Mundo
PUBLICIDADE

Por Jeffrey Gettleman e Eric Schmitt, The New York Times — Kherson

Maryna Ivanova, uma jovem que mora em um vilarejo ribeirinho no sul da Ucrânia, teve uma sensação desconfortável quando seu noivo e seu irmão saíram para trabalhar em uma manhã no início de maio. Eles estavam indo para uma ilha próxima no Rio Dniéper, a linha de frente aquática entre as forças russas e ucranianas, e a área estava sendo fortemente bombardeada.

De pé diante do fogão, preparando carne de porco e sopa de batata, Ivanova ouviu — e sentiu — uma explosão enorme, muito mais assustadora, disse ela, do que as explosões que se tornaram rotineiras.

— Parecia que algo havia caído em cima de nós — disse ela.

Alguns minutos depois, ela ouviu gritos do lado de fora e correu para o cais. Um barco parou. Dentro estava seu irmão, encharcado de sangue. Caído ao lado dele estava o noivo dela com parte do rosto arrancado. Ambos estavam mortos.

Ela caiu de joelhos:

— Eu não podia acreditar no que estava vendo — disse ela.

O ataque não foi um morteiro, um projétil de tanque ou disparado por artilharia de longo alcance, de acordo com oficiais ucranianos que investigaram o incidente. Foi, disseram eles, uma bomba modificada de 45 kg lançada de um distante avião de guerra russo, a última reviravolta destrutiva em uma guerra que está se intensificando.

Casa destruída por bombardeio em Kharkiv. — Foto: Sergey Bobok/AFP
Casa destruída por bombardeio em Kharkiv. — Foto: Sergey Bobok/AFP

Enquanto Kiev se prepara para uma contraofensiva muito esperada, autoridades ucranianas, analistas independentes e militares americanos dizem que os russos estão aumentando o uso de bombas da era soviética. Embora tenham limitações, as armas, disseram eles, estão se mostrando mais difíceis de derrubar do que os mísseis mais rápidos e modernos que os ucranianos se tornaram hábeis em interceptar.

Grande parte dessa guerra está sendo travada com munições de longo alcance, de projéteis de artilharia a mísseis balísticos. Nas últimas semanas, os russos lançaram onda após onda de mísseis e drones explosivos em cidades ucranianas, e a Ucrânia derrubou quase todos eles.

Mas as bombas de aeronaves são diferentes. Elas não têm sistemas de propulsão como mísseis de cruzeiro nem permanecem no ar quase tanto quanto os drones. As bombas ficam no ar por apenas 70 segundos ou menos e são muito mais difíceis de rastrear pelas defesas aéreas da Ucrânia. Elas são pequenos pontos nas telas de radar que logo desaparecem após serem lançadas, disseram autoridades ucranianas, e depois atingem as aldeias.

— Esta é a evolução da guerra aérea — disse o tenente-coronel Denys Smajnyi, da força aérea ucraniana — Eles primeiro tentaram mísseis de cruzeiro e nós os abatemos. Então eles tentaram drones e nós os derrubamos. Eles estão constantemente procurando uma solução para nos atacar, e nós estamos procurando uma para interceptá-los.

— É evolução, contramedidas, evolução, contramedidas— acrescentou Smazhnyi — É um processo ininterrupto, infelizmente.

De acordo com ucranianos e os oficiais americanos, os russos adaptaram algumas das bombas com sistemas de navegação por satélite e asas que ampliam seu alcance, transformando uma arma antiquada, que Moscou tem milhares, em uma bomba planadora mais moderna.

Blogueiros militares russos se gabam das proezas das bombas deslizantes, postando vídeos e comentários desde o início de janeiro. Um analista russo forneceu informações detalhadas sobre o desenvolvimento delas na Rússia desde o início dos anos 2000 e disse que seu uso era "um passo na direção certa".

Oficiais ucranianos estão usando a ameaça dessas bombas como argumento para pressionar pelo envio de caças F-16, que os aliados devem fornecer depois que o governo Biden recuou e permitiu que pilotos ucranianos fossem treinados. Os ucranianos dizem que estão em desvantagem nos céus e que os F-16 podem afugentar aviões de guerra russos que bombardeiam suas comunidades.

F-16 dinamarquês; Ucrânia quer combater bombardeios russos com caças americanos. — Foto: Bo Amstrup/Ritzau Scanpix/AFP
F-16 dinamarquês; Ucrânia quer combater bombardeios russos com caças americanos. — Foto: Bo Amstrup/Ritzau Scanpix/AFP

— Tentar interceptar essas bombas não é eficaz. Não é nem racional — disse Yuriy Ignat, porta-voz da força aérea ucraniana — A única maneira de sair desta situação e a única maneira de pará-la é atacar os aviões que lançam essas bombas.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia têm fortes defesas aéreas no território que controlam, tornando difícil para qualquer um dos lados realizar missões de combate. Os pilotos ucranianos também têm algumas dezenas de bombas planadoras fornecidas pelos Estados Unidos, mas têm tido problemas com elas, de acordo com documentos vazados. Os russos descobriram como bloquear os sistemas de orientação, disseram os documentos classificados, e várias bombas ucranianas erraram o alvo.

Smazhnyi e outras autoridades ucranianas disseram que os russos estavam lançando uma combinação de bombas antigas, algumas modificadas e outras no formato original. As bombas planadoras são feitas com uma bomba de baixo arrasto FAB-500 M-62, uma munição soviética padrão produzida em massa, e amarrada a um kit com aletas móveis e asas pop-out, juntamente com um sistema de orientação por satélite que ajusta seu curso no meio do voo. Analistas militares disseram que as bombas modificadas custam uma pequena fração do preço de um míssil de cruzeiro, mas carregam aproximadamente a mesma quantidade de explosivos.

Os serviços de segurança da Ucrânia compartilharam fotos de bombas russas que, segundo eles, foram modificadas para planar, o que autoridades de Defesa americanas confirmaram. Os locais das fotos não puderam ser verificados de forma independente.

Poucos lugares foram tão atingidos por bombas planadoras quanto a área ao redor de Kherson, uma cidade industrial ao longo do Rio Dniéper, no sul da Ucrânia, disseram as autoridades ucranianas. À medida que a esperada contraofensiva da Ucrânia se aproxima, as tropas ucranianas estão chegando a Kherson e aldeias próximas como Veletenske, onde Ivanova morava com seu noivo, Kostiantyn Rumega

Ele tinha 19 anos, ela 20. Ele estava procurando trabalho e, na manhã de 2 de maio, um homem que dirigia uma empresa de pesca o convocou para uma ilha próxima a um rio para limpar algumas redes.

A noiva dele disse que ele não queria ir, porque já havia se metido em confusão uma vez por não ter as licenças de pesca necessárias, e era muito perigoso — os russos têm incendiado toda aquela área com um arsenal de armas.

Mas ele precisava do dinheiro, disse Ivanova, e antes de sair, demorou-se na porta:

— Naquele momento em que ele estava me beijando e se despedindo, havia tanto amor — disse ela. —Eu nunca experimentei isso antes. Parecia diferente.

Era como se ele soubesse, disse ela.

Mais recente Próxima Peru apreende 58kg de cocaína com símbolos nazistas que iriam para a Bélgica
Mais do Globo

Vítimas foram sequestradas enquanto passavam temporada no país a trabalho

Vinculado à Al Qaeda, grupo jihadista do Níger difunde vídeo de 2 'reféns russos'

Nesta semana, Khalid Sheikh Muhammad concordou em assumir culpa por ataque, que deixou quase 3 mil mortos, para evitar condenação à pena morte

EUA anulam acordo judicial com acusado de ser autor intelectual dos ataques de 11 de Setembro de 2001 e voltam a considerar pena de morte

A pedido de Mano Menezes, tricolor inicia negociação por jogador de 22 anos de idade

Fluminense envia proposta pelo atacante Emiliano Gómez, do Boston River, vice-artilheiro do Campeonato Uruguaio

Meia foi eliminado da Olimpíada nesta sexta e é aguardado no Rio até domingo

Botafogo espera Almada de volta aos treinos na segunda e quer o argentino no jogo de volta contra o Bahia

Governo federal recorreu contra decisão que havia garantido compensação para quem ocupou funções de chefia

Tribunal suspende pagamento de 'penduricalho' com impacto bilionário para servidores do TCU

Até o momento as atletas têm maior participação nos resultados brasileiros em comparação aos Jogos de Tóqui-2020

Mulheres são responsáveis por cinco das sete medalhas do Brasil após uma semana de Jogos Olímpicos

Após show de stand-up em que comentou que era criticada por sua aparência, Punkie Johnson confirma que não estará na 50ª temporada do programa

Comediante que imita Kamala Harris 
deixa programa ‘Saturday Night Live’

Advogados do prefeito de São Paulo apontam 'artimanha' com objetivo eleitoral que atinge a honra do emedebista e chegaram a pedir exclusão de vídeos, mas depois recuaram

Nunes pede inquérito contra mulher que o acusa de envolvimento com esquema em creches

Brasileira será a sexta ginasta a participar da final do salto em Paris, enquanto a americana será a quarta

Olimpíadas 2024: Rebeca Andrade vai saltar depois de Simone Biles na final deste sábado em Paris

Fortuna do fundador da Amazon encolheu US$ 15,2 bilhões com o recuo de 8,8% dos papéis

Mais ricos do mundo perdem US$ 134 bilhões com queda das ações de tecnologia, liderados por Bezos