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Por Ana Rosa Alves

RESUMO

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GERADO EM: 02/08/2024 - 10:39

Passista Pinah: Reencontro com Príncipe Charles no Carnaval.

Pinah, icônica passista da Beija-Flor, relembra dança com o príncipe Charles em 1978. Deseja reencontro com rei britânico para "firmar o negócio". Sua história no carnaval se entrelaça com triunfos da escola. Ativa em 14 títulos, é figura marcante, apesar de não ser passista. Aprecia legado e emociona-se ao ouvir hino que a eternizou.

“Pinah, ê ê ê, Pinah, a Cinderela Negra que ao príncipe encantou”. Basta Neguinho da Beija-Flor cantar o hino que embalou a escola nilopolitana no seu campeonato de 1983 para a baluarte Pinah se emocionar. Os versos antológicos eternizaram o dia em que a destaque bailou com o príncipe Charles, coroado neste sábado, firmando-se como o primeiro rei britânico a já ter participado do ziriguidum.

Charles III foi coroado ao redor do meio-dia (8h da manhã no Brasil) de sábado, exatos 240 dias após herdar automaticamente o trono britânico com a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II. A cerimônia, que durou cerca de duas horas, também entronou Camilla Parker-Bowles, e teve momentos secretos e protestos antimonarquia. Além da presença de famosos e de chefes de Estado e de governo, a coroação também ficou marcada pelo reencontro do príncipe Harry com a família real após abrir mão dos deveres reais e da publicação de sua polêmica biografia, onde expôs críticas graves aos parentes — relegado à terceira fila da Abadia de Westminster, Harry apareceu com a expressão fechada.

Quatro décadas depois, a parceira de dança deseja um reencontro com o monarca "para firmar o negócio", porque "só ficar no principado não dá". Ela por si só também é realeza, ícone da agremiação da Baixada Fluminense, e lembra com detalhes do dia 10 de março de 1978, quando o galanteador príncipe de Gales passou nove dias no Brasil.

Charles queria conhecer a festa cuja fama havia cruzado o Atlântico, e o então prefeito Marcos Tamoyo convidou a Beija-Flor para uma apresentação no Palácio da Cidade, em Botafogo. A escola havia conquistado um tricampeonato em fevereiro daquele ano sob o comando de Joãosinho Trinta, e escolheu 400 componentes para o mini-desfile pelos jardins do prédio oficial. O príncipe observaria tudo da sacada.

O respeito ao protocolo foi algo pontificado pelo carnavalesco com seus componentes — não podiam passar de um determinado ponto ou atrapalhar o cerimonial. Joãosinho Trinta, disse Pinah, era “categórico” sobre as regras britânicas.

— De repente me desce um cara desengonçado de terno, que começou a dançar. Ele deu a mão ao Joãosinho, que passou ele para mim. Nisso, eu dancei, mas sem ligar muito para quem era. Poderia ser um convidado, alguém da delegação — disse ela. — Eu dançava samba, ele dançava charleston. Foi super engraçado.

O príncipe Charles ao lado da passista Pinah, no Palácio da Cidade, em 1978 — Foto: Antonio Nery/Agência O GLOBO
O príncipe Charles ao lado da passista Pinah, no Palácio da Cidade, em 1978 — Foto: Antonio Nery/Agência O GLOBO

O carnaval era só um dos pontos na atribulada agenda da destaque naquela época: ela fazia teatro com Haroldo Costa na peça “Brasil canta e dança”. Além de viajar pelo país com a arte, trabalhava em um escritório de contabilidade. As fofocas da família real britânica e as pressões para que o príncipe galanteador se casasse logo e produzisse herdeiros reais, portanto, eram distantes.

— Minha mãe, no dia seguinte, me chamou e perguntou: “filha, o que você aprontou? Tem muita imprensa aqui na porta querendo falar com você. Uns caras falando esquisito, falando inglês”. Eu disse que não sabia o que estava acontecendo e iria lá ver. Até então, não sabia que tinha dançado com o príncipe — contou Pinah. — Com tanta recomendação que não podia chegar perto, não dava para imaginar que ele fosse sair lá da sacada.

Reencontro encaminhado

As imagens do gingado da destaque em contraste com os passos descoordenados do rei britânico marcaram a passagem de Charles pelo Brasil. Em uma entrevista coletiva dada durante sua passagem por Brasília três dias depois, o então príncipe de Gales disse que não se casaria em 1978:

— Se eu fosse ficar noivo, me casar, jamais poderia cair no samba como fiz no Rio de Janeiro outra noite — disse Charles, segundo a edição d’O Globo de 14 de março daquele ano.

Pinah nunca mais encontrou o parceiro de samba-charleston, apesar de algumas tentativas malsucedidas de uni-los durante os anos. Uma delas a levaria a Londres para encontrá-lo, mas foi suspensa quando a rainha Elizabeth II morreu em setembro do ano passado.

A dupla tem um amigo em comum, que leva notícias da baluarte para o rei e vice-versa, e orquestra um projeto para o reencontro, que ainda não tem data definida. Pinah disse, contudo, que não seria na coroação:

— É bom até que ele seja coroado antes — disse ela. — Eu até brinquei com esse meu amigo, disse: “avisa para ele [Charles] que nós dançamos quando ele era um mero príncipe. Hoje ele é rei. Tenho que dançar com o rei para firmar o negócio. Só ficar no Principado não dá.

Ícone do carnaval

O encontro com o rei britânico é só um capítulo da história de Pinah no carnaval, que se confunde com os triunfos da Beija-Flor e da própria folia. Quando Charles veio ao Brasil, ela estava há pouco tempo na escola de Nilópolis, recém-chegada do Salgueiro, onde havia desfilado — e sido campeã — com Joãosinho Trinta em 1974 e 1975.

O carnavalesco decidiu ir para a escola de Nilópolis em 1976, mas a amiga e componente decidiu não segui-lo, ficando na vermelha e branca. Quando o enredo "Sonhar com rei dá leão", uma homenagem ao jogo do bicho, deu ao grêmio da Baixada seu primeiro título, Pinah decidiu seguir o amigo, de quem lembra com carinho.

Pinah, destaque da Beija-Flor, fotografada em 2019  — Foto: Edilson Dantas
Pinah, destaque da Beija-Flor, fotografada em 2019 — Foto: Edilson Dantas

— Ele me ensinou muita coisa. Depois que eu casei e vim morar em São Paulo, a maioria dos enredos dele na Beija-Flor foram criados dentro da minha casa. Ele dizia que era o único lugar onde tinha tranquilidade para desenvolver o raciocínio sem que ninguém o encontrasse — disse ela, que é dona do Palácio Das Plumas, loja de produtos carnavalescos na capital paulista.

As mãos do amigo, ela lembra, eram mágicas, capazes de transformar papel higiênico em fantasia. Às vésperas do desfile de 1978, a escola percebeu que havia esquecido a fantasia que a destaque central e outras duas componentes que estariam do seu lado vestiriam na avenida. Desfilaram em um rolo de jérsei branco improvisado pelo carnavalesco.

Pinah foi uma figura ativa nos 14 títulos da Beija-Flor, firmando-se como uma das destaques mais marcantes do carnaval. Há uma série de referências ao longo dos anos que a chamam de passista, posto que nunca ocupou. Brincando, ela diz que "não sabe nem sambar", antes de elogiar os passos das rainhas de bateria.

— Imagina, me comparar com a Viviane Araújo [rainha do Salgueiro], a Evelyn [Bastos, rainha da Mangueira], a Lorena Raíssa [da Beija-Flor]. Eu fico apreciando e bato palmas para elas, mas não sei fazer o que elas fazem na avenida não.

Hoje Pinah prefere desfilar de diretoria, o que permite a ela andar pela avenida e ver a escola inteira passar. "Por que não mais ser destaque?" para ela é uma pergunta não muito difícil de responder: tudo tem uma época e passar o bastão é o que permite a tradição se perpetuar. O que fica é o legado, que em seu caso inclui ter o nome eternizado em um dos sambas-enredos mais bonitos da História.

De início, ela conta, foi uma surpresa ver seu nome na homenagem que a Beija-Flor fez em 1983 à Grande Constelação das Estrelas Negras — Pelé, Grande Otelo e Clementina de Jesus, por exemplo, são outros homenageados. Hoje a reação é de gratidão:

— Até hoje quando o Neguinho canta essa música me emociona — disse ela. — Eu acho que eu mereço. Deus me deu essa oportunidade em vida de ouvir e ver isso.

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