Imediatamente após ser nomeada primeira-ministra, a líder da sigla de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), Giorgia Meloni, anunciou como será o novo Gabinete do país. Com poucos nomes de destaque político e fraca presença feminina — as mulheres chefiarão apenas seis dos 24 ministérios —, a lista sintetiza a divisão de forças entre a coalizão tripartite que reúne o FdI, a Liga e o Força Itália.
Os dois vice-primeiro-ministros de Meloni serão Antonio Tajani, do Força Itália, o partido do ex-premier Silvio Berlusconi, e Matteo Salvini — o mandachuva da Liga volta ao cargo após tê-lo ocupado entre 2018 e 2019, durante o primeiro governo de Giuseppe Conte, quando o partido governava em coalizão com o Movimento 5 Estrelas (M5S).
O FdI somará nove ministérios, enquanto os partidos aliados terão cada um cinco. As pastas restantes ficarão sob o comando de tecnocratas. Com a exceção da premier e de seus vices, são em sua maioria nomes menos notórios para os italianos.
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A demora de quase um mês para a negociação do Gabinete depois do pleito legislativo de 25 de setembro, que deu à FdL mais que a soma dos votos de seus parceiros de coalizão, foi em grande parte culpa do jogo que Meloni precisou fazer para agradar a seus aliados. Em especial, das demandas de Berlusconi, que perde cada vez mais força no eleitorado italiano. Para as pastas-chave, predomina a moderação.
Além de ocupar o posto de vice-premier, Tajani também comandará o Ministério das Relações Exteriores. Assim que ficou claro que Meloni provavelmente seria a nova chefe de governo, aumentaram os temores do que isso significaria para a relação entre a terceira maior economia da zona do euro e Bruxelas, já que a nova primeira-ministra ao longo dos anos fez incontáveis declarações contra a União Europeia (UE).
Desde então, Meloni vem reforçando seu comprometimento com a UE para acalmar os ânimos regionais. A decisão de nomear Tajani, que presidiu o Parlamento Europeu de 2017 a 2019 e foi eurodeputado por 24 anos, também vai nessa direção, apesar de quase ter ido por água abaixo após o vazamento de uma gravação em que Berlusconi afirma ter recebido 20 garrafas de vodca de presente de Vladimir Putin.
Já Giancarlo Giorgetti, da ala considerada moderada da Liga, ficará com a Economia, após Meloni se deparar com dificuldades para encontrar um tecnocrata disposto a assumir o cargo. Ao menos dois outros nomes — Fabio Panetta, atual conselheiro do BCE, e o ministro da Economia demissionário, Daniel Franco — foram sondados.
Giorgetti, atual ministro de Desenvolvimento Econômico no governo do premier demissionário Mario Draghi, é próximo dos empresários do Norte italiano e distante das alas mais estridentes do partido. A missão que tem pela frente, entretanto, não é das mais fáceis, já que precisará executar o plano de recuperação pós-Covid de € 200 bilhões (R$ 1,02 tri) elaborado em parceria com a UE e que exige a adoção de reformas no Estado — tema que deve ser um dos vários a provocar atritos na coalizão nascente.
Sua nomeação também é uma jogada estratégica de Meloni: ao nomear um político da Liga, tenta evitar que Salvini se oponha a propostas dela, como a reforma da Previdência e uma alíquota única para o Imposto de Renda de pessoas físicas.
Justiça, Defesa e Interior
Outro posto-chave é a Justiça, cuja indicação era reivindicada por Berlusconi, que tem contra si vários processos judiciais. Meloni reivindicou a nomeação e o FdI acabou escolhendo Carlo Nordio após semanas de disputas. Nordio tem uma carreira extensa como juiz e procurador, participando de grandes casos de corrupção e processos contra as Brigadas Vermelhas, organização armada de extrema esquerda durante os chamados anos de chumbo, na década de 1970.
O Interior ficará com Matteo Piantedosi, indicado pela Liga. Era uma nomeação demandada por Salvini, que ocupou a pasta enquanto foi vice-premier e implementou draconianas políticas anti-imigração, fechando inclusive os portos italianos para navios de ONGs que resgatam imigrantes no mar.
A Defesa ficará com Guido Crosetto, cofundador do FdI e braço-direito de Meloni. É da ala mais democrata cristã do partido, pró-Europa e com bom trânsito político. Já o eurodeputado Raffaele Fitto, que lidera o grupo conservador no Parlamento Europeu, chefiará a pasta de Assuntos Europeus.
Veja abaixo com quais pastas cada partido ficará:
- Irmãos da Itália: Relações Parlamentares; Desenvolvimento Econômico (que será rebatizado para "Desenvolvimento e Made in Italy"); Defesa; Assuntos Europeus; Turismo; Família, Natalidade e Igualdade de Oportunidades; Justiça; Agricultura e Soberania Alimentar; Políticas do Mar e do Sul.
- Liga: Infraestrutura; Economia; Assuntos Regionais e Autonomias; Deficiência; Educação e Mérito.
- Força Itália: Relações Exteriores; Administração Pública; Reformas; Meio Ambiente e Soberania Energética; Universidades.
- Técnicos: Esporte e Juventude; Interior; Cultura; Saúde; Trabalho; Políticas Sociais.
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