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Por O Globo e agências internacionais — Pequim

O presidente da China, Xi Jinping, rompeu nesta segunda-feira seu silêncio público sobre a pandemia desde que a política de Covid zero foi aliviada no início deste mês, demandando que, sob as novas circunstâncias, as autoridades locais tomem medidas para "proteger eficazmente" as vidas dos chineses. Apesar do surto sem precedentes que o país atravessa, Pequim não dá sinais de recuo na reabertura, e a partir de 8 de janeiro deixará também de exigir quarentena para quem viaja ao país, aliviando restrições fronteiriças em vigor há quase três anos.

"Atualmente, a prevenção e o controle da Covid-19 na China enfrentam uma nova situação e novas tarefas", disse Xi, segundo o canal estatal CCTV. "Devemos lançar uma campanha de saúde patriótica de um modo mais direcionado (...), fortalecer a linha comunitária de defesa para o controle e prevenção epidêmica e efetivamente proteger a vida, a segurança e a saúde das pessoas."

A fala do presidente foi para marcar o 70º aniversário das "campanhas de saúde patrióticas" para combater doenças como cólera, difteria, malária e tuberculose, tendo como foco a prevenção. Em sua fala, o presidente defendeu esforços para promover hábitos de higiene, uma vida saudável e informações de combate à crise sanitária atual.

Logo depois da fala de Xi, a Comissão Nacional de Saúde, principal órgão sanitário do país, anunciou que os viajantes vindos do exterior não precisarão mais fazer quarentena ao desembarcar, como era a regra desde março de 2020. A partir do dia 8, será necessário apenas mostrar um teste PCR com resultado negativo feito até 48 horas antes do embarque. No mesmo comunicado, a Comissão anunciou uma mudança na classificação da doença, tirando-a do nível mais grave que justificava as rígidas medidas restritivas.

“O novo coronavírus vai permanecer na natureza por um longo tempo. Ele se tornou bem menos virulento do que antes e a doença que causa está gradualmente se tornando uma doença respiratória comum", diz o comunicado, que promete dar prioridade ao tratamento dos casos mais graves aumentando a capacidade das unidades de tratamento intensivo.

A reabertura coincide com um aumento recorde das infecções entre os chineses, que sobrecarrega hospitais e dificulta o acesso a remédios antitérmicos e analgésicos, cenário complicado pelas taxas de vacinação relativamente baixas em idosos. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, o premier Li Keqiang também demandou esforços para garantir que o país dê conta da demanda por tratamentos e equipamentos de prevenção.

Na semana passada, dados vazados da ata de uma reunião da Comissão Nacional de Saúde estimavam que o surto estaria infectando cerca de 37 milhões de pessoas por dia — para fins comparativos, o recorde de casos confirmados no planeta em um único dia é 4 milhões, em janeiro deste ano. No domingo, a Comissão anunciou que interrompeu a divulgação diária de dados sobre novos casos, em meio a preocupações com a pouca transparência.

"Informações relevantes serão divulgadas pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças para referência e pesquisa", disse a entidade em um comunicado, sem especificar o motivo para as mudanças ou com qual frequência os números serão publicados.

Até o dia 14 de dezembro, com a testagem obrigatória para viagens e para frequentar lugares públicos, a Comissão de Saúde divulgava diariamente o número nacional de contágios, incluindo os assintomáticos, sendo o único país do mundo a fazê-lo. Desde então, porém, a exigência de testes PCR foi derrubada na maioria dos casos, os quiosques públicos de testagem foram desativados, e os chineses foram autorizados a usar os exames de farmácia, sem precisar reportar seus resultados.

Novo alívio

Atualmente, quem desembarca na China deve passar cinco dias em quarentena em uma instalação do governo e outros três dias em casa. Algumas pessoas, inclusive viajantes sem residência em território chinês, ficam oito dias nas instalações oficiais, regras que foram aliviadas gradualmente nos últimos meses. Até novembro, a quarentena era de dez dias, metade dos 21 dias obrigatórios até junho.

O país é a única grande potência global que ainda exige quarentena para viajantes internacionais, limitando o turismo internacional e os negócios. Na fronteira entre o continente e a cidade semiautônoma de Hong Kong, a exigência de quarentena será suspensa no dia 3.

A Comissão Nacional de Saúde também confirmou que a partir do dia 8 a Covid será enfrentada como uma doença de categoria B. Oficialmente, a Covid sempre foi enquadrada neste patamar na China, mas desde 2020 as autoridades lhe dão o tratamento destinado a doenças infecciosas de categoria A, a mais alta, equiparando-a à cólera e à peste.

O tratamento obrigava o governo a impor as duras restrições e possibilitava o alistamento de forças militares para ajudar na resposta sanitária. Com o rebaixamento, contudo, poderá ser tratada como uma enfermidade que exige apenas "tratamento necessário e medidas para conter o contágio", e autoridades locais não terão mais o poder de pôr comunidades inteiras em quarentena.

A mudança de categoria também deve gerar uma alteração na classificação do quadro viral, segundo o jornal South China Morning Post: o termo "pneumonia do novo coronavírus" será trocado pelo mais ameno "infecção do novo coronavírus".

A China havia relatado zero mortes por Covid por quatro dias consecutivos antes de a divulgação dos dados ser suspensa no domingo, apesar de uma análise da consultoria de saúde Airfinity estimar que o país provavelmente enfrenta 5 mil mortes diárias. Na semana passada, Pequim restringiu a definição do que pode ser classificado como uma morte pelo coronavírus, contando apenas óbitos decorrentes de pneumonia causada pela Covid ou parada respiratória.

O fim abrupto da Covid zero veio após vários sinais de que o custo de conter a altamente contagiosa variante Ômicron estava sendo alto demais. Houve vários incidentes provocados pelo confinamento de trabalhadores em fábricas, incluindo numa unidade que produz smartphones para a Apple, e protestos contra as quarentenas foram registrados no final de novembro em campi universitários e cidades como Pequim, Xangai e Cantão.

Números recentes também mostravam o impacto das restrições na economia chinesa. Dados de novembro por exemplo, mostram que as exportações em dólares caíram 8,7% em comparação com o mesmo mês em 2021, a maior variação negativa desde o início da crise sanitária. As importações encolheram 10,6%, a maior queda percentual em dois anos e meio.

Depois de se disseminar por Pequim, a Ômicron agora se espalha pelo país, desencadeando surtos em grandes centros urbanos no Sul, principalmente. Na província de Zhejiang, no Leste, estima-se que haja hoje cerca de 1 milhão de novos casos diários, números que autoridades locais afirmam poder dobrar na próxima quinzena, antes de atingirem um platô em janeiro, e que cerca de 80% dos 45 milhões de habitantes da região devem ser infectados.

As províncias de Shandong e Hubei, no centro do país, também preveem seus picos nos próximos 15 dias. A província de Jiangxi, no Leste, estima que seu pico será no início do mês que vem, enquanto na vizinha Anhui acredita-se que o pior momento seja o atual, segundo funcionários locais.

O surto também se espalha por regiões rurais, onde a assistência médica é particularmente precária, já que o sistema de saúde chinês está concentrado em grandes cidades e no litoral. A estimativa é que o país tenha menos de um leito de terapia intensiva para cada 10 mil pessoas.

Apenas em Pequim, autoridades municipais afirmam que o número de clínicas passou de 94 para 1,3 mil diante do surto mais recente. Xangai tem 2,6 mil espaços similares, e transferiu médicos de lugares menos afetados para reforçá-las.

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