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Por Janaína Figueiredo — Buenos Aires

A visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a Brasília era esperada desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evento para o qual o chefe de Estado venezuelano foi convidado em janeiro, mas, uma vez revogada uma portaria do governo Jair Bolsonaro que impedia sua entrada ao Brasil, preferiu não comparecer.

Recompor o vínculo entre Brasil e Venezuela era uma das prioridades de Lula, estabelecida no documento elaborado pela equipe de transição em matéria de política externa, não somente porque o presidente brasileiro considera a Venezuela um importante parceiro na região, mas também porque, no atual contexto internacional marcado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, retomar o relacionamento bilateral com Caracas é estratégico na visão do presidente e de seus assessores internacionais.

Nas palavras de uma fonte que acompanha de perto as articulações políticas no continente, se o Brasil não voltar a ocupar um espaço importante na Venezuela, outros o farão. Por outros, entendam-se China, Rússia, Irã e Turquia.

Desde que o governo de Jair Bolsonaro e, antes dele, o de Michel Temer — de uma maneira menos radical — afastaram o Brasil da Venezuela, aumentou de forma expressiva a presença de outros países em um vizinho que compartilha mais de 2 mil quilômetros de fronteira com o Brasil. Isso, na visão do governo Lula, representa um enorme risco. Não estar na Venezuela implica, também, acrescentou a fonte, não saber o que, de fato, ocorre no país e não ter influência em processos políticos.

O Brasil de Lula não é o único país que modificou sua visão sobre como lidar com o governo Maduro. Depois das eleições presidenciais de 2018, cujo resultado — a reeleição de Maduro — não foi reconhecido por mais de 60 países, entre eles o Brasil de Temer, o fracasso do movimento de oposição liderado por Juan Guaidó representou um enorme dilema para todos os que se recusaram a legitimar a segunda Presidência de Maduro. O dilema se tornou ainda maior quando o Tribunal Penal Internacional (TPI) iniciou um processo preliminar de investigação sobre supostos crimes de lesa-Humanidade na Venezuela, envolvendo o chefe de Estado do país.

Para o Brasil, e os demais países que se reaproximaram de Maduro nos últimos tempos, será essencial acompanhar o processo eleitoral de 2024. O governo brasileiro aposta na realização de uma eleição justa e transparente, que derrube as críticas que ainda existem sobre a falência da democracia venezuelana, num país onde ainda existe presos políticos e denúncias de torturas em prisões controladas pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin).

A tentativa de derrubar o presidente venezuelano, encabeçada na região liderada por Bolsonaro, e também encampada pelos ex-presidentes dos Estados Unidos Donald Trump e da Colômbia Iván Duque, em aliança com Guaidó, pareceu ter chances de prosperar no primeiro semestre de 2019, mas naufragou essencialmente porque os opositores do presidente nunca conseguiram o apoio de setores expressivos da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Maduro ficou firme no poder, e seus adversários na região mantiveram o respaldo a Guaidó por inércia e falta de opção. Mas o início da guerra na Ucrânia trouxe novos contornos à dinâmica política regional.

Mercado internacional de petróleo

Em março de 2022, funcionários do governo de Joe Biden foram a Caracas, entre eles Juan González, assessor especial do presidente americano para a América Latina. Na época, um porta-voz do Departamento de Estado afirmou que a viagem teve como objetivo o bem-estar de cidadãos americanos detidos em Caracas, incluindo cinco executivos da companhia petroleira Citgo, que posteriormente obtiveram o benefício da prisão domiciliar. Foi uma primeira aproximação, que confirmou a decisão da Casa Branca de retomar o diálogo com o governo Maduro, em momentos em que a guerra entre Rússia e Ucrânia dava seus primeiros passos, ameaçando o mercado internacional de petróleo.

O resultado das eleições presidenciais no Chile, em 2021, e na Colômbia, em 2022, também favoreceram as relações entre a Venezuela de Maduro e outros governos da região. Embora crítico, o presidente chileno Gabriel Boric se dispôs a relacionar-se com Maduro e chegou a questionar publicamente a ausência do venezuelano, entre outros, na Cúpula das Américas de 2022, em Los Angeles. O colombiano Gustavo Petro é um aliado importante de Maduro, e a parceria entre ambos pôs fim a vários anos de congelamento das relações bilaterais, abrindo caminho para acordos de cooperação e troca de informações, inclusive entre as Forças Armadas de ambos os países.

Alguns governos europeus também flexibilizaram sua posição em relação ao governo Maduro, entre eles o do francês Emmanuel Macron. Na última Conferência Mundial do Clima, no Egito, Macron e Maduro conversaram rapidamente num corredor do evento, cena que o governo venezuelano divulgou em todas as suas redes sociais, como parte da campanha para mostrar que o isolamento internacional terminou.

Na região, de fato, Maduro não está mais isolado. O presidente da Venezuela foi convidado para participar da cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) em Buenos Aires, em janeiro passado, mas preferiu não viajar. Sua presença na reunião convocada por Lula para esta terça-feira não levou presidentes críticos, como o equatoriano Guillermo Lasso, mergulhado numa delicada crise interna, a cancelarem sua participação.

Para o Brasil de Lula, a Venezuela é essencial para pensar um novo projeto de integração regional ou, talvez, na reativação da União de Nações Sul-americanas (Unasul), da qual o país saiu em 2019 e para a qual retornou este ano.

Existe, ainda, o interesse comercial. Com o afastamento entre os dois países, o Brasil perdeu um enorme mercado para seus produtos. Nos anos de 2010 e 2011, o comércio bilateral atingiu cerca de US$ 6 bilhões anuais, com uma balança amplamente favorável para o Brasil. Se no ano passado o Brasil exportou em torno de US$ 700 milhões para o mercado venezuelano, em 2012 as vendas brasileiras chegaram a US$ 5 bilhões.

No trabalho intitulado “Brasil-Venezuela: evolução das relações bilaterais e implicações da crise venezuelana para a inserção regional brasileira, 1999-2021”, divulgado em novembro de 2021 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Pedro Silva Barros, que foi diretor de Assuntos Econômicos da Unasul (2015-2018) e titular da missão do Ipea em Caracas (2010-2014), defende as razões pelas quais o vínculo bilateral é importante para o Brasil. A pesquisa relembra momentos importantes do relacionamento bilateral, frisa a importância geopolítica de ter um vínculo com a Venezuela e alerta para o prejuízo econômico provocado pela ruptura de relações.

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