Em seu último compromisso em Xangai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu as relações do Brasil com a China e voltou a alfinetar os Estados Unidos. Foi na reunião com o chefe do Partido Comunista da China (PCC) na cidade que é o centro financeiro do país, Chen Jining, na qual o presidente concluiu o primeiro dia de sua visita de Estado à China. Nesta sexta-feira, Lula terá uma agenda política cheia em Pequim, onde se reunirá com várias autoridades do Partido Comunista chinês. O ponto alto será o encontro com o presidente do país, Xi Jinping. Cerca de 20 acordos bilaterais devem ser assinados.
A imprensa só teve acesso aos primeiros minutos da reunião, o suficiente para presenciar uma calorosa troca de afagos entre os dois políticos. Lula abriu seu pronunciamento agradecendo as boas relações entre o PT e o PC chinês, lembrando que vários representantes do seu partido haviam estado recentemente em missão à China.
Em seguida, o presidente brasileiro ressaltou que vê como uma das marcas de sua relação com o país asiático a necessidade de defender o papel da China na economia global.
— A nossa relação com o governo chinês não é uma relação qualquer. Quando nós reconhecemos a China como economia de mercado, estávamos dizendo ao mundo que não queríamos que a China vivesse na clandestinidade no mundo do comércio. Queríamos que a China fosse respeitada pelo que representava para a economia mundial naquele momento — disse Lula ao líder do PC em Xangai.
Em 2004, em seu primeiro mandato, Lula anunciou que o Brasil reconheceria a China como economia de mercado durante uma visita ao país do então presidente chinês, Hu Jintao. Mas a promessa, que imporia restrições à defesa do Brasil contra práticas de concorrência desleal da China, esbarrou na resistência da indústria e no veto da Câmara de Comércio Exterior (Camex), e nunca foi inteiramente cumprida.
Diante do chefe do PC em Xangai, Lula também relembrou outro momento em que se aliou à China em sua passagem anterior na Presidência, desta vez na questão climática, quando aproveitou para criticar os EUA. Pela manhã, durante a posse de Dilma Rousseff no comando do banco dos Brics, o presidente brasileiro já havia falado em tom de desafio contra a hegemonia americana, ainda que de forma velada, ao propor alternativas ao uso do dólar no sistema financeiro mundial.
— Tivemos uma relação com a China na Conferência do Clima de Copenhague de 2009, quando os países europeus e os Estados Unidos quiseram responsabilizar a China pela poluição sem assumir sua própria responsabilidade — disse Lula.
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Num amplo salão do Hotel da Paz, um ícone da arquitetura e do imperialismo ocidental de Xangai, Lula foi recebido por Chen ao lado de vários ministros brasileiros: Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Margareth Menezes e Juscelino Filho (Comunicações), além do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Aloizio Mercadante. Foi o único compromisso do dia em que o presidente compareceu sem estar acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva.
Recém nomeado para o cargo, Chen retribuiu com palavras elogiosas a Lula. Chamou o presidente brasileiro de “um velho amigo da China” e disse que “as amizades são como o vinho, ficam melhores com o tempo". A chefia do PC de Xangai é vista como um trampolim para a ascensão política na hierarquia do poder chinês: tanto o presidente Xi Jinping como o primeiro-ministro Li Qiang exerceram o cargo antes de subir degraus rumo ao topo.
— Sempre tratamos a relação China-Brasil de uma perspectiva estratégica e de longo prazo — disse Chen. — Acreditamos que, sob a liderança estratégica dos dois chefes de Estado, nossas relações vão se aprofundar e se desenvolver ainda mais.