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Por O Globo e agências internacionais — Taipé

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, embarcou nesta quarta-feira em uma viagem de dez dias para a América Central, onde busca reforçar laços em um momento no qual países da região trocam o apoio a Taipé por Pequim, que vê a ilha como uma província rebelde. Antes, contudo, fará uma passagem pelo aliado Estados Unidos, visita que acirra as tensões e gera ameaças de retaliação chinesa.

Tsai deixou Taiwan em direção a Nova York em um avião escoltando por caças F-16 enquanto cruzava o Pacífico. Em seguida, descerá para a América Central, mas o ponto de maior tensão de sua viagem deve ser uma escala em Los Angeles na volta, na semana que vem, onde especula-se que ela deve se encontrar com o presidente da Câmara americana, o republicano Kevin McCarthy, deputado californiano.

Em agosto do ano passado, a viagem da então presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, a Taiwan gerou a pior crise em anos no Estreito de Taiwan e foi respondida pela China com seus maiores exercícios militares da História no Estreito. A deputada foi a autoridade de maior importância do governo americano a visitar Taipé em 25 anos, mas diferentemente de McCarthy, pertencia ao mesmo Partido Democrata do presidente Joe Biden — e, portanto, foi vista por Pequim como sua representante direta.

Os democratas perderam o controle da Casa nas eleições de novembro do ano passado e McCarthy é da oposição, mas o antagonismo à China é um dos poucos tópicos em que há consenso bipartidário em Washington em meio à ameaça que a ascensão de Pequim representa para a hegemonia americana. Se confirmado, contudo, o encontro será a reunião de mais alto nível que um líder taiwanês já teve em solo americano desde que os EUA estabeleceram relações com a China em 1979.

Uma possível recepção, disse Zhu Fenglian, porta-voz do Escritório de Assuntos Relacionados a Taiwan, órgão chinês que responde a questões da ilha, seria uma "grave provocação":

— Nós nos opomos resolutamente a isso e vamos definitivamente tomar medidas para responder — disse ela, sem dar maiores detalhes. — Se ela tiver uma reunião com McCarthy, será mais uma provocação que violaria severamente o princípio de "Uma só China", prejudicaria a soberania chinesa e sua integridade territorial e sabotaria a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan.

A reunificação de Taiwan é uma meta do governo chinês desde que os nacionalistas fugiram para a ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Os americanos, por outro lado, embora tenham se comprometido com o princípio de "uma só China" — ou seja, de que o governo de Pequim é o único que verdadeiramente representa os chineses — ao reatar relações com Pequim há 44 anos, mantêm o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornecem ajuda militar à ilha.

Pouco antes de embarcar no avião, Tsai disse que a "pressão não irá conter nossa determinação de avançar pelo mundo". Seu país, disse ela, "está calmo e é autoconfiante. Não vamos ceder ou provocar".

Estratégica em frentes diferentes

Não é incomum que líderes taiwaneses viajem para os EUA — esta é a sexta desde que Tsai chegou ao poder em 2016, por exemplo. Sua última passagem, uma ida a Denver, no Colorado, em 2019, gerou reclamações do Estado chinês de que os EUA "arriscam prejudicar a relação bilateral mais importante do mundo".

— Pequim estará observando de perto e calibrará sua resposta de acordo — disse à Bloomberg Amanda Hsia, analista do Crisis Group em Taiwan. — Não digo que Pequim não vá responder bruscamente. Acho que depende de como a viagem será manejada — completou, afirmando crer que provocações de Tsai são improváveis.

Para Tsai, a viagem é estratégica também sob o ponto de vista doméstico, desejando fortalecer seu Partido Democrata Progressista (PDP) antes da eleição presidencial do ano que vem. Em segundo mandato, ela é constitucionalmente vetada de concorrer à reeleição, mas almeja reforçar a moral do partido pró-independência baseando-se na solidez dos elos com Washington e em sua projeção internacional, apesar de perder parceiros.

As passagens em Guatemala e Belize são propositais após a China estabelecer no domingo laços diplomáticos com Honduras, um dos poucos aliados que tinha. Nos últimos anos, Nicarágua, El Salvador, Panamá, República Dominicana e Costa Rica já haviam feito a troca.

Agora, apenas 13 reconhecem oficialmente a Taipé sobre Pequim, entre elas os governos guatemalteco e belizenho. Os demais aliados são o Paraguai e pequenas nações caribenhas e do Pacífico, em um momento no qual a China busca aumentar sua influência na sua vizinhança e, em menor escala, na América Latina. Na América do Sul, em particular, já é a principal parceira comercial de grande parte dos países.

O itinerário de Tsai nos EUA ainda é um incógnita, mas o Financial Times noticia que ela pode participar na quinta-feira de um evento organizado pela organização conservadora Instituto Hudson. O centro de pesquisas é bastante crítico ao Partido Comunista da China e tem o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, integrante do governo do ex-presidente Donald Trump, como um de seus integrantes.

Acirramento das tensões

A visita coincide com o acirramento das tensões sino-americanas em frentes múltiplas, da guerra econômica à disputa espacial. A relação esfriou mais em fevereiro, após os americanos derrubarem um balão chinês que afirmam ser de espionagem, o que levou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a cancelar uma viagem para Pequim.

Desde então, os chineses vêm rechaçando tentativas americanas de uma ligação entre os presidentes dos EUA, Joe Biden, e o chinês Xi Jinping, a primeira desde que se encontraram em novembro do ano passado às margens de uma cúpula do Grupo dos 20 em Bali. Na sexta, contudo, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, conversou com o principal diplomata chinês, Wang Yi, por telefone — ligação que ambos os lados mantiveram em sigilo e só veio à tona na terça.

Taiwan sinalizou que se prepara para uma possível resposta militar chinesa à viagem, com Tsai visitando soldados na cidade de Chiayi dias antes de sua viagem e o vice-ministro da Defesa, Po Horng-huei, alertando que há planos de contingência. Ainda assim, os chineses nas últimas semanas têm reduzido atividades no Estreito de Taiwan.

Nas últimas semanas, não responderam diretamente a viagens de delegações de países como República Tcheca, Alemanha e Reino Unido a Taipé, algo que em outros momentos já ocorreu. Uma retaliação excessiva também poderia ser um tiro no pé nas eleições taiwanesas, incentivando os eleitores a apoiarem o PDP.

Por parte de Pequim, a estratégia tem sido contrapôr a oposição de Tsai às boas-vindas ao rival Partido Nacionalista Chinês, o Kuomintang (KMT), que defende uma maior aproximação com os chineses. O ex-presidente Ma Ying-jeou, integrante da legenda, está em uma visita de 12 dias à China, e a sigla teve teve vitórias maciças — entre elas, na votação para a Prefeitura de Taipé — nas eleições locais de novembro do ano passado.

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