O acordo que permite a exportação de grãos pelos portos ucranianos no Mar Negro, evitando o bloqueio naval russo, foi renovado por mais 120 dias, anunciaram nesta quinta-feira os governos de Turquia, Rússia e Ucrânia, além das Nações Unidas. O plano foi o único firmado entre Kiev e Moscou desde o início da invasão russa, em fevereiro, e é considerado vital para garantir as entregas de alimentos a milhões de pessoas.
“De acordo com a resolução alcançada pela Turquia, Nações Unidas, Federação Russa e Ucrânia, a Iniciativa de Grãos do Mar Negro foi estendida por mais 120 dias, a começar no dia 19 de novembro de 2022, como resultado de discussões quadrilaterais mediadas pela Turquia”, escreveu, no Twitter, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, um dos patrocinadores do pacto original firmado em julho, ao lado da ONU.
A extensão do plano era considerada urgente, uma vez que o prazo inicial expiraria no sábado — segundo o líder turco, desde sua implementação foram transportadas mais de 11 milhões de toneladas de grãos e outros tipos de alimentos através de três portos ucranianos, Odessa, Chornomorsk e Pvidenny.
Pelo plano, foram estabelecidas rotas seguras a partir desses três portos, com inspeções regulares realizadas pelos quatro signatários para evitar o transporte de itens não previstos, como armamentos. Dali, os navios seguem para seus destinos finais.
Antes da guerra, a Ucrânia era uma das principais fornecedoras de alimentos do planeta, como trigo e óleo de girassol, além de fertilizantes, e a suspensão dos envios pôs em risco a segurança alimentar de dezenas de países, contribuindo para o aumento global da inflação.
“Dou as boas vindas a todos os participantes que continuarão com a Iniciativa de Grãos do Mar Negro para facilitar a navegação segura para a exportação de grãos, alimentos e fertilizantes da Ucrânia”, afirmou, no Twitter, o secretário-geral da ONU, António Guterres. “A iniciativa demonstra a importância da diplomacia discreta para encontrar soluções multilaterais.”
- Contas em dia?: Como a Rússia consegue pagar pela guerra na Ucrânia
Contudo, as conversas não ocorreram sem sobressaltos. A Ucrânia queria a expansão do plano, com a inclusão de um quarto porto, Mykolaiv, além da renovação por mais um ano — no Facebook, o ministro da Infraestrutura, Oleksii Kubrakov, afirmou que as 11 milhões de toneladas exportadas desde julho, embora consideráveis, “ainda não são o suficiente”. Segundo estimativas, antes do acordo a Ucrânia tinha mais de 20 milhões de toneladas de alimentos armazenados, e a capacidade de guardar grãos e outros itens estava chegando ao fim.
A Rússia foi contra as propostas de Kiev, e a Chancelaria declarou que não estava pronta para fazer mudanças neste momento. No mês passado, o país chegou a suspender sua participação no acordo, afirmando que os ucranianos, com apoio ocidental, estavam “militarizando” as rotas, usando-as para realizar ataques com drones, algo negado por Kiev. A decisão foi revertida dias depois após uma conversa entre Erdogan e o presidente russo, Vladimir Putin. Essa preocupação estava presente no comunicado do Ministério das Relações Exteriores russo.
"Também deve ficar absolutamente claro que qualquer tentativa de usar o corredor humanitário no Mar Negro para fins militares provocativos será resolutamente reprimida", diz o texto.
Moscou afirmou ainda que parte das 300 mil toneladas de fertilizantes retidas em portos russos começou a ser enviada para o exterior. Apesar de não haver sanções específicas contra produtos agrícolas russos, o Kremlin alega que as medidas afastam possíveis compradores — um acerto com a ONU prevê a facilitação desses envios, mas o governo russo diz que ainda não é o bastante, e que as vendas seguem abaixo dos níveis observados antes do início da guerra.
"Mais atrasos na implementação dessas entregas urgentemente necessárias são inaceitáveis", enfatizou a Chancelaria russa.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY