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Por Emanuelle Bordallo e Luana Reis*

Primeiro Pontífice latino-americano da História, Papa Francisco completa uma década à frente da Igreja Católica nesta segunda-feira. Figura popular entre fiéis e não fiéis, os últimos dez anos em que esteve no comando da instituição foram marcados por importantes reformas e uma maior abertura da Igreja aos dilemas do mundo atual — apesar da resistência de grupos conservadores no Vaticano.

Mesmo sem instituir mudanças na doutrina do catolicismo, o Pontífice argentino combateu severamente crimes sexuais e financeiros na Igreja, assinou a primeira encíclica ambiental da História e trouxe mais diversidade regional para a cúpula do Vaticano. Progressista, Francisco promoveu avanços importantes para uma maior participação das mulheres na instituição, embora já tenha dado declarações difusas sobre os direitos da população LGBT.

O primeiro

A eleição de Papa Francisco em 13 de março de 2013 como sucessor de Bento XVI, após abdicar do papado, simbolizou uma série de marcos até então inéditos na Igreja Católica. Natural de Buenos Aires, onde foi arcebispo por 15 anos, é o primeiro Pontífice do Hemisfério Sul, nascido no continente americano, além de ser o único não europeu em mais de 1,2 mil anos. Ele também é o primeiro Papa de tradição jesuíta e a adotar o nome Francisco, uma homenagem a São Francisco de Assis, considerado padroeiro dos pobres — seu nome de batismo é Jorge Mario Bergoglio.

Viagem ao Brasil

Em 2013, o Papa Francisco veio ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude, em sua primeira viagem internacional como líder da Igreja Católica. Na época, o evento levou mais de 3,5 milhões de pessoas à praia de Copacabana, de acordo com números oficiais do Ministério do Turismo, sendo a maior movimentação de visitantes em uma única cidade do Brasil até hoje.

Os dez anos de mudanças do Papa Francisco

Os dez anos de mudanças do Papa Francisco

Combate à pedofilia e à corrupção

O Pontífice travou uma batalha interna contra a cultura do silêncio que por muito tempo imperou sobre as denúncias de pedofilia na Igreja, aumentando as penas para aqueles que tenham cometido crimes dessa natureza e abolindo o "sigilo pontifício", usado por líderes eclesiásticos para se omitirem diante deles. Diversos escândalos sexuais vieram à tona durante seu papado, o que levou a Igreja a pedir perdão às vítimas mais de uma vez. O Papa também instituiu medidas para frear a corrupção nas contas do Vaticano, como a proibição de investimentos em paraísos fiscais e recebimento de presentes que ultrapassem o valor de 40 euros (R$ 221).

Descentralização e diversidade no Vaticano

Tradicionalmente hierárquica, a Igreja de Francisco deu mais abertura às lideranças eclesiásticas ao redor do mundo com a convocação de sínodos periódicos e assembleias de bispos. Em 2021, o Pontífice também deu início ao maior processo de consulta popular da História, na qual convidou os 1,3 bilhão de fiéis a opinar sobre o futuro da Igreja — movimento que não foi muito bem visto pela ala mais conservadora do catolicismo. Além disso, o Papa também tem investido na mudança de perfil da cúpula do Vaticano, nomeando cardeais de regiões sub-representadas e fora do eixo europeu.

Papel diplomático

Uma das marcas do papado de Francisco, que assumiu com o objetivo de romper com o isolacionismo da Igreja com o mundo, foi o papel ativo do Vaticano na diplomacia. Em 2014, quando Raúl Castro e Barack Obama anunciaram o retorno das relações entre Cuba e os EUA, paralisadas desde 1961, ambos agradeceram à mediação de Papa Francisco que, por meses, dialogou com os líderes dos dois países. Atualmente, o Pontífice busca um caminho parecido na guerra na Ucrânia, embora seus apelos de paz ainda não tenham surtido efeito. Em entrevista ao jornal La Stampa, ele afirmou que o Vaticano está pronto para mediar e pôr fim ao conflito.

Aproximação da Igreja Ortodoxa

Em 2016, o Papa se reuniu com o líder da Igreja Ortodoxa, Cirilo I de Moscou, pela primeira vez em quase mil anos — um encontro histórico em Cuba. As igrejas, separadas desde 1054, divergem em uma série de assuntos, incluindo a supremacia do próprio Pontífice. Após a reunião, ambos assinaram uma declaração conjunta condenando a perseguição aos cristãos em diferentes partes do mundo. Um novo encontro era esperado em 2022, mas o clima esfriou com o apoio da Igreja Ortodoxa à ofensiva russa na Ucrânia.

Participação das mulheres

Ao longo do pontificado, o número de mulheres trabalhando para o Papa aumentou de 846 para 1.165, correspondendo a 23,4% da força de trabalho, segundo o Vaticano. Assim que assumiu como líder da Igreja Católica, ele já havia dito a repórteres que queria uma maior participação das mulheres, apesar de ser contra o sacerdócio feminino. Em 2021, o Pontífice alterou o Código de Direito Canônico para permitir que elas pudessem ler textos e distribuir a comunhão na missa — formalizando o que, na prática, já acontecia em algumas igrejas.

Direitos da população LGBT

– Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la? – disse Francisco a repórteres logo após deixar o Brasil, em 2013, já anunciando um tom bem menos crítico do que seus antecessores sobre o assunto.

Apesar da postura menos conservadora, colocando-se a favor da união civil entre pessoas LGBT e contra a criminalização da homossexualidade, a doutrina da Igreja Católica ainda considera a união entre indivíduos do mesmo sexo pecado – posição que reafirmou em entrevista em janeiro deste ano, ao dizer que "ser homossexual não é crime, mas é pecado". Depois, ele voltou atrás e esclareceu que se referia à prática de sexo fora do casamento.

Meio ambiente

Papa Francisco tornou a agenda ambiental uma prioridade nos últimos dez anos, presente em muitos dos seus discursos. O maior símbolo disso foi a assinatura, em 2015, da primeira encíclica sobre meio ambiente da História da Igreja, a Laudato Si', um dos maiores atos do seu pontificado. O documento foi considerado pioneiro e antecedeu o Acordo de Paris, promulgado no mesmo ano.

Crítica ao capitalismo

Em mais de uma ocasião, o Pontífice argentino teceu duras críticas ao sistema capitalista, chegando a condená-lo na encíclica Fratelli Tutti em 2020, assinada no túmulo de São Francisco de Assis. “O mercado por si só não pode resolver todos os problemas, por mais que nos façam acreditar nesse dogma da fé neoliberal”, afirmou no documento. O Papa ainda denunciou as consequências do imperialismo em diversos discursos e em viagens pela América Latina e África.

*Estagiária sob supervisão de Leda Balbino

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