A aliança eleitoral liderada pelo partido de Daniel Ortega venceu por maioria esmagadora a disputa por 153 prefeituras nas eleições de domingo na Nicarágua, segundo um relatório com resultados preliminares, divulgado nesta segunda-feira pelo Conselho Supremo Eleitoral (CSE).
Mais de 3,7 milhões de nicaraguenses com mais de 16 anos foram convocados a votar para eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores nos 153 municípios do país, em um processo que a oposição no exílio descreveu como "uma farsa".
De acordo com o CSE, a aliança "Nicarágua Triunfa", liderada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), obteve o controle de todos os 112 municípios onde os resultados já foram divulgados, incluindo a capital Manágua.
— Concluímos com sucesso um exercício cívico e soberano —disse a presidente do CSE, Brenda Rocha, a jornalistas, 12 horas após o encerramento da votação no domingo e sem especificar o nível de participação.
Os sandinistas já controlavam, entre 2017 e 2022, 141 das 153 prefeituras em disputa, além de outras três que antes eram governadas pela oposição, mas cujos prefeitos foram substituídos por membros da FSLN. Por isso, líderes da oposição acreditam que o resultado eleitoral “consolidará” o poder de Ortega com o controle quase total dos governos locais.
A FSLN, originalmente de esquerda, participou das eleições junto com quatro partidos de direita que a oposição chama de "colaboradores", além de um partido indígena de duas regiões do Caribe. Segundo o bloco de oposição Unidade Nacional Azul e Branco, cuja liderança está no exílio, Ortega realizou "a farsa municipal para fortalecer seu controle absoluto" no país.
O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) expressou "preocupação" com as denúncias sobre a suposta prisão de pelo menos oito pessoas durante o processo eleitoral. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), por sua vez, lamentou na sexta-feira "a falta de condições mínimas" para "realizar eleições livres" na Nicarágua.
O observatório independente Urnas Abertas estima que a abstenção foi de 82,7%, e apenas 17,3% da população teria participado do pleito.
Nos últimos anos, o governo da Nicarágua fez ataques constantes ao Estado de direito. O país fez apenas 23 de 100 pontos na avaliação deste ano da organização americana Freedom House sobre a liberdade no mundo. O Brasil, para fins comparativos, marcou 73.
A erosão foi gradual, mas se intensificou após os protestos antigoverno de 2018, quando a duríssima repressão oficial deixou mais de 300 mortos, além de relatos de prisões extrajudiciais, torturas e desaparecimentos. Naquele ponto, Ortega estava no 11º ano de sua segunda passagem pelo poder.
O ex-guerrilheiro já havia comandado o país por outros 11 anos, de 1979 — quando a Revolução Sandinista pôs fim às quatro décadas de poder da família Somoza — a 1990. Voltou ao poder em 2007, e já está em seu quarto mandato consecutivo, conquistado em 2021 após prender e anular a candidatura de todos os seus potenciais rivais, em uma eleição de fachada.
Além de perseguir jornalistas e recentemente a Igreja Católica, o regime ordenou a prisão dos sete candidatos da oposição com mais chance de enfrentá-lo nas eleições presidenciais. Entre os detidos estão ex-guerrilheiros sandinistas, antigos companheiros de Ortega na luta contra a ditadura da família Somoza. Também foram presos analistas políticos, feministas, ativistas sociais e até empresários.
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