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Por The New York Times — Waterbury, EUA

O conspiracionista e apresentador de rádio Alex Jones precisará pagar US$ 965 milhões (R$ 5,1 bilhão) para os parentes de oito vítimas do massacre na escola primária Sandy Hook, no estado americano de Connecticut, em 2012. O veredicto é um forte golpe contra um dos maiores símbolos da onda de desinformação que tomou conta da política americana — e global — nos últimos anos.

Por anos, Jones disse que o ataque que matou 26 pessoas, incluindo 20 crianças entre 6 e 7 anos, foi uma farsa do governo para apresentar leis que limitassem o acesso a armas de fogo. Com o apresentador diante da ruína financeira, não está claro qual parcela do valor total irá parar nas mãos dos 15 autores do processo, que se abraçaram em meio a lágrimas após o juíz terminar de ler a decisão, ainda passível de recurso.

O maior beneficiado será Robbie Parker, que perdeu sua filha Emilie no massacre — ele deverá receber US$ 120 milhões (R$ 635,2 milhões) de Jones, decidiu a Justiça estadual. Por anos, o radialista apontava os dedos para Parker em seu programa Infowars e em seu site, acusando-o de ser um ator que fingiu sua homenagem "nojenta" para a menina.

— Todo dia naquele tribunal, nós levantamentos e dissemos a verdade — disse Parker, que recebe ameaças de morte e é alvo de bullying nas redes há anos. — Dizer a verdade não devia ser tão difícil e não devia ser tão assustador (...). Para qualquer um que ainda escolhe ouvir aquele homem [Jones], apenas se pergunte: o que ele já deu para vocês?

Falência ou manobra?

Segundo levantamentos da imprensa americana, Jones não tem dinheiro suficiente para pagar o demandado pela Justiça: em agosto, um economista forense estimou que o império midiático do conspiracionista vale no máximo US$ 270 milhões (R$ 1,4 bilhão). Naquele mesmo mês, no entanto, a empresa responsável por seu império midiático — a Free Speech Systems — declarou falência, algo que Jones creditou a uma dívida de US$ 54 milhões em uma de suas companhias.

Nos últimos anos, contudo, a renda anual do apresentador frequentemente ultrapassou US$ 50 milhões: faz propagandas de produtos que vão de suplementos alimentares a equipamentos para armas. Ele também usou o julgamento atual em Connecticut, além de outro encerrado em agosto no Texas — lá, foi obrigado a pagar mais de US$ 50 milhões para os pais de duas crianças mortas —, para pedir doações que ajudassem com os custos de sua defesa e para promover suas vendas.

As famílias de Sandy Hook questionam na Justiça a declaração de falência, alegando que o homem apenas deseja driblar as indenizações que deve pagar.

O apresentador transmitiu ao vivo em suas redes o veredicto do júri popular — diferentemente do Brasil, onde o recurso é usado apenas crimes dolosos contra a vida, nos EUA podem valer para qualquer caso criminal. Durante a transmissão, não mostrou remorso:

— Eles omitiram o que aconteceu de verdade, e agora eu sou o diabo — disse ele. — Na realidade, estou orgulhoso de estar sob este nível de ataque.

A indenização desta quarta será dividida entre os 15 autores do processo, entre eles pais, irmãos, filhos e cônjuges das vítimas do ataque, um dos piores massacres escolares da História americana. Há entre eles também um funcionário do FBI citado nas teorias conspiracionistas.

Durante as duas semanas de julgamento, os parentes mostraram como Jones ignorou por anos os apelos para que parasse de veicular as mentiras, que impulsionavam suas vendas e sua audiência. No tribunal, testemunhas relataram histórias de abuso, xingamentos e ameaças — inclusive de assédio sexual e de morte — motivadas pelas mentiras do apresentador.

Jones deu um depoimento explosivo, em que disse estar “cansado de pedir desculpas”, enquanto números mostravam a enorme repercussão de suas teorias nas redes sociais.

Em meados de 2018, famílias de 10 vítimas abriram quatro processos de difamação diferentes contra o apresentador, que depois foram combinados em três ações paralelas. Além de parar a campanha de Jones, queriam chamar atenção para a desinformação e as narrativas falsas promovidas por pessoas com forte presença on-line, raramente responsabilizadas.

Até então um conspiracionista de menor projeção, Jones ganhou destaque após Sandy Hook. Suas acusações contra Parker, baseadas no fato do homem ter dado um sorriso nervoso ao ver o mar de câmeras que tinha em sua frente quando foi dar uma declaração sobre a morte de sua filha, ajudaram a impulsioná-lo.

O apresentador também ganhou fama por sua defesa ferrenha da Segunda Emenda da Constituição americana, que diz respeito ao direito dos cidadãos de andarem armados. Sua campanha de desinformação sobre Sandy Hook começou imediatamente após os ataques, em dezembro daquele ano, mas só ganharam maior repercussão na imprensa quando os processos foram abertos.

Trumpista ferrenho

Jones é também um grande defensor de Donald Trump desde a época que ele concorria à Presidência em 2016 — e os quatro anos do republicano à frente da Casa Branca puseram o homem no centro do debate político americano.

Desde então, ele teve um papel central em promover várias das mais notórias teorias conspiratórias nos EUA — do Pizzagate, a mentira de que os democratas traficavam crianças em uma pizzaria de Washington, a inverdades sobre a eleição de 2020, passando por desinformação sobre as vacinas. Hoje, em parte graças a ele, quase um quinto dos americanos acreditam que massacres notórios foram encenados, geralmente pelo governo.

Jones também está na mira do Departamento de Justiça pelo papel que exerceu na invasão do Capitólio americano por turbas pró-Trump em 6 de janeiro de 2021, no momento em que o Congresso realizava uma sessão conjunta para confirmar a vitória do presidente Joe Biden. Ele, que transmitiu os evento do dia ao vivo, também está sob escrutínio da comissão da Câmara que faz um julgamento político do mesmo episódio — o grupo bipartidário fará uma audiência pública na quinta.

No ano passado, juízes no Texas, onde o Infowars é sediado, e em Connecticut, consideraram que Jones não colaborou com as investigações e abriram caminho para novas ações, que devem resultar em novas indenizações. Além do veredicto de agosto no estado sulista e do desta quarta, há ainda um terceiro julgamento que deve ocorrer ainda neste ano, movido pelo pai e pela mãe do menino Noah Pozner, uma das vítimas do ataque.

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