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Por Eliane Oliveira — Brasília

Após a reação de Estados Unidos e União Europeia às falas polêmicas de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia, o presidente da República moderou o tom e preferiu defender a integridade territorial do país invadido. O recuo, segundo especialistas, pode estar ligado ao pleito do Brasil para integrar o Conselho de Segurança da ONU ou ao receio diante dos recados do G7.

Com o lema de que o Brasil está de volta ao cenário internacional, Lula surpreendeu diplomatas e analistas por insistir em declarações que contrariam países ocidentais. Desde que foi eleito, o presidente foi recebido, em menos de três meses, pelos líderes das duas maiores potências do mundo — os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e o chinês Xi Jinping.

Ao passar pela China e pelos Emirados Árabes Unidos, Lula criticou, por dois dias seguidos, os EUA, a União Europeia e até os ucranianos que, segundo ele, "parecem não querer a paz".

Mas Lula voltou atrás. Durante um almoço na terça-feira com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, no Itamaraty, reforçou a posição do governo brasileiro nas Nações Unidas, de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Fez essa declaração quase ao mesmo tempo que seu assessor para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, tratou do assunto em entrevista à GloboNews. No dia anterior, o ministro russo de negócios estrangeiros, Sergei Lavrov, afirmou que seu país e o Brasil têm visões similares sobre que acontece no mundo.

Se antes o governo brasileiro ignorava as queixas emitidas por Washington, devido às críticas feitas por Lula aos EUA — ele afirmou que os americanos alimentavam a guerra no Leste Europeu — agora a mensagem é no sentido de assegurar que a política externa brasileira busca sempre a neutralidade.

O motivo para que Lula baixe o tom de suas declarações pode ser o conteúdo de carta do G7, que não citou o Brasil, mas alertou para “custos severos” para quem oferecer assistência à Rússia na invasão da Ucrânia. O documento foi assinado por EUA, Japão, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha e Itália. O presidente brasileiro foi convidado a participar de uma reunião do grupo no mês que vem.

— Os fatos e os movimentos de Lula nessa última semana ainda não estão claros. Em maio, Lula irá à reunião do G7 e aí a conversa será mais franca. Creio que pesou o comunicado do grupo. A retirada do convite ao Brasil para participar do encontro seria terrível — afirma o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Roberto Goulart Menezes.

Após as reações dos EUA e da Europa, Lula pode também ter preferido conservar as boas relações com as nações ocidentais desenvolvidas. Essa visão não é confirmada pelo Itamaraty, mas um interlocutor próximo ao Palácio do Planalto diz que o governo brasileiro gostaria que os americanos fossem mais enfáticos, como os russos, em um apoio à candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

— Tudo leva a crer que há um forte vínculo entre a busca por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU e a insistência do Brasil em ser um dos articuladores de um possível grupo da paz juntamente com a Índia — acredita Menezes.

Internamente, Lula tem sido alvo de críticas até mesmo de aliados. Esclarecer que o Brasil não abre mão da neutralidade e pode se credenciar para mediar um acordo de paz em uma guerra que acontece do outro lado do mundo pode ajudar a aplacar as críticas domésticas.

Diplomatas experientes garantem que a posição do Brasil nunca mudou. Declarações presidenciais, por mais absurdas ou surpreendentes, não são levadas tão a sério quando um país assume um posicionamento na ONU junto a outras dezenas de países. Um embaixador de um importante país, ao tentar entender o que está se passando, disse acreditar que Lula talvez quisesse agradar parte do PT, que tem restrições contra os EUA, por exemplo.

Ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa diz que o Brasil só seria retaliado se mudasse sua posição, o que não aconteceu. Ele compara Lula a seu antecessor, Jair Bolsonaro.

— Quando Bolsonaro falava, lá fora todos prestavam atenção no Itamaraty. A posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia é muito clara. Lula fala muitas coisas da boca para fora. Mas o governo só está no começo. Vamos ver o que vai acontecer até o fim do mandato — afirma Barbosa.

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