PCR, nós queremos comer. Sem restrições, nós queremos liberdade. Sem mentiras, nós queremos dignidade. Sem Revolução Cultural, nós queremos reforma. Sem líderes, nós queremos votar. Ao não sermos escravos, poderemos ser cidadãos", dizia a outra faixa.

As gravações também captaram o som de um homem gritando slogans em um megafone. Quando repórteres da BBC foram à região, não encontraram vestígios do ato, mas havia forte presença militar — algo também constatado pela agência Bloomberg, cuja reportagem contou mais de uma dezena de carros e vans da polícia na região.

De acordo com a agência, um ciclista parou para tirar fotos da ponte, afirmando que viu imagens das faixas na internet. A Bloomberg afirma também que viu marcas de fogo na ponte onde os vídeos mostravam a fumaça, e confirmou que as placas que aparecem na gravação são as mesmas do local.

Um dos banners se referia a Xi pela palavra "lingxiu", que quer dizer líder e que muitos no Partido Comunista usam para se referir ao presidente. Até recentemente, o título era usado apenas para Mao Tsé-tung, fundador da República Popular da China e seu dirigente até morrer, em 1976.

O Congresso, o vigésimo desde que o partido foi fundado em 1921, deve reunir quase 2.300 delegados do partido no Grande Salão do Povo, na Praça da Paz Celestial, em Pequim.

Xi Jinping deverá ser o primeiro dos três últimos secretários-gerais do PC a liderar o partido por três mandatos. Seus antecessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, tiveram apenas dois, embora não haja um limite formal. Em 2018, porém, a Constituição do país foi emendada para abolir o limite de dois mandatos para o chefe de Estado, instituído nos anos 1980. Espera-se que Xi seja reconfirmado na Presidência no início do próximo ano.

Xi deve se consolidar como o mais poderoso líder chinês desde Mao, fortalecido pela resolução sobre a História aprovada em 2021, que o equiparou ao status de Mao e Deng Xiaoping, que iniciou as reformas capitalistas. No entanto, analistas respeitados da política chinesa, como o historiador Wang Gungwu, considerado o maior sinólogo da Ásia, consideram que comparar Xi a Mao é exagerado — em uma entrevista ao GLOBO em agosto, ele disse que o nível de poder dos dois não é o mesmo, já que o atual presidente precisa negociar com os demais dirigentes do PC.

Protestos contra os altos dirigentes são raros na China, ainda mais durante o dia e sob a vigilância de câmeras de segurança, mas refletem a frustração com as restrições anti-Covid em vigor na capital. As regras são mais duras que em boa parte do país, diante das tentativas do governo de conter surtos antes do aguardado evento quinquenal.

Nos últimos meses, a estabilidade tem sido a palavra de ordem no governo, evitando que os preparativos para o evento sejam atrapalhados. Depois do protesto, as autoridades parecem inclusive ter limitado as buscas pela Ponte Sitong no Weibo, a principal rede social chinesa: apenas duas menções aparecem para o local, ambas de contas do governo. Há múltiplas postagens para outras pontes de Pequim.

Nos últimos dias, banners vermelhos apareceram por Pequim em comemoração ao Congresso, mas também há um aumento dos materiais na mídia estatal pedindo para que o povo "fortaleça sua confiança e tenha paciência" com as medidas sanitárias. Dezenas de milhares de pessoas são obrigadas, a cada três dias, a fazer testes para o coronavírus, cujos comprovantes são essenciais para entrar em prédios. O uso de máscara também é obrigatório.

As autoridades também restringiram a entrada na cidade e orientaram moradores a não deixarem Pequim. Muitas pessoas que viajaram em um feriado nacional nos últimos dias, por exemplo, perceberam que seus aplicativos oficiais que monitoram o quadro sanitário — fundamentais para transitar pelo país — indicavam que estavam com risco de contágio. Logo, não puderam voltar para a capital. Outros viram a mudança já em casa, e foram forçados a fazer quarentena.

"Não entendo por que Pequim fez isso. Não posso ir trabalhar, estou prestes a perder o meu emprego. Estou tão frustrado. Quando isso vai acabar?", comentou um usuário na rede social Weibo, segundo a BBC.

Outro internauta chamou a política de "Covid zero" de "nada razoável", afirmando que ela prejudica a credibilidade do governo. Um terceiro usuário comentou: "Nós sofremos tudo isso só porque alguém tem que fazer uma reunião", disse ele, refletindo um sentimento de ira que parece ter aumentado nos últimos dias após uma série de incidentes, como um acidente de ônibus que matou 27 pessoas que eram levadas para centros de quarentena.

Pelo quarto dia consecutivo na quarta-feira, autoridades defenderam as medidas sanitárias — desta vez, Liang Wannian, especialista da Comissão de Saúde Nacional, disse que os impactos econômicos são inevitáveis, mas que a abordagem é "científica e efetiva". Segundo ele, a política de Covid zero reduz infecções e casos de Covid longa.

— Com base nessas considerações, é necessário que a China persista — disse ele, em um momento em que boa parte do mundo já vive quase sem restrições sanitárias e vê uma queda drástica na gravidade dos casos de Covid devido à vacinação.

Segundo Pequim, mais de 1 milhão de pessoas tiveram Covid desde o início da pandemia, a primeira vez que o total é divulgado em público desde a eclosão da crise sanitária, no fim de 2019. O número corresponde a 0,07% de toda a população do país. Ao todo, morreram 5.226 pessoas — número que no Brasil chega a 687 mil, com mais de 34 milhões de infecções confirmadas.

Cerca de 90% da população chinesa está completamente vacinada contra a Covid. Entre aqueles com mais de 60 anos, a taxa passa de 86%, de acordo com números desta quinta.

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