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Por O Globo — Londres

O Reino Unido terá pela primeira vez em sua História um chefe de governo não branco, hindu e descendente de indianos. Após a desistência dos outros concorrentes, os parlamentares do Partido Conservador escolheram nesta segunda-feira o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak como seu líder e, consequentemente, como o terceiro primeiro-ministro que os britânicos terão em sete semanas — e o segundo consecutivo a não ser escolhido pelo voto popular.

Vice na disputa entre os filiados do partido, que no mês passado escolheram Liz Truss para liderar a sigla, Sunak é defensor de uma maior ortodoxia econômica e terá como missão principal consertar o caos herdado de sua antecessora. Pressionada após seu plano econômico ultraliberal ser mal recebido pelos mercados, ela renunciou na quinta após 44 dias no cargo, aumentando os problemas de um país à beira da recessão, com juros crescentes e onde a inflação de 10,1% em termos anualizados é a maior em quatro décadas.

— Poder servir ao partido que eu amo e retribuir a este país para o qual eu devo tanto é o maior privilégio da minha vida — disse Sunak em uma breve declaração. — O Reino Unido é um grande país, mas não há dúvidas de que enfrentamos um desafio econômico profundo. Agora precisamos de estabilidade e unidade, e farei de minha prioridade principal unir o nosso partido e o país — completou ele, prometendo "servir com integridade e humildade".

Como o Partido Conservador tem a maioria no Parlamento, seu líder torna-se também chefe de governo no sistema parlamentarista britânico. Pelo processo partidário, é de praxe que a decisão final passe pelos seus filiados, mas desta vez nem isso ocorreu: em regras aceleradas, a escolha coube exclusivamente aos deputados conservadores.

Mais bem avaliada nas pesquisas, a oposição questiona o mandato do novo e multimilionário premier, pedindo a antecipação do pleito previsto para janeiro de 2025 — algo que Sunak indicou para aliados que não fará, alegando que sua legenda está sofrendo uma "ameaça existencial". Ele será empossado pelo rei Charles III na terça, transformando-se aos 42 anos no governante mais jovem do país desde o século XIX.

Cada candidato à liderança conservadora precisava receber o endosso de ao menos 100 dos 357 parlamentares da legenda até às 14h desta segunda (10h no Brasil). Sunak já tinha 202 apoiadores quando sua adversária restante, a ex-secretária do Comércio Exterior Penny Mordaunt, divulgou um comunicado a um minuto do prazo final anunciando sua desistência e declarando "apoio total a Rishi".

Pedidos de eleição geral

Mordaunt teve o apoio de 90 colegas, segundo o Financial Times, dez a menos que o necessário para que a decisão fosse encaminhada aos filiados do Partido Conservador. Se ela alcançasse 100, os membros da sigla participariam de uma votação on-line até sexta.

Mesmo que a escolha fosse para a segunda rodada, seria pouco representativa: o Partido Conservador tem apenas 172.437 filiados, ou 0,3% dos 66 milhões de britânicos. Os pedidos por eleições antecipadas — as últimas ocorreram no final de 2019 — vieram imediatamente de grupos opositores e até mesmo de correligionários críticos ao seu novo líder.

"Os conservadores coroaram Rishi Sunak como primeiro-ministro sem que ele dissesse sequer uma palavra sobre como governaria o país, e sem que ninguém tivesse a possibilidade de votar", disse a vice-líder trabalhista, Angela Rayner, em comunicado. "Precisamos de uma eleição geral para que o público tenha voz no futuro do Reino Unido."

Para os conservadores, ir às urnas neste momento seria catastrófico: segundo o agregador de levantamentos do site Politico, o partido governista teria 21% dos votos, contra 53% dos trabalhistas. A aliados, o novo líder classificou a situação atual da legenda como uma "ameaça existencial".

Grandes desafios

Além da desistência de Mordaunt, outro fator-chave para que a disputa conservadora não se prorrogasse por uma semana foi a decisão do ex-premier Boris Johnson de não tentar um segundo mandato. Apesar de Boris dizer que havia conseguido o apoio de mais de 100 colegas, incluindo sete ministros, apenas cerca de 60 nomes o endossavam formalmente até domingo.

Foram as renúncias de Sunak e de seu amigo Sajid Javid, então ministros das Finanças e da Saúde, que catalisaram a queda de Boris no início de julho, após meses de escândalos consecutivos. A manobra fez correligionários críticos acusarem Sunak de implodir propositalmente o governo, mas o consolidou como um dos favoritos à sucessão, chegando a vencer na fase preliminar daquela corrida, restrita ao voto dos parlamentares.

A decisão final coube aos filiados do Partido Conservador, contudo, que preferiram as promessas de Truss: entre elas, os maiores cortes fiscais em 50 anos, sem medidas compensatórias. Já Sunak prometia "consertar a economia", mantendo os impostos até que a situação pós-pandemia, complicada pelo divórcio britânico da UE e pela crise energética desencadeada pela guerra na Ucrânia, se ajeitasse.

A tendência é de que ele mantenha Jeremy Hunt, outro defensor do conservadorismo fiscal, à frente das Finanças — Hunt foi nomeado há apenas 10 dias, em uma tentativa fracassada de Truss de salvar seu próprio pescoço. Um plano a médio prazo para reduzir a dívida britânica deve ser apresentado ao Parlamento no dia 31 de outubro, como previsto antes mesmo da troca em Downing Street.

Promessas econômicas

Sunak tornou-se um dos políticos mais célebres do país em 2020 com seu enorme pacote de auxílios para mitigar os efeitos da Covid-19. Após os benefícios chegarem ao fim e o impacto da crise ficar claro, contudo, viu a popularidade minguar, impacto piorado após ser multado, tal qual Boris, por participar de festas durante a quarentena.

Mais velho dos três filhos de um médico e de uma farmacêutica, Sunak é neto de indianos que emigraram da África Oriental britânica na década de 1960. Muitos críticos, no entanto, acusam o novo líder conservador de estar desconectado da realidade.

Aluno de universidades de elite e o parlamentar mais rico de todo o Reino Unido, ele acumulou uma fortuna estimada em 730 milhões de libras (R$ 4,37 bilhões) trabalhando para empresas financeiras como a Goldman Sachs. A percepção não é favorecida por seu casamento com a filha de um bilionário indiano — que nos últimos meses se viu envolvida em um escândalo por não pagar Imposto de Renda no Reino Unido.

Independentemente dos aspectos políticos, contudo, analistas apontam para a simbologia de sua ascensão ao comando de um país cujo poder é indissociável da exploração de outros povos — até o início do século passado, o império britânico englobava quase um quarto do planeta, inclusive a Índia. Sunak chega ao poder também apenas oito anos após o referendo do Brexit, divórcio que ele mesmo apoiou, mas que foi fortemente motivado pelo sentimento anti-imigração.

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