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Por Janaína Figueiredo — Buenos Aires

Sem a vice-presidente Cristina Kirchner na corrida presidencial argentina — como ela própria anunciou no final do ano passado — Patricia Bullrich tornou-se a principal figura feminina da campanha pela sucessão do presidente Alberto Fernández. Aos 66 anos, a ex-ministra dos governos de Fernando de la Rúa (1999-2001) e Mauricio Macri (2015-2019), que admira o ex-presidente Jair Bolsonaro e é próxima do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), está se posicionando como uma das favoritas para as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) na coalizão opositora Juntos pela Mudança, em agosto.

Patricia, que nos anos 1970 militou na Juventude Peronista — e segundo versões negadas por ela na guerrilha peronista Montoneros — não é considerada por especialistas muito carismática, mas estabelece uma conexão forte com seus seguidores, que são cada vez em maior número, apontam analistas e pesquisas que circulam no país. Seu grande rival dentro da aliança opositora é o prefeito de Buenos Aires, Horácio Rodríguez Larreta, de perfil mais moderado e conciliador.

Perto de Bolsonaro

Fora da aliança, seu adversário no campo ideológico é o deputado e candidato Javier Milei, com quem Bullrich, diferentemente de outros da Juntos pela Mudança, não descarta futuros acordos. Milei é considerado o político de extrema direita de maior relevância na Argentina atualmente.

A pré-candidata não gosta de ser comparada com Bolsonaro, mas não nega sua admiração pelas decisões adotadas pelo ex-presidente brasileiro em matéria de segurança e economia. E, no final de março, Bullrich se reuniu em Buenos Aires com Moro, que foi à Argentina participar de um encontro de dirigentes liberais. A amizade entre ambos vem da época em que a pré-candidata era ministra da Segurança de Macri, e Moro ocupava a pasta da Justiça de Bolsonaro.

— Não gosto de ser comparada, prefiro que me definam pelo que sou. Mas algumas coisas que Bolsonaro fez me pareceram corretas, por exemplo, a redução do crime e a melhora da economia. Com outras não concordo — disse Bullrich ao GLOBO durante uma visita ao município de La Matanza, na Grande Buenos Aires, reduto peronista desde a retomada da democracia em 1983. — Integro uma coalizão que está a favor da ordem, do capitalismo com regras, de um país com instituições, no qual se respeite a democracia e haja transparência. Quando foi pergutada sobre Bolsonaro mencionou apenas iniciativas que considera positivas, sem entrar em detalhes sobre suas discordâncias com o ex-presidente.

Para ela, nas eleições presidenciais de outubro, os argentinos terão de escolher entre “a decadência do kirchnerismo, ou sair dela”:

— Fomos um dos países mais ricos do mundo e hoje estamos em decadência. O kirchnerismo só trouxe mais decadência — frisa a pré-candidata, antes de se reunir com um grupo de mulheres bullrichistas, eufóricas e vestindo camisetas amarelas com a frase “Pato 2023”, como amigos e colaboradores chamam a política.

Um dos maiores entusiastas de sua candidatura é o ex-bailarino Maximiliano Guerra, ícone do balé nacional. Para ele, “Patricia soube entender em 2020, durante a pandemia, o estado de angústia em que vivemos os argentinos”.

Contra a quarentena

Na época em que a Argentina adotou uma das quarentenas mais rígidas da região, a pré-candidata presidencial passou a desafiar abertamente o governo de Fernández. Como presidente do Proposta Republicana (Pro), partido fundado e liderado por Macri, a ex-ministra organizou marchas contra as restrições implementadas pelo governo, em momentos em que os argentinos tinham rigorosas limitações para sair de casa, e dirigentes como Bullrich elogiavam a liberdade de circular e a prioridade dada à atividade econômica no Brasil de Bolsonaro — mesmo com o custo de milhares de vidas, segundo apontam os especialistas em saúde pública.

Outra de suas colaboradoras é a advogada Silvina Márquez, que promoveu algumas das acusações por suposta corrupção contra a vice-presidente.

Esta semana, a Argentina teve dias de comoção pelo assassinato de um motorista de ônibus, e setores do kirchnerismo acusaram a pré-candidata de estar relacionada com outros motoristas que agrediram fisicamente o secretário de Segurança da província de Buenos Aires, o kirchnerista Sergio Berni. A campanha eleitoral está esquentando, e Bullrich é o principal alvo de ataques do kirchnerismo. Nos últimos dias, o kirchnerismo insistiu em vincular a pré-candidata aos motoristas, que foram presos pelos ataques a Berni. Bullrich e seus assessores negaram todas as acusações.

A pré-candidata tem fama de durona, e suas propostas assustam muitos argentinos. Bullrich defende, por exemplo, uma redução do Estado e corte de subsídios estatais num país no qual 39,2% dos habitantes vivem abaixo da linha da pobreza — 18 milhões de pessoas, de um total de 44 milhões de argentinos.

— Há anos temos programas sociais que não ajudaram em nada, e deixam as pessoas fora do mercado de trabalho [porque vivem dos subsídios estatais]. Vamos manter os programas para quem precisa — diz a pré-candidata, acusada de neoliberal por seus rivais.

Sua posição sobre os programas sociais — pilar dos governos kirchneristas — causam debate, mas são compartilhadas pela grande maioria dos dirigentes de direita e extra-direita da Argentina. O problema é como desmontar uma estrutura de ajuda social que atualmente, segundo dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (Uca), sustenta 40% das famílias urbanas argentinas.

Suas propostas são, além de enxugar um Estado que considera ineficiente, investir em educação e oferecer oportunidades para que os jovens argentinos deixem de abandonar o país. O programa de governo de Bullrich está sendo elaborado por economistas que estiveram no governo de Macri — que acabou derrotado por Fernandez e Cristina — como o ex-ministro da Produção Dante Sica, forte defensor da relação com o Brasil.

Relação com Milei

O que muitos se perguntam é o que diferencia Bullrich de Milei, com quem a oposição argentina deverá, inevitavelmente, se aliar para o segundo turno, já que especialistas indicam que, no atual cenário, ninguém tem chances de vencer no primeiro turno, marcado para 22 de outubro. Para vencer logo no primeiro turno são necessários 45% dos votos, ou 40%, com uma diferença de pelo menos 10% percentuais em relação ao segundo colocado.

Patricia e Milei se falam, confirmaram colaboradores da pré-candidata, mas opinar sobre o candidato da extrema direita incomoda a ex-ministra da Macri.

— Estou focada na minha campanha. Ele [Milei] abriu um debate importante sobre a liberdade, é uma terceira força política, que poderia chegar a ser a segunda força — comenta ela, que faz questão de frisar algumas diferenças entre ambos: — Pertenço a uma coalizão que tem partidos importantes, uma bancada de deputados e senadores que poderiam ter maioria. Nosso projeto de mudança é sustentável.

Mas também existem semelhanças, e uma delas é a proximidade com a nova direita brasileira representada pelo bolsonarismo. Depois de conversar com Moro, a pré-candidata argentina lembrou que ambos trabalharam juntos, como ministros, no combate ao narcotráfico.

Perguntada sobre como seria sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em caso de chegar à Presidência, a ex-ministra de Macri defende “relações entre países, acima de ideologias. Isso é o que interessa”.

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