O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador anunciou finalmente na quinta-feira a venda do luxuoso avião presidencial do país ao governo do Tajiquistão por US$ 92 milhões (R$ 464 milhões), cumprindo cinco anos mais tarde uma antiga promessa de campanha. O avião tinha sido um dos adereços favoritos do mandatário para ilustrar uma suposta transformação da política mexicana. Além de se recusar a usá-lo, ele afirmava que a sua dispendiosa manutenção "contradiz a austeridade republicana".
O avião, que conta com acabamentos em mármore e um alcova presidencial no interior, foi alvo de fortes críticas do presidente mexicano, que tornou a aeronave um símbolo do desperdício do governo do seu antecessor, Peña Nieto.
Desde que assumiu a Presidência em 2018, a venda da aeronave passou a representar a busca por uma imagem mais humilde de López Obrador. No entanto, a estratégia foi perdendo força conforme as ofertas eram rejeitadas por potenciais compradores. O avião ficou mais de um ano estacionado em um hangar Califórnia, nos EUA, e retornou para o México em 2020, onde estava parado.
Em seu perfil no Twitter, López Obrador comemorou a venda do Boeing 787 Dreamliner ao governo tajique, apesar da transação ter sido concluída por um valor abaixo do estimado inicialmente, US$ 130 milhões. O presidente mexicano anunciou em vídeo publicado na rede social que o dinheiro será destinado para a construção de dois hospitais nos estados mais pobres do país, Guerrero e Oaxaca, que devem ser inaugurados antes do fim do seu mandato no ano que vem.
— Depois de muito tempo, conseguimos vender esse avião — disse López Obrador no vídeo, gravado dentro da aeronave. — Somos como pessoas recentemente ricas que compram um iate ou um avião como este e só ficam felizes no dia em que o compram e no dia em que o vendem.
A aeronave foi comprada em 2012 por US$ 220 milhões, no final do governo de Felipe Calderón (2006-2012), mas entregue durante a gestão de Enrique Peña Nieto (2012-2018) — o único que utilizou o avião em suas numerosas viagens internacionais. Ela estava à venda desde que López Obrador tomou posse em 2018.
— É importante saber como as pessoas costumavam pensar, como as autoridades agiam, como [agiam] os pequenos faraós que não devem continuar sendo permitidos — afirmou, insistindo que a cara manutenção da aeronave "contradiz a austeridade republicana" que ele exibe como pilar do seu governo. — Nós nunca o utilizamos, mas eu teria tido vergonha, digo sinceramente, de usar este avião.
O avião chegou a ser oferecido a países como a Argentina e alguns compradores privados, mas as negociações falharam porque, segundo o presidente, era "muito extravagante e muito luxuoso". López Obrador até planejou sorteá-lo em 2021, colocando bilhetes de lotaria à venda, embora no final o prêmio consistisse num montante equivalente ao preço da aeronave.
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