O Chile anunciou nesta quinta-feira que dará início à operação de repatriamento de centenas de venezuelanos que há semanas estão retidos na fronteira do país com o Peru, que endureceu os controles migratórios sob a gestão da presidente Dina Boluarte. No domingo, o primeiro voo com os migrantes aterrizará em Arica, ao norte de Santiago, como parte do programa "Regresso à Pátria", conduzido pelo governo da Venezuela.
— Quero confirmar a chegada de um avião venezuelano ao aeroporto de Arica para recolher um grande grupo de migrantes que estão retidos na fronteira — disse o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alberto van Klaveren, a jornalistas em Santiago nesta quinta-feira. — Penso que este é um importante passo em frente que nos permite lidar adequadamente com esse problema humanitário — disse o diplomata.
A operação será realizada com uma companhia aérea privada e transportará centenas de venezuelanos que aguardam nos postos fronteiriços de Chacalluta, no lado chileno, e de Tacna, no Peru.
— Este é um primeiro voo, esperamos que em breve haja mais voos, mas isso é algo que teremos de discutir com o nosso homólogo venezuelano — acrescentou o chanceler chileno, sublinhando "a vontade do governo venezuelano de procurar soluções para o problema dos migrantes na fronteira ao norte".
Há mais de duas semanas que centenas de migrantes — principalmente venezuelanos, mas também haitianos e colombianos — aguardam nos postos fronteiriços do Peru e do Chile, que recentemente endureceram os controles de entrada nos países.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), cerca de 150 a 200 migrantes chegam diariamente à fronteira e ficam retidos sob o sol e frio do deserto. A organização alertou em comunicado que muitos aguardam uma decisão das autoridades "sem alimentos, água, alojamento ou assistência sanitária".
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O Peru impede a travessia dos migrantes alegando falta de documentação. O governo do país decretou estado de emergência de 60 dias nas suas fronteiras e enviou reforços militares para vigiar a região e lidar com a insegurança provocada pelos estrangeiros, segundo a presidente Dina Boluarte.
A população venezuelana no Peru, que representa quase nove em cada 10 estrangeiros, chega a quase 1,3 milhão de pessoas. Um terço não tem documentação regularizada para sua permanência, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (Inei).
Em um movimento similar, o Chile já tinha militarizado a sua fronteira numa tentativa de controlar a entrada irregular de migrantes. Além disso, o Congresso chileno aprovou leis que endurecem o controle migratório, como a prisão de qualquer migrante sem documentação e o prolongamento do período de detenção para facilitar a deportação