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Por O Globo — Xangai

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na China nesta quinta-feira com uma ampla agenda de negócios a cumprir, sem deixar de lado seus interesses geopolíticos. Após o adiamento da viagem no final do mês passado por um quadro de pneumonia leve, o mandatário brasileiro desembarcou no grande centro financeiro do país, Xangai, com uma comitiva mais enxuta que a prevista inicialmente, mas com enorme prestígio do governo e destaque na mídia estatal. Além dos 20 acordos comerciais que devem ser assinados no encontro, a viagem deve também impactar a forma como o Brasil é visto internacionalmente — seja como protagonista da agenda climática ou potencial mediador do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Direto ao ponto: como a viagem de Lula à China pode impactar o Brasil?

  • Com uma visita prevista já no primeiro dia da viagem a gigante de telecomunicações chinesa Huawei, onde conhecerá as tecnologias da empresa aplicadas a setores como educação e saúde, Lula pode ajudar na expansão de novas tecnologias no país, mas também criar rusgas com os EUA — segundo maior parceiro comercial do Brasil depois da China —, com quem disputam a hegemonia global;
  • Lula afirmou que conversará com o presidente chinês Xi Jinping sobre a sua ideia de formar um grupo de países para mediar as negociações de paz na guerra na Ucrânia — o que, caso conquiste a atenção chinesa, poderia ajudar no andamento do plano e colaborar na retomada da influência brasileira no cenário internacional;
  • Uma das agendas prioritárias do governo é colocar o Brasil como protagonista global na pauta climática e, durante a viagem, a China poderá ser uma importante aliada no processo. Entre os acordos previstos estão a assinatura de uma declaração conjunta sobre o clima e a construção da sexta linha de satélites sino-brasileiros, o CBERS-6, capaz de monitorar áreas de desmatamento mesmo em dias nublados;
  • Na economia, o Brasil pode ganhar com a retomada das conversas sobre uma parceria do Banco de Desenvolvimento da China com o BNDES, que nunca saiu do papel, que destravaria um fundo de R$ 20 bilhões para investimentos;
  • A viagem pode também gerar impactos no fluxo de exportação. Um dos objetivos de Lula é inserir outros produtos nacionais, como sorgo, gergelim e noz pecã, no mercado chinês. Em março, o governo já havia articulado a revogação de um embargo às exportações de carne bovina brasileira e a habilitação de quatro novos frigoríficos.

Huawei no centro da disputa China-EUA

No primeiro dos três dias da viagem pelo gigante asiático, a agenda de Lula começa na cerimônia de oficialização da ex-presidente Dilma Roussef no comando do Banco dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ela substituirá o diplomata Marcos Troyjo, que havia sido nomeado pelo governo Bolsonaro.

Após a posse, Lula fará uma visita a um centro de pesquisa da gigante chinesa Huawei para conhecer tecnologias da empresa aplicadas a setores como educação e saúde, informou a assessoria da Presidência. O compromisso poderá criar a primeira rusga da viagem com os Estados Unidos, que disputam a posição de maior potência hegemônica com a China. O governo americano acusa a empresa de espionagem e ameaça à segurança nacional.

Durante o leilão da rede de telefonia 5G no Brasil em 2021, sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, os EUA pressionaram para que a empresa fosse excluída da disputa. Em visita do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, à Brasilia, ele alertou sobre uma eventual escassez de chips, com consequências para os consumidores brasileiros. O Brasil, contudo, optou por liberar a participação da Huawei, mas pontou a necessidade das empresas vencedoras criarem uma rede privativa para atender ao governo federal.

Para Pequim, no entanto, expandir a atuação da Huawei no Brasil seria uma oportunidade de crescimento mútuo e cooperação Sul-Sul — considerando o interesse do país na América Latina como mercado para suas empresas de tecnologia e de bens de consumo. Em contrapartida, Washington vê o movimento como uma tentativa chinesa de aumentar seu domínio sobre a região.

Guerra na Ucrânia

Na sexta-feira, o chefe de Estado brasileiro viajará para Pequim para um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, que visitou Moscou em março. Lula já mencionou em outras ocasiões que pretende tratar na conversa com o mandatário chinês sobre possíveis caminhos para a paz entre Rússia e Ucrânia, chegando a dizer que era hora de Xi "pôr a mão na massa" para resolver a disputa geopolítica.

Após o comentário de Lula, Xi anunciou um plano de paz de 12 pontos para o conflito russo-ucraniano, lançado no 1º aniversário da guerra, em 24 de fevereiro. A iniciativa pede um cessar-fogo, defende a integridade territorial — sem esclarecer como isso se aplicaria aos territórios ucranianos anexados por Moscou — e oferece benefícios à Rússia com a suspensão das sanções.

Desde janeiro, quando o premier alemão Olaf Scholz visitou o Brasil, Lula defende a criação de um grupo de mediação formado por países dispostos a negociar um cessar-fogo, sem detalhar como funcionaria na prática. No início do mês, o presidente afirmou que foi um erro estratégico por parte dos países desenvolvidos não gastarem "muito tempo" nas negociações de paz logo no início da guerra, criticando a “entrada” imediata da União Europeia e dos Estados Unidos no conflito.

Protagonismo ambiental

Uma das principais agendas da viagem para o presidente — e essencial ao seu objetivo de recuperar a influência do país internacionalmente pós-Bolsonaro — é a pauta ambiental. O governo brasileiro busca a assinatura de uma declaração conjunta sobre o clima com Pequim que poderia servir de base para um acordo bilateral de cooperação e ter impactos nas articulações em fóruns internacionais. O documento também pode orientar a criação de um fundo de financiamento binacional de combate às mudanças climáticas e de iniciativas de reindustrialização sustentáveis.

— A China é hoje a maior emissora de CO2 [do mundo], mas ao mesmo tempo tem desenvolvido programas muito importantes porque sabe que isso é insustentável fisicamente e politicamente, destacou o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, em evento no Rio de Janeiro neste mês

Um dos acordos previstos é a construção da sexta linha de satélites sino-brasileiros, o CBERS-6, segundo o Planalto. A parceria entre os países começou na década de 1980 e a tecnologia foi evoluindo com o passar dos anos. O novo modelo tem como diferencial a capacidade de monitorar áreas de desmatamento em biomas como a Floresta Amazônica mesmo em dias nublados, representando um avanço em relação às linhas que operam atualmente na região.

Acordos comerciais

A viagem ainda pode ter grandes impactos na atração de investimentos e no impulso às exportações para o enorme mercado da China, que tem 1,4 bilhão de habitantes. Para isso, o governo busca, entre outras coisas, retomar um acordo de 2015 do Banco de Desenvolvimento da China com o BNDES, que nunca saiu do papel. A parceria destravaria um fundo de R$ 20 bilhões para investimentos em reconversão produtiva, segundo uma fonte ouvida pelo GLOBO.

Três dias antes da data original da viagem, no final de março, o governo já havia articulado a revogação de um embargo às exportações de carne bovina brasileira que vigorou por um mês após a identificação de um caso isolado da doença da vaca louca no Pará. A liberação também permitiu a habilitação de quatro novos frigoríficos para exportação de carne, suspensos desde 2019 por causa da pandemia.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, voltou à China a pedido de Lula após ter participado da comitiva que viajou ao país na primeira data mesmo após o adiamento do presidente. Um dos objetivos do governo brasileiro é inserir no mercado chinês outros produtos nacionais, como sorgo, gergelim e noz pecã. O último é o que tem mais chance de ser aprovado durante a visita, já que os procedimentos estão completos. O que teria maior impacto econômico seria o sorgo, usado para alimentação de animais e para a produção do aguardente nacional chinês, o baiju, informou o correspondente do GLOBO em Pequim, Marcelo Ninio.

Outro acordo comercial previsto é a inclusão do Brasil em uma lista de destinos de viagem recomendados por Pequim para estimular o turismo. Com o fim da política Covid Zero na nação asiática, a expectativa é que o setor volte a aquecer.

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