Sem apoio, o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou neste domingo que não irá mais disputar a liderança do Partido Conservador. Após a renúncia de sua sucessora Liz Truss depois de apenas 44 dias à frente do governo, abatida em plena decolagem pela ampla resistência a seu plano econômico ultraliberal, Boris não havia anunciando oficialmente sua candidatura, mas disse a apoiadores que queria concorrer, chegando a angariar o apoio de sete ministros. Com a desistência, o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, que confirmou neste domingo que irá concorrer ao cargo, fica mais perto de se tornar o líder do partido e, consequentemente, premier.
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Após interromper as férias no Caribe e voltar a Londres, Boris conversou com os dois principais rivais — além de reunir-se com Sunak na noite deste sábado, ligou para a ministra Penny Mordaunt — em um esforço para convencê-los a embarcar em sua tentativa de voltar ao cargo. Mas, após chegar a apenas 60 apoiadores declarados, segundo o jornal The Guardian, entre os parlamentares do partido na noite de domingo, bem abaixo do limite mínimo de 100 necessários para poder se candidatar, o polêmico ex-premier, que renunciou há poucos meses, anunciou que abandona a disputa.
Sunak tem mais de 140 apoiadores, enquanto Mordaunt conta hoje com 25.
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— Infelizmente, nos últimos dias cheguei à conclusão de que simplesmente não seria o correto. Não se pode governar com eficácia se não há um partido unido no Parlamento — justificou-se Boris, que alegou, porém, ter alcançado o apoio de 102 parlamentares e apresentar "boas chances" de vitória. — Acho que a melhor coisa agora é não permitir que minha candidatura avance. Acredito que tenho muito a oferecer, mas temo que não seja o momento certo.
Mais cedo, Sunak anunciou no Twitter que seria candidato para "endireitar" a economia do país e "unir" o Partido Conservador. O ex-ministro chegou na frente de Truss na disputa pela chefia da legenda, após a saída de Boris, na votação entre os parlamentares, mas perdeu na votação entre os milhares de filiados ao partido.
"O Reino Unido é um grande país, mas estamos enfrentando uma profunda crise econômica", tuitou, confirmando a candidatura. "Estou concorrendo para ser o líder do Partido Conservador e seu próximo primeiro-ministro."
Boris levou o Partido Conservador a uma confortável vitória na eleição geral de 2019, pleito que ele mesmo decidiu convocar antecipadamente apostando que conseguiria aumentar sua maioria parlamentar para aprovar o acordo do Brexit.
Mas seu mandato foi marcado por uma sucessão de escândalos. Entre eles, a multa que o então premier recebeu por participar de festas na sede do governo enquanto milhões de britânicos faziam quarentena devido à Covid-19, restrições sanitárias implementadas e defendidas por seu próprio Gabinete. Muitos britânicos também veem Boris como uma figura polarizante.
Os conservadores perderam eleições extras em vários distritos nos meses derradeiros de Boris no poder. O golpe fatal contra o então premier foram os pedidos de demissão, em apenas dois dias, de 60 funcionários de diversos escalões de seu governo, que alegavam não haver mais condições para continuar.
O partido tem 347 assentos na Câmara dos Deputados, o que significa que haverá no máximo três nomes na disputa — e a maioria dos comentaristas políticos acreditava não haver muita vontade de entregar as chaves de Downing Street novamente ao seu antigo ocupante.
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