Mundo
PUBLICIDADE

Por Thomas Gibbons-Neff, Lara Jakes e Eric Schmitt, The New York Times — Kiev e Washington

Os militares ucranianos estão disparando milhares de projéteis de artilharia por dia enquanto tentam controlar a cidade de Bakhmut, um ritmo que autoridades americanas e europeias dizem ser insustentável e pode comprometer uma campanha planejada para a primavera (no Hemisfério Norte, outono no Brasil) que esperam que seja decisiva.

O uso é tão intenso que o Pentágono recentemente alertou Kiev contra o desperdício de munição após vários dias de disparos ininterruptos, disseram duas autoridades dos EUA, destacando a tensão entre a decisão da Ucrânia de defender Bakhmut a todo custo e suas esperanças de retomar o território na primavera.

Com tanta coisa em jogo em uma contraofensiva ucraniana, os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enviar milhares de projéteis e foguetes ocidentais e do tipo soviético para ajudar a reforçar os suprimentos para uma próxima investida ucraniana.

Mas um alto funcionário da defesa americana descreveu isso como um “último esforço”, porque os aliados da Ucrânia não têm munição suficiente para acompanhar o ritmo dos disparos, e seus estoques estão criticamente baixos. Os fabricantes ocidentais estão aumentando a produção, mas levará muitos meses para que novos suprimentos comecem a atender a demanda.

Isso coloca Kiev em uma posição cada vez mais perigosa: suas tropas provavelmente terão uma oportunidade significativa este ano para partir para a ofensiva, repelir as forças russas e retomar as terras que foram ocupadas após o início da invasão, no ano passado. Mas eles provavelmente terão de fazer isso enquanto lutam contra a persistente falta de munição.

Para aumentar a incerteza, as baixas ucranianas foram tão graves que os comandantes terão de decidir se enviarão unidades para defender Bakhmut, no Leste, ou usá-las em uma ofensiva na primavera, disseram várias das autoridades sob condição de anonimato.

Ainda segundo elas, a artilharia se tornou a principal arma de guerra na Ucrânia, incluindo obuses e morteiros. Ambos os lados têm poderosos sistemas antiaéreos, então a luta está sendo travada em grande parte no solo. À medida que a guerra de um ano continua, um fator importante para quem persevera é qual lado tem munição e tropas suficientes.

'Escassez catastrófica de projéteis’

Estima-se que mais de 200 mil russos tenham sido feridos ou mortos desde o início da guerra. A cifra ucraniana é superior a 100 mil. A Rússia pode recrutar homens de sua população, que é cerca de três vezes maior que a da Ucrânia, mas ambos os lados estão enfrentando escassez de munição — e o Exército russo tem disparado mais que o da Ucrânia.

— Precisamos de projéteis para morteiros — disse um soldado ucraniano em Bakhmut para explicar que seu batalhão não foi reabastecido.

Outro comandante de uma brigada que foi fundamental para manter Bakhmut postou no Facebook na terça-feira que havia uma “escassez catastrófica de projéteis”. Ele descreveu um incidente no qual sua unidade desativou um avançado tanque russo T-90, mas foi proibido de disparar artilharia para destruí-lo porque “é muito caro”.

Chanceler russo é alvo de risadas ao dizer que guerra 'foi lançada' contra a Rússia

Chanceler russo é alvo de risadas ao dizer que guerra 'foi lançada' contra a Rússia

O Pentágono estimou que a Ucrânia disparava vários milhares de projéteis de artilharia por dia na linha de frente de quase 1 mil km, incluindo Bakhmut, onde as forças de Moscou controlam cerca de metade da cidade e estão invadindo as linhas de abastecimento que os ucranianos precisam para defender o resto.

Os Estados Unidos esperam produzir 90 mil projéteis de artilharia por mês, mas isso provavelmente levará dois anos. A União Europeia está reunindo recursos para fabricar e comprar cerca de um milhão de projéteis. Isso também levará tempo. E uma força-tarefa secreta britânica lidera um esforço para encontrar e comprar munição de estilo soviético, da qual a Ucrânia depende majoritariamente.

— Temos de apoiá-los mais, para fornecer mais armas — disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Egidijus Meilunas, em entrevista na quarta-feira, antes de lançar dúvidas sobre a eficácia das velhas armas da era soviética. — A melhor solução seria encontrar possibilidades de aumentar a produção nos Estados membros da Otan.

Isso não é fácil, mesmo para algumas das Forças Armadas mais avançadas do mundo. Os Estados Unidos e seus aliados não estocaram armamento na expectativa de sustentar uma guerra de artilharia. Centenas de novos tanques e veículos blindados que estão a caminho da Ucrânia certamente ajudarão no avanço das tropas, mas, sem apoio de artilharia suficiente, seu efeito será limitado.

Por enquanto, o governo americano continua confiante de que Bakhmut não esgotará a munição das tropas da Ucrânia a ponto de arruinar uma contraofensiva na primavera. Mas, quanto mais durar a batalha, mais provável é que isso mude.

— Os ucranianos estão sofrendo baixas. Não pretendo subestimar isso — disse na terça-feira John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. — Mas eles não estão sofrendo baixas no tamanho e na escala dos russos.

Os números sozinhos, porém, não contam a história de Bakhmut, o local de uma das batalhas mais sangrentas da guerra. O grupo paramilitar Wagner, apoiado pelo Kremlin, está usando unidades de ex-prisioneiros para romper as linhas ucranianas. Isso significa que soldados ucranianos experientes estão morrendo enquanto defendem a cidade contra russos menos treinados.

‘Demonstrar que valeu a pena’

Washington não estabeleceu um cronograma para a batalha nessa cidade do Leste, dizendo que apenas a Ucrânia poderia tomar uma decisão sobre recuar ou continuar lutando.

Camille Grand, especialista em defesa do Conselho Europeu de Relações Exteriores, que até ano passado era secretário-geral assistente da Otan para investimentos em defesa, disse que era politicamente importante e militarmente necessário que a Ucrânia mostrasse que defenderia seu território. Mas, afirmou, “eles precisam demonstrar que valeu a pena”.

Isso não quer dizer que não haja razões táticas para continuar o trabalho árduo em Bakhmut, já que poderia drenar os recursos da Rússia e impedir que suas tropas se dirigissem mais para o Oeste, onde poderia conseguir outro avanço para Moscou, comentou.

— Essa seria a lógica de gastar tanto sangue e munição em Bakhmut — afirmou Grand. — Por outro lado, eles foram arrastados para uma situação que, em longo prazo, joga a favor da Rússia e agora é difícil sair dela.

Mais recente Próxima Mãe de vítima brasileira da repressão na Nicarágua envia carta a Lula

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Especialistas preveem que regras sejam publicadas ainda este ano. Confira o que está para sair

Depois do CNU: Banco do Brasil, Correios e INSS, veja os concursos com edital previsto

Em 2016, com recessão e Lava-Jato, rombo chegou a R$ 155,9 bilhões. Pressão política para investir em infraestrutura preocupa analistas, que defendem regras de gestão mais rígidas

Fundos de pensão de estatais ainda têm déficit de R$ 34,8 bi e acendem alerta sobre ingerência política

Ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que Madri atendeu a um pedido de González ao conceder asilo e disse que portas estão abertas para outros opositores

Espanha não ofereceu 'contrapartida' a Maduro para retirar González Urrutia de Caracas, diz chanceler da Espanha

Dispositivos finalmente ganharão atualizações relevantes, depois de dois anos sem novidades

Além do iPhone 16: veja os novos Apple Watch e AirPods que serão lançados hoje

Suspeito do crime, Tiago Ribeiro do Espírito Santo foi preso momentos depois e autuado por feminicídio

Garota de programa é morta estrangulada em hotel no Centro do Rio

Fazendeiro receberá compensação anual de R$ 54 mil, pois a aeronave impede o plantio de grãos no terreno

Empresa aérea começa a desmontar avião preso em campo de trigo na Sibéria um ano após pouso de emergência

Gorki Starlin Oliveira conta como uma estratégia de aquisições garantiu a sobrevivência de sua empresa em meio ao colapso das grandes redes de livrarias do Brasil

‘Compramos editoras para brigar por prateleira’, diz CEO da Alta Books

Homem foi descredenciado sob a alegação de que tinha anotações criminais em seu nome

Uber é condenado a pagar R$ 40 mil a motorista de aplicativo por danos morais

Texto ainda depende de aval do presidente para ser enviado ao Congresso; proposta também prevê reduzir negativas a pedidos via LAI

Governo discute projeto para acabar com sigilo de 100 anos após críticas a Lula por veto a informações