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Por The New York Times — Washington

O filho de brasileiros George Santos, deputado eleito americano que mentiu extensamente sobre seu currículo e é alvo de investigações da Justiça, agora vê seus gastos de campanha sob escrutínio. Entre eles, US$ 11 mil gastos em um aluguel suspeito e US$ 40 mil em passagens aéreas — cifras que por si só não são ilegais, mas que chamam atenção por serem incomuns em campanhas para o Congresso.

A defesa nega irregularidades, apesar de haver uma série de pontos que especialistas consideraram estranhos nas prestações de conta da campanha e no patrimônio de Santos. Em 2020, ele declarou uma renda anual de US$ 55 mil, mas em 2022 afirmou ter doado US$ 700 mil do próprio bolso para financiar sua tentativa de chegar ao Congresso.

Em documentos, ele diz que sua empresa, a Organização Devolder, vale mais de U$ 1 milhão, e que ganhou milhões entre salário e dividendos nos últimos dois anos. Os documentos não nomeiam nenhum cliente, contudo, omissão que poderia causar problemas legais, já que todas os pagamentos acima de US$ 5 mil vindos de um só cliente precisam ser relatadas.

A prestação de contas da campanha também relata quase US$ 11 mil pagos por quatro meses para uma firma chamada Cleaner 123, justificados como "aluguel de apartamento para a equipe". Procurado por telefone pelo NYT, um representante confirmou que se trata de uma firma de limpeza, mas desligou antes de esclarecer por que tinha recebido aluguel de Santos.

O imóvel em questão, listado como endereço da Cleaner 123, é uma modesta casa em Huntington, nos subúrbios da cidade de Long Island, no estado de Nova York, e um vizinho disse que Santos vivia lá havia meses. Outras duas pessoas disseram que viram o deputado eleito e seu marido indo e vindo do imóvel, o que sugere que ambos moravam ali.

Segundo a Comissão Federal Eleitoral dos EUA, as campanhas não podem pagar as despesas pessoais de seus candidatos, incluindo aluguel e contas de serviços como luz e telefone. Vários especialistas de campanha afirmaram que pagar aluguel para funcionários é algo incomum e poderia ser um crime, mas que as autoridades raramente agem em casos desse tipo.

Na noite de quinta, Joe Murray, um dos advogados do deputado, disse por meio de um comunicado que os pagamentos à Cleaner 123 foram para gastos legítimos com funcionários que precisaram se mudar para o distrito. Ele reconheceu que houve gastos "imprudentes" de uma firma contratada pela campanha há mais de um ano, mas que não violaram a lei.

"Gastos de campanha para funcionários incluindo viagens, hospedagem e alimentação são gastos normais de qualquer campanha competente", diz a nota. "A insinuação de que a campanha de Santos se envolveu em qualquer gasto irresponsável dos fundos de campanha é absurda."

US$ 40 mil em voos

Há, contudo, outros exemplos de gastos suspeitos, como os US$ 40 mil em voos, quantia pouco usual para alguém que nunca tinha sido eleito deputado e precisava se apresentar para os eleitores do distrito pelo qual disputava a eleição. A quantia se equipara ao que é gasto anualmente em passagens aéreas por líderes do Congresso. A campanha também relatou mais de 30 despesas no valor de US$ 199,99, um centavo a menos do que o necessário para ser comprovado com recibo pela lei eleitoral americana.

No total, há mais de 800 itens com custo inferior a US$ 200, número que excede bastante o de outros deputados eleitos em sua mesma condição. Para Paul Ryan, especialista em lei eleitoral, o padrão dos gastos pode simbolizar um esforço de esconder o uso ilegal de fundos de campanha. Se isso for comprovado, o deputado eleito pode enfrentar problemas legais:

— Considero o uso dessa tática uma evidência forte de que houve uma violação da lei proposital e, portanto, se engloba nos requerimentos para um processo criminal.

Não há até o momento provas de irregularidades, mas as finanças de Santos são um dos alvos da investigação federal conduzida pelo escritório da Promotoria federal do Brooklyn, distrito da cidade de Nova York. Há ainda uma investigação estadual realizada no condado de Nassau, onde a promotora Anne Donnelly disse que as "várias invenções e incoerências associadas ao parlamentar eleito Santos são impressionantes".

Sob pressão

Santos está sob pressão desde que reportagens do New York Times revelaram discrepâncias na biografia divulgada durante sua campanha, que levaram o deputado eleito a admitir ter mentido sobre sua graduação no ensino superior e sobre um portfólio familiar com 13 imóveis, que na realidade não existe. Reconheceu também ter feito alegações enganosas de que havia trabalhado para o Goldman Sachs e o Citigroup, duas importantes firmas de Wall Street, e omitido um casamento de anos.

Ele também é réu pelo crime de estelionato em um processo no Tribunal de Justiça do Rio, e chegou a confessar o crime na delegacia, mas a ação acabou suspensa após Santos não ser localizado para a citação do processo. Em entrevistas nesta semana, ele negou quaisquer ações irregulares.

Deputados democratas demandam que Santos não tome posse com a nova legislatura em 3 de janeiro e seja punido, mas as lideranças republicanas mantêm-se em silêncio e não têm motivação política para fazê-lo. Expulsar o deputado forçaria uma eleição especial para o seu assento, algo arriscado para um partido cuja maioria será estreita: os republicanos terão 222 deputados, contra 213 democratas, e a vitória do filho de brasileiros foi chave para que retomassem o controle da Casa.

Pela lei americana, ele só pode ser impedido de tomar posse se tiver violado as regras constitucionais referentes a idade, cidadania e residência no estado pelo qual concorreu. Há dúvidas sobre o endereço de residência de Santos, cujo endereço no título de eleitor fica em Whitestone, no distrito nova-iorquino do Queens. O locatário, contudo, disse que ele se mudou de lá em agosto.

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