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Por Thayz Guimarães

A detenção na última quarta-feira de Luis Fernando Camacho, governador do departamento (estado) de Santa Cruz e um dos principais líderes da oposição na Bolívia, pelo descumprimento de uma intimação para depor expedida em outubro, provocou barulho apesar de ocorrer no período de festas entre o Natal e o Ano Novo. Seus apoiadores estão nas ruas desde quarta-feira e prometem uma greve nesta sexta na região mais rica do país.

Para Daniel Moreno, sociólogo boliviano e pesquisador da Ciudadanía (Comunidade de Estudos Sociais e Ação Pública), a decisão de prender Camacho no âmbito do processo que investiga sua participação na derrubada do ex-presidente Evo Morales, em 2019, foi “extremamente arriscada” e “imprudente”, com “consequências imprevisíveis” num país em que a Justiça historicamente segue os humores do governo de turno.

Se por um lado a prisão pode enfraquecer a oposição e fortalecer o presidente Luis Arce dentro de seu próprio partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), por outro pode impulsionar uma nova candidatura de Camacho à Presidência em 2025, depois de seu fracasso na disputa de 2020, quando ficou em terceiro lugar com 14% dos votos.

— Isso pode gerar o que já estamos vendo, uma rejeição popular [à prisão] nas ruas de Santa de Cruz, mas também pode fortalecer muito mais a posição de Camacho nacionalmente daqui para frente — disse Moreno.

O analista lembra que Santa Cruz tem sido o bastião da oposição aos governos do MAS desde 2005, quando Evo Morales foi eleito pela primeira vez.

— Isso vai além de um aspecto conjuntural, tem a ver com a própria legitimidade do Estado boliviano no departamento — afirma o sociólogo. — Muitas pessoas reagem negativamente não só ao governo, mas ao Estado como um todo, e levantam alternativas como o federalismo ou mesmo a secessão da Bolívia.

Para os analistas ouvidos pelo GLOBO, a prisão reflete uma tensão interna no MAS, e Arce não necessariamente sairá beneficiado dela. Morales, que deve disputar com o atual presidente a indicação do partido para concorrer à chefia do Estado em 2025, tem pressionado cada vez mais seu ex-ministro da Economia, e na quinta-feira comemorou a prisão no Twitter: “Finalmente depois de três anos, Luis Fernando Camacho responderá pelo golpe de Estado que levou a roubos, perseguições, prisões e massacres do governo de fato”, escreveu.

Marília Closs, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que a prisão ocorre em um país “extremamente polarizado” e que parece estar “preso em outubro e novembro de 2019”, quando Morales renunciou em meio aos protestos opositores, a um motim policial e a pressões dos militares. Na época, o então presidente havia acabado de ser eleito para um controvertido quarto mandato, em meio a denúncias de fraude nunca comprovadas.

— Quando se faz esse movimento, a tendência é que, inevitavelmente, a polarização aumente, porque não só os setores de extrema direita, como o Comitê Cívico de Santa Cruz, estão chamando a detenção de “sequestro”. A centro-direita, liberal, que se aglutina em torno do ex-presidente Carlos Mesa, que também apoiou o golpe de 2019, também está chamando de sequestro e pedindo mais manifestações — analisa Closs.

Para a especialista, a prisão de Camacho é “como mexer num vespeiro”, pois mobiliza paixões que a prisão da ex-presidente interina Jeanine Áñez, também acusada de golpismo, não foi capaz de agregar.

— O governo Arce enfrenta uma oposição muito maior à direita do que Morales enfrentou, mas também à esquerda e dentro do próprio partido, o MAS, que está muito rachado — diz ela.

Closs lembra que setores do MAS foram contra o governo na questão do adiamento do censo, que estava originalmente marcado para este ano e foi adiado por Arce para 2024. O adiamento da contagem da população, fundamental para definir verbas para as regiões e cadeiras no Legislativo nacional, provocou há dois meses o primeiro embate grave entre Arce e Camacho.

Em outubro, o governador de Santa Cruz promoveu protestos contra o adiamento que incluíram 36 dias de bloqueios de estradas no departamento. As manifestações terminaram com um acordo entre a oposição e o governo que garantiu a realização do censo a tempo de que a distribuição das cadeiras no Congresso seja feita antes das eleições de 2025.

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