Mundo
PUBLICIDADE

Por O Globo e agências internacionais — Tóquio

Os chefes da diplomacia do Grupo dos Sete (G7) alertaram nesta terça-feira, após uma cúpula no Japão, para "custos severos" para quem oferecer assistência à Rússia na invasão da Ucrânia. O recado é um sinal de unidade após indícios de fissuras na aliança e um possível alerta para países como o Brasil, depois de uma série de declarações controversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foram percebidas como pró-Moscou pelas potências ocidentais.

O comunicado final ou as declarações dos chanceleres de Estados Unidos, Japão, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha e Itália, além da União Europeia (UE), fala apenas de "terceiros países" ao mencionar a possibilidade de "custos severos" e não há sugestão de que falem especificamente do Brasil. Lula, no entanto, recebeu o chanceler russo, Sergei Lavrov, na segunda em Brasília, dias após responsabilizar tanto Moscou quanto Kiev pela invasão e culpar os EUA e seus aliados pelo prolongamento do conflito.

A Casa Branca acusou Lula de "repetir a propaganda da Rússia" — algo que o chanceler Mauro Viera negou ser o caso —, a UE disse que as declarações do presidente 'não são verdade" e a Ucrânia convidou o petista a visitar Kiev para que "compreenda" a realidade da guerra. As declarações de Lula foram feitas durante sua visita à China, onde discutiu com o presidente Xi Jinping sua ideia de criar um grupo de países para mediar a paz e o plano de paz chinês de 12 pontos.

Anunciada no aniversário de um ano da guerra, em 24 de fevereiro, a iniciativa de Pequim pede um cessar-fogo, declara a defesa da integridade territorial ucraniana — sem esclarecer como — e oferece benefícios à Rússia, sua aliada. Ela foi de imediato vetada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar encabeçada por Washington, mas foi um dos pontos levantados na reunião dos últimos dois dias entre os chanceleres do G7 na cidade japonesa de Karuizawa.

Países como a França receberam positivamente os esforços chineses de encontrar uma solução pacífica, e o presidente Emmanuel Macron foi o mais recente líder europeu a ir à China, onde instou Xi a pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a negociar. O grupo continua a endossar a fórmula da paz ucraniana, que inclui a retirada total dos soldados russos do território ucraniano, mas as divergências sobre a abordagem e a fadiga ao redor de um conflito que já dura 14 meses ameaçam a coesão.

"Continuamos comprometidos com a intensificação, coordenação e a aplicação completa das sanções contra a Rússia", diz a nota, que também ataca a "retórica nuclear irresponsável" de Moscou. "Reiteramos nosso pedido para que terceiros países cessem a assistência à guerra da Rússia, ou arquem com custos severos".

Os países prometeram ainda que apoiarão a Ucrânia "pelo tempo que for necessário" durante sua luta contra os russos, reforçando seu compromisso com o envio de armas que sustentam as Forças Armadas ucranianas desde que o arsenal soviético do país se esgotou ainda nos meses iniciais da guerra. A declaração destaca em sua primeira linha o "forte senso de unidade do G7 em um momento no qual o mundo navega por graves ameaças ao sistema internacional, incluindo a contínua guerra de agressão russa contra a Ucrânia".

A menção à unidade logo no início do texto é algo que não estava presente no início do último comunicado do grupo, mas foi um adendo que chamou destaque após a visita de Macron a Pequim. Em seu voo de retorno da China, o ocupante do Palácio do Eliseu afirmou que a UE precisa criar uma política externa independente dos Estados Unidos e que Paris não é um "vassalo" dos EUA ou está disposta a ser arrastada para um conflito com os chineses devido a Taiwan.

China na mira

A reunificação de Taiwan é uma meta do governo chinês desde que os nacionalistas fugiram para a ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Os americanos, por outro lado, embora tenham se comprometido com o princípio de "uma só China" — ou seja, de que o governo de Pequim é o único que verdadeiramente representa os chineses — ao reatar relações com Pequim há 44 anos, mantêm o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornecem ajuda militar à ilha.

As declarações de Macron foram vistas como insensíveis por Washington e, segundo fontes anônimas disseram ao New York Times, que demandam maior apoio francês — nem que por "gratidão" pela ajuda americana à Ucrânia, diz a reportagem. O comunicado do G7 pede uma "resolução pacífica" para a questão taiwanssa e diz que "não houve mudança nas posições básicas dos membros do G7". O adendo é uma resposta às alegações chinesas de que os EUA tentam mudar o status quo, mas a retórica é notoriamente mais amena que a vista em Washington.

Os ministros também dizem reconhecer a importância de "se engajar francamente" com Pequim e critica o crescente arsenal nuclear chinês, menor apenas que o russo e o americano.

Os EUA há muito procuram envolver a China em negociações sobre suas armas nucleares, sem sucesso. Pequim, por sua vez, acusa os EUA de exagerarem na retórica de ameaça como uma justificativa para aumentarem seu próprio estoque, argumentando que sua política é defensiva e que só lançarão mão dos armamentos caso alguém use a tecnologia primeiro contra os chineses.

— Países pelo mundo esperam que nós administremos nossa relação com a China de forma responsável , e isso começa por linhas de comunicação — disse Antony Blinken, secretário de Estado americano. — Minha expectativa é que nós consigamos avançar nisso, mas é necessário que a China deixe claro suas intenções.

Na área econômica, embora sem citar diretamente a potência asiática, defenderam o aumento da cooperação contra a “coerção econômica”, em referência à prática de instrumentalizar as regras de importação e exportação para fins políticos. Em resposta a reunião, a Chancelaria chinesa disse que o comunicado do G7 está "cheio de arrogância e preconceito".

— Independentemente da posição solene da China e dos fatos objetivos, a reunião dos chanceleres do G7 interferiu grosseiramente em assuntos internos chineses e maliciosamente caluniou e descreditou a China — disse o porta-voz Wang Wenbin, antes de acusar integrantes do G7 de serem "alheios aos princípios da economia de mercado". — A China está comprometida em fornecer um ambiente de negócios estável, justo, transparente e previsível para investidores estrangeiros.

Geopolítica internacional

Os EUA têm reuniões de alto nível com Pequim desde que o presidente Joe Biden se encontrou com Xi em novembro, às margens da reunião do G20 em Bali. Blinken tinha uma viagem marcada para a China no início de fevereiro, mas foi cancelada em meio ao imbróglio causado pelo suposto balão de espionagem chinês abatido no espaço aéreo americano.

A situação só piorou após o encontro sem precedentes da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, com o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, em Los Angeles. A China, em resposta, fez exercícios militares nos arredores da ilha.

O encontro de ministros do G7 desta semana prepara o terreno para a cúpula dos líderes, no próximo mês em Hiroshima, onde o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, quer fazer do desarmamento nuclear uma prioridade. Lula foi convidado para participar do evento e deve ir ao Japão.

Os chanceleres também se pronunciaram sobre outras questões da geopolítica internacional. No comunicado conjunto, pediram à Coreia do Norte que "se abstenha" de novos lançamentos de mísseis ou testes nucleares.

Em meio aos combates entre o exército e grupos paramilitares no Sudão, os signatários exortaram em sua declaração a "parar imediatamente a violência (...) e devolver o poder civil" no país africano.

Eles também condenaram as crescentes restrições impostas contra mulheres e minorias pelas autoridades do Talibã no Afeganistão, que descreveram como "abusos sistemáticos". Além disso, pediram a "reversão imediata" de "decisões inaceitáveis" do Talibã, como a proibição de mulheres trabalharem com a ONU e organizações não-governamentais no Afeganistão.

Mais recente Próxima Mauro Vieira rebate EUA e nega que Brasil propague discurso russo sobre guerra da Ucrânia

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Clube mergulhará em estudos específicos sobre o novo palco para definir produtos que irão à concorrência entre empresas interessadas, incluindo a obra em si

Após pagar por terreno, Flamengo inicia segunda fase de projeto de estádio; entenda o que será feito

Brasileiros Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb estão classificados para as semis

Olimpíadas: semifinais e finais do surfe estão adiadas; entenda motivo de tantas remarcações

Além das boas lembranças, podemos trazer inquilinos clandestinos como: bactérias, fungos, insetos e outros animais na bagagem

Voltou de viagem e vai desfazer a mala? Saiba por que você não deve fazer isso em cima da cama, segundo médicos

Sempre me pareceu muito mais difícil escrever para crianças, leitores terrivelmente atentos, inteligentes e implacáveis. Sei do que falo

Seleção do companheiro de chapa será uma das decisões mais importantes da democrata na corrida pela Casa Branca

Eleições nos EUA: Kamala deve escolher vice-presidente neste fim de semana; conheça os cotados

Britânico 'morreu' no exterior por menos de meia hora, mas sobrevive

Estudante universitário tem sensação de morte durante 25 minutos após queimadura de sol

Velejador, que estreia em Paris-2024 neste domingo, conta como conciliou medicina e kitesurf

Bruno Lobo: 'As dificuldades me davam mais força'

Iniciativa opositora de apresentar contagem paralela impede a legitimação de resultado oficial do conselho eleitoral; reversão, contudo, dependeria de pressão interna no país

Análise: Apesar de oposição mobilizar comunidade internacional contra Maduro após contagem de votos, desfecho depende de militares

Em 'Cabeça de galinha no chão de cimento', Ricardo Domeneck rememora figuras antigas, presentes em seu imaginário, para parar o tempo

Crítica: poeta volta à infância no interior para espiar paisagens esquecidas e rever pequenos pavores

Segundo os cientistas, além de um maior conhecimento sobre o planeta, o estudo permite também lançar luz sobre a evolução planetária e a estrutura interna de exoplanetas com características semelhantes

Mercúrio pode esconder camada de diamantes de até 18 km de espessura sob a superfície, aponta pesquisa