As iniciativas de Brasil e China para diminuir a influência do dólar nas relações financeiras e comerciais entre os dois países através do uso das moedas nacionais têm um impacto econômico potencial significativo, mas depende da adesão do empresariado, de acordo com a cônsul-geral da China em São Paulo, Chen Peijie.
— Há um impacto empresarial e financeiro para empresas dos dois países que certamente beneficiará a transação transnacional e facilitará o comércio e o investimento — disse Peijie na quinta-feira, durante um evento voltado para a imprensa no Consulado-Geral da China em São Paulo, na zona sul da capital.
No entanto, o impacto financeiro de fato da medida, ainda de acordo com a cônsul, depende de como a classe empresarial dos dois países vai receber a alternativa criada no campo político:
— Quem tem o direito de comentar são os comerciantes brasileiros, que se beneficiaram com esse acordo.
O acordo para transação direta entre real e renminbi (mais conhecido como yuan no Ocidente) havia sido antecipado ao fim do Seminário Econômico Brasil-China, realizado em 29 de março. Em síntese, o banco BOCOM BBM aderiu ao CIPS (China Interbank Payment System), a alternativa chinesa ao Swift (sistema de transferências interbancárias), e a sucursal brasileira do Industrial and Commercial Bank of China recebeu autorização para atuar como banco de compensação do RMB no Brasil.
De acordo com o anunciado pelo Itamaraty no contexto da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, as medidas têm por objetivo reduzir os custos de transações comerciais com o câmbio direto entre o real e o renminbi, promover o comércio bilateral e facilitar investimentos. O tema também teve espaço na declaração conjunta ao final da reunião de cúpula entre Lula e Xi Jinping.
"As duas partes manifestaram satisfação com a assinatura do memorando de entendimento entre o Ministério da Fazenda do Brasil e o Ministério das Finanças da China. Concordaram em aprofundar o diálogo na área econômico-financeira e fortalecer o comércio em moedas locais", diz o memorando.
Presidente Lula se encontra com Xi Jinping em Pequim
Entre interlocutores do governo chinês e da classe empresarial no consulado em São Paulo, o clima era de otimismo com a possibilidade de uma negociação direta. CEO do Lide China, José Ricardo dos Santos Luz Júnior afirmou que a entrada do método de pagamento no arcabouço de possibilidades simplifica as relações comerciais entre os dois países e cria uma alternativa importante — que não exclui, contudo, a negociação por meio do dólar.
— O impacto do uso da moeda é total. A gente vai fazer uma linha reta em vez de seguir nesta triangulação. Vai haver uma diminuição do custo, porque não vai ser preciso converter para o dólar e depois para o real ou para o renminbi, e você vai ter uma dinâmica muito maior, uma velocidade muito maior entre a China e o Brasil — disse.
Para Marcos Cordeiro Pires, professor de Economia Política Internacional da Unesp, o impacto da medida na prática está condicionado a como os grupos empresariais que fazem negócio com a China — muitos deles empresas (ou ligado a empresas) internacionais, com sede na Europa — vão reagir a essa nova alternativa.
— De fato, é uma mudança muito importante, mas eu imagino que quem tem muita coisa a dizer são os exportadores brasileiros. Qual a nacionalidade das empresas que são grandes exportadoras? Elas vão aceitar o pagamento de sua soja, de suas commodites, em renminbi? Essa iniciativa política é muito bem-vinda, mas depende dessa parte específica relacionada ao exportador — afirmou, acrescentando que pressões internacionais podem inibir algumas dessas empresas a utilizarem o método de pagamento.
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