O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse nesta sexta-feira, ao GLOBO, ter estranhado a reação dos Estados Unidos e de Israel contra a presença de dois navios de guerra iranianos no Porto do Rio, desde o último domingo. Amorim afirmou que o Brasil, além de ser um país soberano, mantém boas relações com o Irã.
— O Irã não é nosso inimigo. Temos relações normais, boas com o Irã, e estamos agindo de acordo com o direito marítimo internacional. É uma decisão soberana nossa — disse o ex-chanceler.
Os EUA fizeram um apelo para que o governo brasileiro não permitisse que os navios atracassem no porto. No mês passado, a embaixadora americana, Elizabeth Bagley, alertou que essas embarcações poderiam facilitar o comércio ilícito e o terrorismo, e ressaltou que nenhum país do hemisfério havia autorizado a ancoragem. Essa preocupação foi reforçada pelo Departamento de Estado dos EUA.
Já o governo israelense usou uma rede social para criticar a permissão. Na quinta-feira, o porta-voz da Chancelaria do país chamou de "perigosa e lamentável" a decisão da Marinha brasileira de aceitar as embarcações.
— Não temos razões para pensar que os navios estejam participando de uma atividade ilegal e ilegítima. Mas cada um tem o direito de pensar o que quiser. É uma reação surpreendente — afirmou Amorim.
Para evitar problemas com os EUA, o governo brasileiro adiou a permissão para a atracagem dos navios dias antes do encontro entre os presidentes Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva em Washington, no dia 10 de fevereiro. A ideia era evitar que a autorização soasse como uma provocação ao governo americano.
Inicialmente, a permissão para que os navios IRIS Makran e IRIS Dena seria para o período entre 23 e 30 de janeiro. No entanto, as embarcações só foram autorizadas a atracar no porto entre 26 de fevereiro e 3 de março. A expectativa é de que os navios deixem o país neste sábado.
Na semana passada, a Embaixada do Irã em Brasília divulgou uma nota, em uma rede social, dizendo que a presença dos navios era em comemoração aos 120 anos de relações diplomáticas com o Brasil.
"As visitas são trocadas entre as forças navais dos países amigos, a fim de cooperar para alcançar objetivos comuns, incluindo ajudar a garantir rotas de comércio marítimo e combater crimes no mar, assim como também uma troca de experiência para melhor conhecimento um do outro", diz um trecho da nota.