O príncipe Harry deve atrair boa parte da atenção durante a coroação do seu pai, o rei Charles III, no primeiro reencontro com a família real britânica desde a publicação de sua polêmica biografia e de meses de intensas críticas. O filho mais novo de Charles e da princesa Diana assistirá à cerimônia de 6 de maio na Abadia de Westminster sem sua esposa, Meghan Markle, e seus dois filhos, o príncipe Archie e a princesa Lilibet.
- Charles III: Monarca que será coroado no sábado quebra tradição da neutralidade
- Herdeiros do trono: William? Harry? Anne? George? Veja quem está na linha de sucessão
Meghan ficará em casa, na Califórnia, comemorando o quarto aniversário de Archie — e evitará possíveis momentos incômodos e constrangimentos envolvendo a família real, cada vez mais distante.
O casal criticou repetidamente a monarquia a monarquia britânica, desde que se mudou para os EUA, em 2020. Os ataques se intensificaram nos últimos meses, com a estreia de uma série na Netflix, a aparição de Harry e Meghan em entrevistas na televisão e a publicação de um livro de memórias do príncipe.
Em sua polêmica autobiografia, publicada em janeiro, Harry revelou detalhes sórdidos da família real, e acusou o irmão William, primeiro na linha de sucessão ao trono, de tê-lo agredido fisicamente durante uma discussão sobre Meghan.
O Palácio de Buckingham confirmou a presença de Harry na coroação apenas neste mês, acabando com as crescentes especulações.
— Muitos dos olhares recaírão sobre ele — disse à agência France-Presse Pauline Maclaran, da Royal Holloway University de Londres e autora de um livro sobre o impacto de Meghan na monarquia. — O povo estará fascinado pela interação entre ele e o resto da família.
Evitando escândalos
Harry esteve no Reino Unido neste ano para acompanhar as audiências de uma série de causas judiciais que move contra tabloides britânicos pelo uso de grampos telefônicos. Porém, até mesmo os documentos judiciais se converteram em um meio para expor os atritos familiares.
Em depoimentos sob juramento publicados nesta semana, o príncipe assegurou que pessoas do entorno do pai impediram sua tentativa de entrar com os processos há uma década, devido a uma "estratégia de longo prazo" com objetivo de garantir o apoio midiático para que Camilla, com quem Charles se casou em 2005, se tornasse rainha consorte.
Em suas memórias, Harry explicou que tanto ele como seu irmão pediram para que o pai não se casasse com Camilla.
Apesar disso, a tensão era evidente. E as acusações posteriores de Harry e Meghan agravaram o cenário.
Antes do funeral de Elizabeth II, em setembro do ano passado, Harry e William tentaram se mostrar unidos, saudando juntos suas respectivas esposas a pessoas reunidas perto do Palácio de Windsor.
— Todo mundo observará as interações entre Harry e William, mas deduzo que se manterão afastados, e provavelmente não haverá em nenhuma interação — afirmou Maclaran.
De acordo com a especialista em assuntos reais, Harry permanecerá em segundo plano, para evitar qualquer alvoroço.
— Não creio que haja uma reconciliação possível nestes momentos. Parece que não há vontade de resolver as coisas de verdade em nenhum dos lados.
Excluído
O rompimento das relações entre o duque e a duquesa de Sussex e o restante da família é visto como algo prejudicial à monarquia. A instituição segue tentando lidar com a perda de Elizabeth II. O respeito que a duradoura monarca impôs é considerado a chave para manter a popularidade da monarquia e afastar qualquer tentação republicana.
Entretanto, a rainha se foi em meio a rixas familiares e alegações de abuso sexual contra o príncipe Andrew, irmão de Charles. De acordo com Graham Smith, do grupo de pressão republicana, que defende um chefe de Estado eleito, muitos britânicos tem se perguntado "quem são essas pessoas".
— Eles o veem [Charles III] como parte dessa família questionável [sem contar que Harry] continua causando problemas — disse Smith em uma recente reunião com a imprensa.
- Rei, príncipes e primos: veja quem é quem na família real britânica
- Avô de Charles III: Como foi a coroação do último rei do Reino Unido, George VI
Outros argumentam que Harry e Meghan se tornaram muito impopulares ao abandonar seus deveres reais e dar entrevistas polêmicas
— O dever é o que as pessoas querem da família real e Harry não traz isso — analisou Sean Lang, professor de história da Universidade Anglia Ruskin, opinando que Charles III fez bem ao convidar o filho para a coroação, já que a outra decisão teria parecido cruel.
Lang acrescentou:
— É possível que o espetáculo da coroação (...) mostre até que ponto o príncipe Harry se excluiu da monarquia e que isso tornará o dia difícil para ele. Mas acho que muitas pessoas no Reino Unido vão achar que ele mesmo se colocou nessa situação difícil