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Por O Globo e agências internacionais — Roma

Primeira política de extrema direita a governar a Itália desde que Benito Mussolini chegou ao poder há 100 anos, a premier Giorgia Meloni negou ter qualquer “proximidade” ou “simpatia” pelo fascismo em sua primeira fala ao Parlamento nesta terça-feira. Horas antes de receber o voto de confiança que deu o pontapé inicial na nova gestão, ela declarou lealdade à União Europeia e suas regras, mas disse que fará sua voz ser ouvida ao propor reformas ao bloco.

Filha política de uma organização herdeira das ideias do ditador, a líder do Irmãos da Itália (FdI) e primeira mulher a governar a Itália evitava até hoje condenar seus atos. Durante a fala, afirmou que as leis raciais introduzidas por Mussolini em 1938 contra judeus, negros e outras minorias foram “o ponto mais baixo da História italiana e uma vergonha que marcará nosso povo para sempre”:

— Nunca tive nenhuma simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo — disse a premier empossada no sábado, prometendo “não se desviar sequer um centímetro” dos valores democráticos e “lutar contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação.

Meloni e seu Gabinete não enfrentaram dificuldades para serem confirmados, já que o seu FdI e os partidos aliados — a Liga, também de extrema direita, e o Força Itália, de centro-direita — têm a maioria tanto na Câmara quanto no Senado. Foram 235 votos a favor, 154 contrários e cinco abstenções.

A fala de 70 minutos no Legislativo é parte importante dos procedimentos políticos no país, em que o governo ascendente deixa claro sua agenda e responde a indagações da oposição. O povo italiano, disse ela, “não deve receber lições de fora”, tom que repetiu mais tarde durante uma réplica ao dizer que "nunca será líder de torcida de ninguém", definindo como missão única a defesa dos "interesses italianos".

— Apenas um país que respeita plenamente as regras pode ter autoridade suficiente para demandar no nível europeu e ocidental que o custo da crise energética internacional seja dividido mais igualitariamente — afirmou ela, dizendo que Roma “fará sua voz ser ouvida claramente na UE, como um membro fundador deve fazer”.

O objetivo não é “desacelerar ou sabotar a integração”, mas “garantir que estaremos mais bem posicionados para reagirmos a crises e ameaças externas”, afirmou a nova premier, pouco antes de fazer críticas à decisão do Banco Central Europeu de aumentar os juros. A medida, disse ela, é uma “escolha imprudente” que ameaça o crédito para famílias e negócios.

A questão europeia é chave para Meloni e seu ministro das Finanças, Giancarlo Giorgetti, que terão pela frente a complexa missão de executar o plano de recuperação pós-Covid de € 200 bilhões (R$ 1,02 tri) elaborado em parceria com o bloco europeu. A medida exige a adoção de reformas em um país onde a dívida pública passa de 150% do PIB, uma dor de cabeça perpétua para o Banco Central Europeu.

Guerra na Ucrânia

Meloni chegou a sugerir durante a campanha que poderia rever alguns dos pontos já anunciados — motivo de discórdia inclusive entre sua coalizão —, o que desencadeou hesitações entre críticos. As ansiedades também devem-se ao fato de a nova premier ter feito diversas declarações eurocéticas ao longo dos anos, das quais vem tentando se afastar desde que ficou claro que seria a nova governante da terceira maior economia do bloco.

Outro ponto de hesitação dizia respeito à guerra na Ucrânia. Apesar de Meloni ser uma defensora da ajuda a Kiev, seus parceiros de coalizão têm históricos de maior proximidade com Vladimir Putin. O líder da Liga, Matteo Salvini, já deu declarações simpáticas ao Kremlin, enquanto o mandachuva do Força Itália, o ex-premier Silvio Berlusconi, é um amigo de longa data do presidente russo.

Às vésperas do anúncio do acordo do novo governo, na sexta, foi vazado também um áudio em que Berlusconi exalta sua amizade com Putin — afirma que recebeu 20 garrafas de vodca de presente e que trocaram "cartas muito doces" após o presidente russo completar 70 anos no mês passado. Tanto o ex-premier quanto Salvini tentam se distanciar de Moscou, contudo, e as declarações de Meloni nesta terça também foram nesse sentido:

— Há aqueles que acreditam que é possível trocar a liberdade da Ucrânia pela tranquilidade de nossa consciência. Ceder às chantagens energéticas de Putin não vai resolver o problema, só vai agravá-lo ao pavimentar o caminho para mais demandas e chantagens, com novos aumentos do preço da energia, inclusive superiores aos registrados nos últimos meses.

Economia em pauta

Meloni dedicou grande parte de sua fala às medidas econômicas, afirmando que “a difícil situação em que a Itália se encontra não permite perder tempo”. Deixou claro que seu governo pretende implementar cortes fiscais para os mais ricos e disse que o controle inflacionário será um “assunto prioritário” — neste sentido, disse que planeta “reforçar as medidas de apoios a casas e empresas”, reconhecendo que as medidas devem esgotar “grande parte dos recursos disponíveis”.

— Algumas propostas não agradarão, mas cumpriremos nossos compromissos — disse ela, ao lado de seus vice-líderes Salvini e Antonio Tajani, da Liga.

O fundo de recuperação europeu, disse ela, será gasto “sem demora e sem desperdício”, afirmando que tais assuntos devem ser enfrentados “de forma pragmática, não ideológica”. Prometeu ainda proteger “as infraestruturas estratégicas nacionais”, garantindo que continuem estatais, e um alívio da carga tributária para quem ganha até € 100 mil anuais.

Ao fim do seu discurso, Meloni se retratou como uma forasteira na política italiana, afirmando que é uma daquelas pessoas “que, para serem bem-sucedidas, precisam desafiar todas as expectativas”. Ela, contudo, é deputada desde 2006 e já foi inclusive ministra de Berlusconi entre 2008 e 2011. Também comentou sobre ser a primeira mulher a governar o país.

— Entre os pesos que tenho nas costas está o de ser a primeira mulher a chefiar o governo. É uma responsabilidade diante de muitas mulheres que enfrentam dificuldades para afirmar seu talento e ver seu sacrifício diário apreciado e também das que criaram a escada que me permitiu subir e quebrar o pesado teto de vidro — afirmou, citando uma lista de mulheres que a inspiraram.

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