O presidente da França, Emmanuel Macron, advertiu neste sábado que o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul "não é possível" se as nações da América Latina não respeitarem as normas ambientais como os europeus.
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— Um acordo com os países latino-americanos não é possível se não respeitarem os acordos de Paris (sobre o clima) como nós, e se não respeitarem as mesmas restrições ambientais e sanitárias que nós impomos aos nossos produtores — declarou Macron durante uma visita à Feira Internacional de Agricultura em Paris.
Os agricultores franceses — os criadores de gado em particular — temem a entrada no mercado comunitário de produtos agrícolas sul-americanos sujeitos a padrões de produção menos exigentes que os da UE.
— Quando as restrições são impostas aos nossos produtores, nós devemos impô-las aos alimentos que importamos, algo que não é feito de modo suficiente em nível europeu — ressaltou Macron.
UE e Mercosul anunciaram um acordo comercial em 2019, após mais de 20 anos de negociações complexas, mas o acordo ficou estagnado nos últimos anos pois o governo de Jair Bolsonaro entrou na mira da UE por violações ambientais graves, como o acentuado aumento do desmatamento, e irritou a França com embates diretos com Macron.
O tom mudou e ficou mais favorável após a volta ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, no início deste ano, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, disse que a UE pretende assinar o acordo até julho.
Em Davos, no mês passado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, conversou com o comissário europeu de Meio Ambiente, Oceano e Pesca, Virginijus Sinkevicius, para retomar o acordo bilateral. No encontro, ela reforçou o compromisso do Brasil com desmatamento zero até 2030 e a agenda de sustentabilidade.
Em encontro com o chanceler alemão, Olaf Scholz, no fim de janeiro, o próprio Lula prometeu a conclusão do processo ainda neste semestre — inclusive para atender à pressão dos uruguaios, que negociam sozinhos um tratado de livre comércio comercial com os chineses, levando tensão interna ao Mercosul. Por outro lado, Lula pressionou para abrir novas negociações sobre pontos de interesse do governo brasileiro — o PT quer reforçar o protecionismo à indústria.