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Por O Globo — Graivoron e Borissovka, Rússia

A região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia, sofreu vários ataques nos dois últimos dias, após a incursão de combatentes russos contrários ao presidente Vladimir Putin, que lutam ao lado dos ucranianos. Moradores dos locais sob ataque foram retirados e levados para outras áreas, enquanto as autoridades locais continuam vasculhando o território atrás dos combatentes que entraram no país pela fronteira, na madrugada de segunda-feira.

Segundo o governador regional Vyacheslav Gladkov, uma pessoa morreu. Entenda o que se sabe até agora, que grupos estão por trás do ataque, como ele ocorreu e o que isso significa para a guerra.

O que aconteceu e e onde fica Belgorod?

Duas áreas da região de Belgorod, no sudoeste da Rússia, que faz fronteira com o nordeste da Ucrânia, foram atingidas pro drones nesta terça-feira, após a incursão de “um grupo de sabotagem e reconhecimento” um dia antes. Dois grupos de cidadãos russos anti-Putin, que lutam na Ucrânia como parte das forças de defesa de Kiev — Legião da Liberdade para a Rússia (LLR) e Corpo de Voluntários Russos — reivindicaram os ataques.

Aleksey Baranovsky, representante do Centro Político da Oposição Armada Russa, com sede em Kiev — a ala política da Legião da Liberdade para a Rússia — disse à CNN que a operação começou na noite de domingo e os combates estavam “em andamento”. Ele não especificou o número de combatentes que cruzaram a fronteira para a Rússia. Segundo Baranovsky, o grupo queria “libertar nossa pátria da tirania de Putin”.

Área dos ataques — Foto: Editoria de arte
Área dos ataques — Foto: Editoria de arte

Os ataques na região se intensificaram nas últimas semanas, segundo autoridades russas. No início do mês, Gladkov afirmou que dois drones detonaram e caíram sobre uma área residencial na região. Dois prédios residenciais e um carro foram danificados. Um terceiro drone também foi abatido por sistemas de defesa aérea russos, dias depois.

Após a incursão de segunda-feira, o governador da região adotou uma série de medidas “para garantir a segurança dos cidadãos”. Nesta terça, Gladkov confirmou que as forças russas ainda estão vasculhando a área em busca dos combatentes armados que entraram no país. “A operação de busca realizada pelo Ministério da Defesa continua no distrito de Graivoron”, escreveu Gladkov no Telegram.

A fronteira da Rússia na região é bem fortificada com minas, trincheiras e barreiras. Desde o início da guerra, em fevereiro do ano passado, autoridades russas gastaram cerca de US$ 125 milhões (R$ 392 mi) para fortalecer as defesas na área de Belgorod. O governo local também estabeleceu uma unidade de defesa territorial para treinar cidadãos em táticas militares.

Quais grupos estão envolvidos?

A Legião da Liberdade para a Rússia disse no Telegram nesta terça-feira que, junto com o Corpo de Voluntários Russos, “continuam tentando libertar a região de Belgorod”. A postagem descrevia os grupos como “voluntários patriotas” e afirmava que a Rússia era vulnerável a ataques, pois “não tem reservas para responder a crises militares. Todos os militares estão mortos, feridos ou na Ucrânia”.

— Desde o primeiro dia da guerra, meu coração, o coração de um verdadeiro russo, um verdadeiro cristão, me disse que eu tinha que estar aqui para defender o povo da Ucrânia — disse César, um membro da Legião da Liberdade para a Rússia, à CNN, que concordou em não revelar seu sobrenome para proteger sua identidade. — Foi um processo muito difícil. Demorei vários meses para finalmente me juntar às fileiras dos defensores da Ucrânia.

César disse ser um dos cerca de 200 cidadãos russos que lutam atualmente ao lado das tropas ucranianas, contra o Exército de seu próprio país.

O que diz a Rússia?

Autoridades russas condenaram o ataque, mas analistas notaram uma confusão generalizada sobre como ele foi permitido e como Moscou deveria responder. Autoridades russas responsabilizaram o Exército ucraniano pela incursão, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que, mesmo que os combatentes sejam russos étnicos, são “militantes ucranianos”, cuja violência justifica uma guerra mais ampla de Moscou contra seu vizinho.

O Kremlin também tentou minimizar o incidente. À agência de notícias russa Tass, Peskov afirmou que o incidente foi uma tentativa ucraniana de “desviar a atenção da situação” em Bakhmut, cidade-chave que as forças russas reivindicaram ter capturado no fim de semana após uma batalha de quase um ano. Kiev nega.

O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, garantiu ter expulsado os militantes pró-Ucrânia para o outro lado da fronteira e que vários "sabotadores" foram mortos.

Blogueiros e especialistas russos, no entanto, reagiram com um “grau de pânico, partidarismo e incoerência, como tendem a exibir quando sofrem choques informativos significativos”, escreveu o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) em seu briefing diário sobre o conflito. “O ataque pegou os comentaristas russos de surpresa”, avaliou.

No início deste mês, o Kremlin acusou a Ucrânia de lançar um ataque com drones contra o Kremlin, a residência do presidente e sede do governo em Moscou. Dois drones teriam sido abatidos com 15 minutos de diferença pelos serviços de segurança do Estado, e Putin saiu ileso, de acordo com as autoridades russas. O presidente não estava no local no momento do incidente. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e a Casa Branca negaram qualquer envolvimento com o ataque.

E a Ucrânia?

O governo ucraniano, que normalmente segue uma política de ambiguidade deliberada sobre ataques dentro do território russo, disse que não estava por trás dos ataques. Um conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak, afirmou que Kiev estava observando os eventos em Belgorod “com interesse e estudando a situação, mas não tem nada a ver com isso”.

Já a agência de Inteligência militar da Ucrânia identificou os atacantes como “cidadãos da Rússia ligados à oposição”. Andrii Yusov, porta-voz da agência, afirmou aos meios de comunicação ucranianos que os combatentes russos estavam trabalhando para criar uma zona de segurança destinada a proteger os civis ucranianos perto da fronteira.

O que isso significará para a guerra?

É improvável que os ataques forcem uma mudança de forma mais ampla no front, que tem se concentrado principalmente nas regiões orientais da Ucrânia. O conflito está em um impasse virtual e é mais provável que seja afetado pela contraofensiva que Kiev vem preparando contra as forças russas, que já pode estar em andamento.

Mas, como nos pontos de conflito anteriores longe das linhas de frente, a incursão tem o potencial de moldar a narrativa em torno do conflito. Moscou sempre quis pintar um quadro de vitimização como pretexto para intensificar os ataques à Ucrânia. Assim, Putin poderá usar os incidentes para reforçar essa narrativa, apesar das declarações de Kiev de que não há qualquer envolvimento oficial.

É possível que uma demonstração de força de curto prazo também possa ocorrer. Depois de incidentes anteriores que envergonharam a Rússia — como o ataque com drones contra o Kremlin este mês e o bombardeio na ponte que liga a Rússia à Crimeia, em outubro — Moscou respondeu com uma enxurrada de ataques com mísseis em toda a Ucrânia, inclusive na capital, Kiev.

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