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Por O Globo

O Papa Francisco, cujo pontificado completa dez anos nesta segunda-feira, teve o Brasil como primeiro destino internacional após ascender ao Trono de São Pedro. Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do argentino, veio ao Rio de Janeiro em julho de 2013 para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), encontro de jovens promovido pela Igreja Católica para mobilizar uma faixa etária na qual tem um número cada vez mais escassos de fiéis.

A fumaça branca anunciando Francisco como novo chefe da Igreja havia saído da chaminé da Basílica de São Pedro 131 dias antes de seu desembarque no Galeão. E se Francisco só se tornou Pontífice devido à renúncia inesperada de seu antecessor, Bento XVI — o primeiro a abdicar do cargo em quase seis séculos — sua viagem inaugural também foi uma herança do alemão.

A JMJ habitualmente ocorre de três em três anos, mas naquela ocasião havia sido antecipada para 2013 devido à Copa do Mundo que o Brasil sediaria no ano seguinte. Ao chegar no país na tarde do dia 22 de julho, uma segunda-feira, Francisco disse em uma cerimônia de recepção no Palácio da Guanabara:

— Deus quis que minha primeira viagem fosse ao Brasil — afirmou ele.

Foi uma coincidência bem-vinda: o retorno do primeiro Papa latino-americano ao seu continente natal, e o país com a maior população católica do mundo, mas com baixo número de fiéis ativos e com um crescimento rápido de outras denominações cristãs. E, na época, a euforia ao redor do Pontífice e das perspectivas de mudança na Igreja era enorme.

Para o Rio, o evento foi um teste importante para a Copa e para as Olimpíadas de 2016. Segundo o Ministério do Turismo, a JMJ trouxe a maior movimentação de turistas da História brasileira até aquele momento: ao todo, 355 mil pessoas de 175 países vieram em peregrinação ao Brasil, além de outros 220 mil viajantes brasileiros e milhões de cariocas que se juntaram às cerimônias.

Papa Francisco é recebido pela então presidente Dilma Rousseff durante desembarque no Rio — Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP
Papa Francisco é recebido pela então presidente Dilma Rousseff durante desembarque no Rio — Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

Em seu desembarque, Francisco foi recebido na base do Galeão pela então presidente Dilma Rousseff, pelo então governador Sérgio Cabral, e pelo prefeito Eduardo Paes — na época, em seu segundo mandato. De lá, ficou preso no trânsito do Rio em seu trajeto até o Centro: equívocos no esquema de trânsito fizeram com que o Pontífice ficasse preso em um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas, próximo à Central do Brasil.

O carro chegou a ser cercado por fiéis também na altura do Sambódromo e da Avenida Passos, e vários deles conseguiram encostar no religioso enquanto a comitiva se dirigia para a Catedral Metropolitana. A quebra de protocolos de um Papa afeito ao contato com os fiéis e a quebra de formalidades, contudo, foi uma das marcas de sua passagem pelo Brasil.

Fiat Idea com o Papa Francisco fica preso no trânsito no Centro do Rio e é cercado por fiéis — Foto: Reprodução/TV Globo
Fiat Idea com o Papa Francisco fica preso no trânsito no Centro do Rio e é cercado por fiéis — Foto: Reprodução/TV Globo

Francisco circulou de Papamóvel nas ruas do Centro, acompanhado por milhares de peregrinos, antes de seguir em carro fechado para o Palácio da Guanabara. Do lado de fora da sede do governo estadual, oito pessoas ficaram feridas e outras oito foram presas durante as manifestações, resquícios dos protestos de junho de 2013.

O segundo dia do Papa no Brasil foi de descanso, antes de seguir para Aparecida do Norte, onde reuniu uma multidão de aproximadamente 200 mil pessoas — apesar da chuva e da temperatura baixa — para uma missa em que alertou contra o fascínio do dinheiro, do poder e do prazer. Retornou ao Rio no mesmo dia para visitar o Hospital São Francisco de Assis da Providência de Deus, onde inaugurou uma ala para o tratamento de dependentes químicos e fez um forte discurso contra a legalização das drogas:

— Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química.

A JMJ começou no terceiro dia de Francisco no Brasil: as atividades do Campus Fidei, em Guaratiba, precisaram ser transferidos para Copacabana devido ao lamaçal. Após uma cerimônia restrita no Palácio da Cidade, onde recebeu de Paes as chaves do Rio, o Papa foi à Favela da Varginha, em Manguinhos.

Durante a tarde, o Pontífice se encontrou com jovens argentinos na Catedral Metropolitana, antes de seguir para a missa de abertura da JMJ, na Praia de Copacabana. Recepcionado como um popstar pela multidão, beijou inúmeros bebês no trajeto entre o Forte de Copacabana e o Leme, onde ficava o palco.

O quarto dia da visita papal começou ouvindo as confissões de cinco jovens na Quinta da Boa Vista. Mais tarde, Francisco se reuniu também com jovens detentos no Palácio São Joaquim, na Glória, a sede da Arquidiocese do Rio. Lá, reagiu à violência policial contra pessoas em situação de rua, afirmando:

— Violência não! Só amor! Candelária nunca mais — disse ele, referindo-se à chacina de 1993 que deixou oito jovens mortos.

Mais tarde, Francisco participou da Via Sacra acompanhada por 1,5 milhão de fiéis em Copacabana, e fez um discurso metade em português, metade em espanhol. Fazendo uma menção indireta aos protestos que eclodiram no país no mês anterior, disse que a Igreja é solidária com os jovens que perderam fé nos políticos devido à corrupção. Fez ainda um improviso pedindo orações para os 242 jovens que haviam morrido em janeiro daquele ano no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS).

O penúltimo dia do Papa no Brasil foi marcado por uma missa para religiosos na Catedral Metropolitana e por um discurso no Teatro Municipal. Lá, falou abertamente sobre as manifestações pela primeira fez, defendendo o "diálogo construtivo" como solução e afirmando que "o futuro exige a tarefa de reabilitar a política".

A JMJ chegou ao fim em 28 de julho, dia que começou com um discurso de Francisco defendendo uma grande reforma na Igreja para aumentar o diálogo com as bases e com as novas gerações — algo que o Papa vem tentando fazer com seu processo de consulta popular sobre o futuro da Igreja e a tentativa de tornar a instituição menos europeia. O ponto alto, contudo, foi a missa de Envio, que reuniu quase 3 milhões de pessoas em Copacabana.

Mais recente Próxima Papa Francisco: relembre as datas mais importantes nos dez anos de pontificado

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