O presidente peruano, Pedro Castillo, chamou de "golpe de Estado" a denúncia apresentada pela Procuradoria da República, na noite de terça-feira ao Congresso, que o acusa dos supostos crimes de organização criminosa, tráfico de influência e conluio. De acordo com analistas políticos peruanos, a partir da denúncia, os parlamentares podem decidir se afastam ou suspendem o presidente do cargo.
— Quero informar à comunidade internacional que hoje começou uma nova forma de golpe de Estado no Peru— disse Castillo em uma entrevista coletiva no palácio presidencial, horas depois.
A denúncia foi entregue ao Congresso, dominado pela oposição de direita e onde Castillo, que tomou posse há 15 meses, já escapou de dois processos de impeachment, o último deles em março. O presidente tem imunidade e não pode ser julgado enquanto estiver na Presidência. Seu mandato constitucional termina em 28 de julho de 2026.
A denúncia da Procuradoria foi feita no mesmo dia em que os promotores ordenaram uma operação na casa da irmã do presidente, em busca de um sobrinho dele, Gianmarco Castillo Gómez, acusado de pertencer à suposta quadrilha, juntamente com outros parentes e associados políticos, incluindo dois ex-ministros. Nas declarações, Castillo também garantiu que há uma "perseguição" aos funcionários do Executivo "e seu ambiente mais próximo".
— Eles criaram investigações contra nós, e hoje está sendo feita uma acusação constitucional sabendo que a própria Constituição dá ao governo prerrogativas de liderar o país e que, segundo eles, estão fundamentando uma acusação que nunca cometemos — afirmou.
Em um documento divulgado no Twitter, a procuradora-geral do país, Patricia Benavides, acusou o presidente de ser o "suposto autor de delitos contra a tranquilidade pública na modalidade de organização criminosa agravada por sua condição de líder". A chefe do Ministério Público ainda acusou Castillo de tráfico de influência agravado e conluio agravado.
Imóveis de outros 12 investigados no mesmo processo foram revistados na operação, realizada simultaneamente em várias cidades do Peru, com a participação de 200 policiais e 60 promotores.
Mais cedo, o presidente peruano já havia criticado a operação na casa de sua irmã, em Lima. Ele afirmou que sua mãe, Mávila Díaz Terrones, de 77 anos, recupera-se de uma cirurgia no local e acusou o Ministério Público de ter prejudicado a saúde da idosa, que precisou ser levada de ambulância para um hospital, segundo a imprensa peruana.
A operação desta terça-feira ocorreu um mês após um juiz decretar a prisão preventiva de Yenifer Paredes, cunhada de Castillo, por 30 meses. Paredes, acusada de envolvimento na rede de corrupção, entregou-se à polícia após ser alvo de uma operação de busca e apreensão na sede do governo e na residência oficial.
O Congresso deve discutir nos próximos dias a denúncia que pode levar à suspensão de Castillo, para a qual são necessários 66 dos 130 votos da Câmara. O futuro do presidente se torna sombrio, uma vez que a aliança de esquerda que o apoia no Congresso tem apenas um terço das cadeiras, o que é insuficiente para impedir a sua suspensão, que implica o afastamento do cargo até o fim do mandato. A imunidade, no entanto, será mantida, o que não evita que ele possa ser investigado.