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Por O Globo e agências internacionais — Moscou

A visita de dois dias do presidente chinês, Xi Jinping, à Rússia, termina nesta terça-feira com a assinatura de 14 acordos de cooperação, em áreas que vão da economia à energia atômica, passando por mídia e pesquisa científica, dentre outras. Entre os destaques está o desejo de Moscou de usar o yuan chinês no lugar do dólar, em parte significativa de seu comércio internacional, como resposta às sanções econômicas impostas à Rússia pelos EUA e seus aliados após a invasão da Ucrânia, que completou um ano no mês passado.

— Somos a favor do uso do yuan chinês em acordos entre a Federação Russa e os países da Ásia, África e América Latina— disse o presidente russo, Vladimir Putin, ao líder chinês.

Os líderes também discutiram a construção do gasoduto Força da Sibéria 2, para ampliar a exportação de gás russo para a China. As parcerias ainda incluem um acordo sobre a produção conjunta de programas de TV, intercâmbios entre órgãos de mídia estatais e empresas estatais de energia atômica, além de uma maior colaboração em “pesquisa científica fundamental”.

— Quase todos os acordos foram fechados — anunciou Putin , especificando que, quando entrar em serviço, o gasoduto poderá encaminhar "50 bilhões de metros cúbicos de gás" para o gigante asiático.

No encontro, Putin saudou Xi pelas relações "especiais" entre ambos os países, que mostraram sua unidade frente aos ocidentais.

— As duas declarações que assinamos refletem, plenamente, a natureza especial das relações russo-chinesas, que são um modelo de verdadeira parceria e interação estratégica — disse.

Mais cedo, durante uma reunião com o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, Xi já havia reforçado que China e Rússia são "grandes potências vizinhas" e "sócias estratégicas". O presidente chinês ainda convidou Putin e o primeiro-ministro russo a visitarem a China, de acordo com a Interfax.

— Ontem, convidei o presidente Putin para visitar a China este ano, quando puder — disse Xi ao primeiro-ministro russo, ressaltando que as relações russo-chinesas continuarão sendo uma "prioridade".

A proposta de Putin de realizar parte do comércio exterior da Rússia na moeda chinesa se inscreve em um movimento tanto de Moscou como de Pequim de buscar diminuir a dependência do dólar americano nas trocas internacionais que se acentuou com a invasão da Ucrânia. Em março do ano passado, o chefe do Kremlin já tinha determinado que as compras de petróleo e gás russos por países hostis deveriam ser feitas em rublos. Em setembro passado, na cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX), a que tanto Xi como Putin compareceram, foi decidido que os países-membros (China, Rússia, Índia, Paquistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Irã) iniciariam o preparo de condições para realizar o comércio regional em outras moedas que não o dólar, que desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, tem sido a âncora das relações econômicas internacionais.

O comércio da Rússia com Ásia, África e América Latina passa de US$ 600 bilhões por ano, com alguns países dessas regiões registrando aumento acentuado após a invasão da Ucrânia. Só entre janeiro e setembro de 2022, por exemplo, o total de trocas comerciais da Rússia com a Ásia chegou a US$ 611 bilhões, com aumento de 25% nas exportações e queda de 16% nas importações em relação ao mesmo período do ano anterior. China Índia, Turquia e Cazaquistão tornaram-se os principais parceiros comerciais de Moscou, substituindo a União Europeia após a imposição de pesadas sanções à Rússia. Só com a Índia, o comércio bilateral subiu 400% em 2022. Com a África e a América Latina, os números são bem menores, mas as duas regiões juntas têm trocas comerciais de ao menos US$ 30 bilhões ao ano com Moscou.

A Ucrânia também foi um dos principais temas do encontro entre os dois líderes. Após a reunião, Putin voltou a defender a proposta de paz de Pequim de 12 pontos e disse que "o plano pode ser usado como base para um acordo sobre a Ucrânia quando o Ocidente e Kiev estiverem prontos para isso".

Há um mês, Pequim propôs suspender as sanções à Rússia e oferecer garantias de segurança em relação à Otan, ao mesmo tempo em que defendia a restauração da soberania territorial da Ucrânia, — sem esclarecer como isso se aplicaria aos territórios ucranianos anexados por Moscou.

A proposta, no entanto, foi rejeitada prontamente pela aliança militar ocidental, liderada pelos EUA. As potências ocidentais criticam a postura chinesa sobre a Ucrânia que, consideram, implica um apoio tácito de Pequim à intervenção armada de Moscou.

Em uma declaração comum assinada nesta terça-feira, após o encontro, Rússia e China também disseram estar "preocupadas" com a crescente presença da Otan na Ásia. "As (duas) partes estão muito preocupadas com o reforço crescente dos vínculos entre a Otan e os países da região Ásia-Pacífico em relação a questões militares e de segurança", indicaram Putin e Xi, acusando a aliança de "minar a paz e a estabilidade regional".

Preocupação com a Aukus

Moscou e Pequim "são contra a formação de blocos fechados exclusivos na região da Ásia-Pacífico", destacaram, denunciando "a influência negativa da estratégia dos Estados Unidos, guiada por uma mentalidade da Guerra Fria sobre a paz e estabilidade nessa região", diz a declaração.

Os dois líderes também demonstraram sua "forte preocupação" diante das eventuais "consequências e riscos para a estabilidade estratégica na região da Ásia-Pacífico", uma referência à parceria de segurança entre EUA, Austrália e Reino Unido (conhecida como Aukus) para dotar a Austrália de submarinos de propulsão nuclear. Moscou e Pequim "pedem firmemente aos membros dessa associação a cumprir estritamente seus compromissos sobre a não proliferação e a apoiar a paz regional", declararam.

Na segunda-feira, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu que a comunidade internacional "não se deixe enganar" pela postura da China e acusou o país de "fornecer cobertura diplomática à Rússia". Já Kiev, que mantém a cautela diante das intenções chinesas, pediu a Xi Jinping que "use sua influência sobre Moscou para acabar com a guerra de agressão".

Em sua primeira viagem à Rússia desde a eclosão da guerra na Ucrânia, o presidente chinês foi recebido com pompa no Kremlin, uma visita que sedimenta a cada vez mais próxima relação entre os aliados. O encontro entre os dois líderes já estava anunciado quando o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu na última sexta uma ordem de prisão contra Putin por deportações de crianças ucranianas para a Rússia.

A viagem acontece no momento em que a Rússia reorienta sua economia para a Ásia, para driblar as sanções ocidentais. A China, por sua vez, acaba de mediar um inédito acordo entre a Arábia Saudita e o Irã, dois rivais regionais históricos, que abre caminho para o restabelecimento dos laços diplomáticos após um hiato de sete anos.

Enquanto isso, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, viajou nesta terça-feira para a Ucrânia para uma visita surpresa, onde se encontrará com o presidente Volodymyr Zelensky.

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