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Por O Globo, The New York Times — Londres

O vice-primeiro-ministro britânico, Dominic Raab, renunciou nesta sexta-feira depois que uma investigação independente determinou que ele cometeu assédio moral contra subordinados. O escândalo complica o plano do premier Rishi Sunak de deixar para trás uma história recente de controvérsias que fizeram a popularidade do seu Partido Conservador despencar e custaram as cabeças de seus dois antecessores mais recentes.

Um dos maiores defensores do Brexit, o divórcio britânico da União Europeia, que terminou em 2021, Raab era também um grande aliado de Sunak, que chegou ao poder em outubro do ano passado com a missão de reinjetar credibilidade nos conservadores após meses de polêmicas derrubarem o premier Boris Johnson e a sucessora Liz Truss renunciar após apenas 44 dias à frente do país. Além de vice-primeiro-ministro, cargo principalmente cerimonial, era também secretário de Justiça.

"Escrevo para renunciar ao seu governo", escreveu Raab, em sua carta de demissão compartilhada no Twitter. "Pedi esta investigação e prometi renunciar se apurasse fatos de assédio, quaisquer que fossem. Acho importante respeitar minha palavra."

As oito acusações dizem respeito ao comportamento do político conservador na época em que foi chanceler, entre 2019 e 2021 e ministro do Brexit, em 2018. Tratam também de uma passagem anterior pela secretaria de Justiça, entre 2021 e 2022. Seis alegações foram descartadas pelo relatório de 38 páginas, mas em duas houve maiores constatações.

As conclusões foram resultado de 66 entrevistas, 44 registros de evidências escritas e ao menos quatro conversas com o político conservador. Quando estava na Chancelaria, diz o documento, Raab agiu de uma forma que foi "intimidadora, no sentido de uma conduta insensata e persistentemente agressiva no contexto de uma reunião de trabalho".

"Sua conduta também envolveu um abuso ou mau uso de poder de forma que prejudica ou humilha. Ele introduziu um elemento punitivo injustificada", diz o documento.

Quando liderava a Justiça, durante várias reuniões Raab "agiu de forma que era intimidadora, no sentido de ir além do necessário ou apropriado ao entregar feedbacks críticos e também insultar, no sentido de fazer comentários críticos que não eram construtivos sobre a qualidade do trabalho".

De acordo com o documento, cujo autor principal é o advogado Adam Tolley, a intenção do político não parecia ser humilhar e ele não tinha alvo específicos, mas seu estilo gerava desconforto. Cita, por exemplo, uma ocasião em que reclamou da falta de "informações básicas" de funcionários que acreditava serem resistentes às suas políticas, descrevendo alguns deles como "completamente inúteis" e "lamentáveis".

O conservador, afirma Tolley, é impaciente, trabalha de domingo a domingo e descreveu seu próprio estilo de trabalho como "inquisitivo, direto, impaciente e exigente". De segunda a quinta, trabalha "assídua e frequentemente das 7h30 até cerca de 22h", dedicando as sextas às atividades no distrito que o elegeu como deputado. Nos fins de semana, raramente tira folgas.

Sunak agradaceu ao colega pelos serviços prestados e aceitou sua renúncia "com tristeza". Segundo ele, deixar o cargo foi a decisão certa porque o correligionário havia dito que abandonaria o governo caso a investigação constatasse irregularidades.

Poucas horas depois da renúncia, Oliver Dowden, secretário de Gabinete, foi nomeado o novo vice-primeiro-ministro. A Justiça ficará sob o comando de Alex Chalk, que havia sido ministro da Defesa.

O jornal The Guardian informou em novembro que a nomeação de Raab como ministro da Justiça causou preocupação entre muitos funcionários, com alguns considerando inclusive pedir demissão. De acordo com o veículo, subordinados descreveram uma "cultura do medo" em um departamento dirigido por um "tirano", "grosseiro" e "agressivo".

O tablóide The Sun relatou que Raab jogou tomates em um ataque de raiva durante uma reunião, o que seu porta-voz negou na época.

Se a economia causa dores de cabeça para Sunak, com uma inflação anual que resiste nos dois dígitos — em março, ficou em 10,1%, a situação política também não dá trégua. Raab é o terceiro ministro a deixar o governo devido a questões éticas, sinal da dificuldade do premier de pôr em prática sua promessa de "integridade, profissionalismo e responsabilidade em todos os níveis".

Em novembro, Gavin Williamson, ministro sem pasta, renunciou devido a acusações de assédio e o surgimento de mensagens nas quais ele reclamava de não ter sido convidado para o funeral da rainha Elizabeth II. Em janeiro, Sunak teve que demitir o presidente do Partido Conservador, Nadhim Zahawi, que fazia parte do governo, após uma investigação sobre seus assuntos fiscais.

— O que eu acho que mostra é a fraqueza contínua do primeiro-ministro — disse Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista de oposição, à Sky News.

O novo escândalo chega em um momento ruim para o Partido Conservador, duas semanas antes das eleições locais que se anunciam complicadas por alguns conservadores que estão no poder há 13 anos. Se a eleição britânica fosse hoje, segundo o compilado Poll of Polls do site Politico, os trabalhistas teriam 44% das intenções de voto, contra 30% dos conservadores, margem que vem se estreitando — pouco antes de Sunak assumir, o placar chegou a 52% contra 22%.

Sunak, contudo, havia tido alguns triunfos políticos como um pacto migratório com a França e a resolução das questões fronteiriças entre a Irlanda, parte da União Europeia, e a província britânica da Irlanda do Norte, única divisa rígida entre o bloco europeu e seu ex-membro.

Raab faz parte de um grupo de jovens políticos que ganharam notoriedade em meio ao debate do Brexit, tornando-se uma das principais vozes favoráveis ao divórcio. Levado ao Gabinete pela então premier Theresa May, renunciou ao cargo de secretário do Brexit em novembro de 2018 em repúdio às propostas da premier para o rompimento, que considerava insuficientes.

Depois de uma candidatura malsucedida para líder do Partido Conservador em 2019, Raab apoiou Boris Johnson e foi recompensado com a Chancelaria. Ele teve um momento sob os holofotes quando Boris foi internado com um quadro grave de Covid, substituindo-o temporariamente em Downing Street.

Em 2021, Raab foi duramente criticado por passar férias em uma ilha grega durante a caótica retirada das tropas britânicas e americanas do Afeganistão após 20 anos de invasão. Quando Boris foi forçado a deixar o cargo de primeiro-ministro em julho passado, Raab apoiou Sunak em detrimento de Liz Truss, que acabou vencendo e jogando-o no limbo político.

Sua sorte voltou, contudo, quando Truss foi forçada a renunciar 44 dias após assumir, e Sunak finalmente chegou ao governo. Além da Justiça, deu-lhe o cargo de vice-premier, título não remunerado e amplamente honorário que não vem com o direito automático de suceder ao primeiro-ministro.

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