Com 52,1% dos votos, Humza Yousaf, até agora ministro da Saúde do governo regional da Escócia, foi eleito pelos membros do Partido Nacional Escocês (SNP), nesta segunda-feira, o primeiro líder de uma minoria étnica da sigla, que comanda a coalizão de governo (com os verdes escoceses). Filho de imigrantes, Yousaf, de 37 anos, é o primeiro muçulmano a liderar um grande partido político no Reino Unido.
Yousaf derrotou outros dois candidatos — a ministra de Finanças, Kate Forbes, e a ex-ministra de Segurança Comunitária Ash Reagan — e, nessa terça-feira, deve ser confirmado em uma votação no Parlamento como o sucessor da primeira-ministra demissionária Nicola Sturgeon, que renunciou ao cargo no mês passado, em um movimento recebido com surpresa dentro e fora da Escócia. Yousaf era o favorito e considerado o preferido de Sturgeon, de 52 anos, que deixará o poder após mais de oito anos no cargo em meio a um desgaste da campanha pela independência do país em relação ao Reino Unido.
No discurso após a votação, Yousaf prometeu sanar as divisões no partido e ganhar a confiança da população para o movimento separatista.
—Vamos ser a geração que leva a Escócia à independência — declarou.
O governo regional da Escócia, que tem 5,5 milhões de habitantes, é responsável por assuntos-chave como educação, saúde e justiça.
A designação do novo líder é também importante para o futuro do Reino Unido, onde as divisões entre suas quatro partes — Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte — se viram exacerbadas pela saída britânica da União Europeia, em 2021.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, deu os parabéns ao eleito, mas rejeitando o novo chamado pela autodeterminação. Segundo o porta-voz de Sunak, é necessário que os políticos "se concentrem nas questões mais preocupantes, baixar a inflação, diminuir o custo de vida, reduzir as filas" hospitalares, afirmando que Sunak "deseja trabalhar" com Yousaf sobre esses temas.
A campanha pela separação escocesa do Reino Unido sofreu um duro golpe no ano passado, quando a Suprema Corte britânica decidiu que os escoceses não podem fazer novo referendo sobre a independência sem o consentimento de Londres.
A proposta de autodeterminação da Escócia foi derrotada em referendo em 2014, quando apenas 45% dos escoceses votaram a favor. Mas a saída do Reino Unido da União Europeia com o Brexit, rechaçada por 62% dos escoceses, fez renascer o anseio separatista. A tendência, no entanto, perdeu força ao longo do mandato de Sturgeon: segundo uma pesquisa de 13 de março do instituto YouGov, o percentual de apoiadores da proposta independentista é de 46% — uma queda de 4 pontos percentuais em relação ao mês anterior.
Durante sua campanha eleitoral, Yousaf defendeu que o partido dedicou tempo demais criticando as falhas do governo central britânico e não fez o suficiente para criar a visão de uma Escócia independente.
Renúncia inesperada
Sturgeon anunciou sua renúncia em 15 de fevereiro causando surpresa em todos, explicando que não tinha mais a energia necessária após o desgaste de dois mandatos cujos últimos meses estiveram marcados por duros reveses.
Sua popularidade começou a cair em virtude de uma controversa lei escocesa que facilitava a transição de gênero sem aconselhamento médico e a partir dos 16 anos. A nova legislação lhe custou duras críticas de setores feministas, de quem sempre foi próxima. Em janeiro, o governo britânico bloqueou a medida, o primeiro veto em 25 anos.
No ano passado, Sturgeon enfrentou a decisão da Justiça britânica de rejeitar, por unanimidade, a possibilidade de o Parlamento autônomo do país convocar um novo referendo de independência sem a autorização do Parlamento britânico.
Os dois temas estão entre os maiores desafios que a ex-primeira-ministra deixou para o sucessor. No entanto, a líder afirmou ter "plena confiança" de que seu sucessor conseguirá levar a Escócia à independência.
Nascido em Glasgow, Yousaf fez seu juramento de cargo em inglês e em urdu ao ser eleito deputado do Parlamento escocês em 2011 em homenagem aos seus avós paternos, que imigraram do Paquistão há 60 anos.
— Não imaginavam nem em seus sonhos mais loucos que seu neto se tornaria um dia o próximo primeiro-ministro da Escócia — afirmou o político, que explicou ter sido vítima de racismo, especialmente após os atentados do 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY